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Ilha de prisão de Mandela vira local de peregrinação

Ilha Robben é testemunha do sacrifício feito por Mandela na luta contra a apartheid

Nelson Mandela em frente a sua antiga cela, onde ficou preso na Ilha Robben, durante um conferência de imprensa, na Costa da Cidade do Cabo (Paul Gilham/Getty Images)

Nelson Mandela em frente a sua antiga cela, onde ficou preso na Ilha Robben, durante um conferência de imprensa, na Costa da Cidade do Cabo (Paul Gilham/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2013 às 22h00.

Cidade do Cabo - Os visitantes fazem fila, solenemente, para entrar na Ilha Robben após meia hora de viagem de balsa desde o porto da Cidade do Cabo, atravessando uma paisagem rochosa e árida até chegar à antiga cadeia onde Nelson Mandela passou 18 anos preso.

Atualmente um museu, a Ilha Robben é testemunha do sacrifício feito por Mandela na luta contra a apartheid, o sistema de domínio da minoria branca que negou aos sul-africanos negros atendimento médico e educação decentes e privou-os dos seus direitos civis e a terra. A cela de Mandela virou um local de homenagem desde sua morte em 5 de dezembro na sua casa de Johanesburgo, aos 95 anos de idade.

“Sempre foi meu sonho vir aqui e agora meu sonho foi cumprido”, disse Gugu Nkosi, de 35 anos, vinda da cidadezinha de Nelspruit, no nordeste do país, em uma entrevista ontem enquanto estava prestes a entrar na balsa para visitar a ilha. “Se você pudesse entrar no meu coração, você veria a alegria que eu tenho. Estamos indo em memória de Mandela. Ele era tudo para nós”.

Situada a uns 7 quilômetros da costa da Cidade do Cabo, a Ilha Robben foi usada como local de punição já em meados do século XVII, quando os colonizadores holandeses a converteram em uma prisão. O local foi transformado em uma colônia de leprosos e em um hospital para pacientes com doenças mentais no século XIX e foi uma base de treinamento durante a Segunda Guerra Mundial.

Mandela passou uma quinzena na ilha em 1962, um ano depois que o regime de apartheid a converteu em uma prisão de máxima segurança, quando ele foi preso por abandonar o país ilegalmente. Ele voltou em 1964 com 46 anos de idade para cumprir uma sentença de prisão perpétua após ser condenado por sabotagem.

Guias da prisão

Ele foi encarcerado em um dos três blocos de celas de pedra de um andar com vista para um pátio de cimento. Na sua biografia “Longo caminho para a liberdades”, publicada em 1994, ele descreveu sua cela como “perpetuamente úmida” e suficientemente pequena para que ele pudesse atravessá-la em três passos.


A estrutura da prisão foi deixada intacta, o que dá aos visitantes que passeiam pelo bloco de celas, pelo pátio e pelos banheiros durante um tour de duas horas e meia, a noção das duras condições. Muitos dos guias da prisão são ex-presidiários e contam suas próprias experiências de encarceramento.

“Recebíamos todo tipo de insultos e literalmente éramos tratados como animais”, disse Fikile Bam, um advogado e juiz que passou 11 anos na ilha com Mandela e morreu em dezembro de 2011, em uma entrevista feita poucos meses antes da sua morte. “Era como se fôssemos gado, bois. Sempre nos jogavam água fria deliberadamente no meio do inverno. Soltavam os cachorros contra nós”.

No início, ordenou-se a Mandela e a outros presidiários que quebrassem rochas no pátio. Depois, eles foram postos a trabalhar em uma pedreira na ilha, talhando calcário com picaretas e pás sob o sol escaldante. O oficial comandante lhes disse que a tarefa duraria seis meses, mas eles trabalharam ali arduamente durante treze anos.

Últimos prisioneiros

Os últimos prisioneiros políticos da Ilha Robben foram libertados em 1991. O lugar virou um museu em 1997 e foi declarado Patrimônio Mundial dois anos depois, atraindo um fluxo constante de dignitários, como o presidente dos EUA, Barack Obama, o ex-presidente Bill Clinton e o falecido líder palestino Yasser Arafat, junto com dezenas de milhares de turistas.

“O mundo é grato pelos heróis da Ilha Robben, que nos lembram que não há algemas nem celas que possam igualar a força do espírito humano”, escreveu Obama em um livro de visitas após sua segunda visita ao local, em 30 de junho.

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