Histórico: ministro japonês decide tirar licença-paternidade
Favorito dos eleitores para suceder o primeiro-ministro Shinzo Abe, Shinjiro Koizumi irá aproveitar uma oportunidade raramente usada pelos homens do Japão
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 12h05.
Última atualização em 16 de janeiro de 2020 às 12h05.
O ministro do Meio Ambiente do Japão , Shinjiro Koizumi, favorito dos eleitores para suceder o primeiro-ministro Shinzo Abe, deve ser o primeiro membro do gabinete do país a tirar licença-paternidade, uma decisão aclamada pelo governo como progressista.
Koizumi, de 38 anos, disse em conferência de imprensa na quarta-feira que vai tirar duas semanas de licença-paternidade no prazo de três meses, para que não interfira em seus deveres ministeriais. O filho do ministro deve nascer neste mês, segundo informações da mídia local.
A decisão de um dos membros mais jovens na história do gabinete do país poderia contribuir para a iniciativa do Japão de incentivar mais homens a tirar licença-paternidade e, assim, dividir as responsabilidades entre membros da família. A licença parental do Japão está entre as mais generosas do mundo desenvolvido, mas raramente é usada pelos homens. Em conferência de imprensa, o principal porta-voz do governo, Yoshihide Suga, disse que sua expectativa é que a licença de Koizumi incentive outros homens a seguir o exemplo.
“A atmosfera precisa ser mudada, não apenas o sistema. Caso contrário, o número de funcionários públicos que tiram licença-paternidade não aumentará”, afirmou Koizumi.
A decisão chamou a atenção no país: “Ministro Koizumi” e “licença para cuidar dos filhos” estavam entre os “trending topics” do Twitter no Japão na quarta-feira pela manhã. A ministra da Justiça, Masako Mori, uma das poucas mulheres no gabinete de Abe, aplaudiu a decisão, dizendo que Koizumi a havia consultado.
Filho de um primeiro-ministro, Koizumi atraiu intensa cobertura da mídia desde que anunciou seu casamento com uma conhecida apresentadora de TV e foi nomeado ministro do gabinete no ano passado. Ele criticou abertamente o estigma em torno da licença-paternidade, classificando o burburinho sobre sua decisão como um sinal de que o Japão é “rígido e antiquado”.
Os pais podem tirar até um ano de licença-paternidade, mas ficar longe por tanto tempo para cuidar dos filhos é visto como tabu. Apenas 6% dos pais tiram licença-paternidade e, entre os que o fazem, cerca de 60% estão de volta às mesas de trabalho dentro de duas semanas, segundo o Ministério da Saúde. Por outro lado, mais de 80% das mulheres que trabalham e têm um filho pedem licença-maternidade, e a maioria delas retorna apenas entre 10 a 18 meses depois.
É um problema para um país que tenta evitar uma crise demográfica ao mesmo tempo em que mantém mulheres na força de trabalho para compensar o envelhecimento da população. Pessoas com 65 ou mais correspondem a mais de 28% da população; essa parcela deve subir para mais de 38% até 2065 e a população continuar diminuindo, segundo estimativas.