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Imprensa de Marrocos denuncia falta de água potável aos cidadãos

A crueldade com a ausência de água aos marroquinos foi batizada pelos jornais de "movimento da sede" - que pressiona o governo para resolver a situação

Falta de água: a polêmica não demorou muito a chegar ao Parlamento e às novas instituições oficiais do Estado (Dan Kitwood/Getty Images)
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EFE

Publicado em 14 de agosto de 2017 às 10h45.

Rabat - Cidadãos em pleno século XXI sem acesso à água potável. O fenômeno dos "sem água" se manifesta com crueldade em cidades do norte e do sul do Marrocos, um motivo a mais de descontentamento social.

Para refletir sobre sua magnitude, os jornais marroquinos batizaram a onda de manifestações como o "movimento da sede", com exemplos desde a cidade de Chauen, no norte, até Zagora, no sul, ainda que o Governo marroquino acredite que haja um certo exagero dos meios de comunicação.

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Segundo indicam os lemas das manifestações, não se trata apenas de uma crise de um recurso vital no cotidiano dos marroquinos, mas também de uma violação da Constituição, que garante o direito à água a todos os cidadãos.

A polêmica, que explodiu na rua e nos meios de comunicação, não demorou muito a chegar ao Parlamento e às novas instituições oficiais do Estado.

Por exemplo, a cidade de Zagora, com uma população de 300 mil habitantes, sofre há meses com a escassez e cortes na provisão de água devido, segundo os deputados locais, à exploração em massa do setor agrícola dos dois únicos bolsões de água que existem nesta zona à beira do deserto.

Em discurso no Parlamento, o deputado do islamita Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD) Lahsen Waari assegurou que tampouco os povoados próximos a Zagora têm água e que as autoridades destinam duas cisternas a cada semana para abastecer 13 locais na região.

O mesmo problema acontece em várias cidades do norte e do centro do país como Taunat, Chauen, Uezan e Sidi Sliman, com manifestações e passeatas de protesto dos cidadãos para defender seu direito à água potável.

Em algumas dessas cidades ressurgiu um fenômeno esquecido: comerciantes ambulantes que vendem água potável em bairros que carecem dela, como em Sidi Sliman, a apenas 110 quilômetros a nordeste de Rabat, onde cinco litros custam um dirham marroquino (10 centavos de euros).

Mas a secretária de Estado encarregada da água, Charafat Afilal, disse à Agência Efe que nem tudo o que é publicado na imprensa está certo e apontou que os episódios de escassez têm várias causas.

Por exemplo, em alguns casos a população não paga os elevados custos para vincular suas casas com a rede de água potável, o que gerou protestos em bairros com favelas.

Em outras zonas rurais - lembrou Afilal - o problema está relacionado com o atraso dos projetos de fornecimento e da diminuição das reservas devido ao aumento da demanda e da escassez de chuvas.

"Outro problema é às vezes a baixa pressão na rede. Quando o consumo é excessivo, essa pressão cai, o que impede que a água chegue até os bairros altos, e nessa situação as autoridades são obrigadas a interromper o fornecimento de água a um bairro, por exemplo, para que haja uma distribuição equilibrada", explicou Afilal.

Em Beni Melal, no centro do país, a tensão devido à falta de água derivou em confrontos entre os manifestantes e os agentes antidistúrbios.

Além da política de construção de açudes a partir dos anos 30, o Marrocos começou a buscar novas vias para o fornecimento de água, como a construção de uma usina de dessalinização em Agadir.

Tal usina, que será construída pela companhia espanhola Abengoa, será uma das maiores do mundo de dessalinização mista (para água potável e para irrigação).

A usina começará a ser construída em setembro e estará pronta em três anos, momento em que poderá fornecer 150 mil metros cúbicos diários de água potável e 100 mil para irrigação.

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