Suécia: na segunda-feira à tarde, dezenas de jovens enfrentaram a polícia quando as autoridades entraram em um bairro para deter um traficante de drogas (foto/Getty Images)
AFP
Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 17h56.
As polêmicas declarações de Donald Trump, associando imigração e criminalidade na Suécia, reavivaram indiretamente um debate no país escandinavo sobre os erros e acertos de sua política de integração.
Dois dias depois das declarações feitas pelo presidente americano na Flórida, distúrbios eclodiram em um bairro no norte de Estocolmo, onde a maioria da população descende de migrantes, derrubando a argumentação apresentada pelo governo sueco para responder ao presidente americano.
"Afinal, Trump tinha razão! Eclodiram enfrentamentos nos subúrbios de Estocolmo", afirmou a comentarista republicana Ann Coulter no Twitter.
Na segunda-feira à tarde, dezenas de jovens enfrentaram a polícia quando as autoridades entraram em um bairro para deter um traficante de drogas.
Incendiaram carros, depredaram lojas e as forças de segurança efetuaram disparos para fazê-los recuar, informou à AFP Lars Byström, porta-voz da polícia da cidade.
As imagens afetaram a resposta das autoridades suecas a Donald Trump e à emissora Fox News, que difundiu uma reportagem sobre a insegurança na Suécia na qual Trump havia se inspirado.
Para Tove Lifvendahl, editorialista do jornal Svenska Dagbladet, existe "uma pitada de realidade no que Trump diz".
"Gostemos ou não, é uma boa ocasião para nos perguntarmos se a percepção que o estrangeiro tem de nós e a nossa coincidem", escreveu nesta quarta-feira.
Os críticos de Trump ressaltam que a Suécia não sofreu atentados desde 2010, que não tem um aumento na taxa de crimes desde a acolhida de 244.000 migrantes em 2014 e 2015 - um recorde na Europa em termos relativos por número de habitantes - e que continua sendo um dos países mais seguros - e ricos - do mundo.
Embora a Suécia não tenha se livrado das dificuldades da integração da população estrangeira, está longe de sofrer as tensões intercomunitárias, as desigualdades,apobreza e a violência que os Estados Unidos vivem, destacam.
Outra visão aponta para a super-representação de pessoas de origem estrangeira nas estatísticas de criminalidade, sua baixa atividade profissional, os 300 jovens que viajaram ao Iraque e à Síria para fazer a jihad, a influência religiosa, a suposta existência de zonas sem lei...
Entre ambos, o premiê social-democrata Stefan Löfven, perguntado sobre as declarações de Trump, reconheceu que sobre a imigração, a Suécia tem "oportunidades e desafios". Sua prudência traduz um imperativo e apaziguamento, para alguns, e uma inocência culpada, para outros.
Em Rinkeby, os moradores defendem uma realidade igualmente contrastada.
Shaimaa Hakam, comerciante de 28 anos, filho de marroquinos, nasceu e cresceu neste bairro desfavorecido, mas onde seu instituto vanguardista é visitado todos os anos pelos contemplados com o prêmio Nobel.
Contador de formação, decidiu ficar no bairro onde cresceu. Seus amigos de infância são "agentes imobiliários, jornalistas, advogados. Também tenho amigos que estão na prisão. Todos crescemos juntos", explicou à AFP.
Benjamin Dousa, representante local conservador de origem turca, denuncia "distúrbios mensais, carros incendiados diariamente e a maior taxa de homicídios por arma de fogo em nível nacional" por habitante.
Mas o presidente americano se equivoca ao estigmatizar uma população por sua origem étnica ou religiosa, consideram os sociólogos Susanne Urban e Oskar Adenfelt.
A chave da integração é social e passa pelo "acesso ao Estado-providência, aos serviços sociais, ao emprego, a uma educação de qualidade, à diversidade e ao direito de ter peso na vida local", defendia na quarta-feira o jornal Dagens Nyheter.
O historiador Carl Marklund afirmava no mesmo jornal que a Suécia, "modelo para os 'liberais americanos' e os progressistas no exterior" sempre foi o "alvo de ataques favoritos da extrema direita" de todo o mundo.