Hamas: o movimento palestino criticou a repressão do regime sírio, e seu então líder, Khaled Meshaal, deixou Damasco em 2012 para se estabelecer no Catar (Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
AFP
Publicado em 19 de outubro de 2022 às 12h38.
Última atualização em 19 de outubro de 2022 às 13h15.
O movimento islâmico palestino Hamas anunciou, nesta quarta-feira, 19, o restabelecimento de suas relações com o presidente sírio, Bashar al-Assad, mais de dez anos depois de tê-las rompido no início da revolta popular na Síria.
"É um dia de glória, um dia importante, no qual restabelecemos nossa presença na Síria e retomamos o trabalho conjunto" com Damasco, disse Khalil Hayya, chefe do escritório de relações árabes e islâmicas do Hamas.
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Hayya fez sua declaração em entrevista coletiva, após um encontro com o presidente sírio, que o recebeu como parte de uma delegação de facções palestinas.
O Hamas, no poder na Faixa de Gaza, era um dos aliados palestinos mais próximos de Assad, mas a relação azedou após o início da revolta popular na Síria em 2011.
O movimento palestino criticou a repressão do regime sírio, e seu então líder, Khaled Meshaal, deixou Damasco em 2012 para se estabelecer no Catar.
De acordo com um alto funcionário do Hamas consultado pela AFP, o movimento islâmico está se preparando para reabrir um escritório de representação em Damasco, como "a primeira etapa para restabelecer antigas relações".
"Concordamos com o presidente que devemos virar a página e olhar para a frente", acrescentou Khalil Hayya.
A visita a Damasco ocorreu semanas depois que o Hamas anunciou sua disposição de restabelecer as relações com o poder sírio, "à luz dos rápidos desenvolvimentos regionais e internacionais relacionados à nossa causa", uma referência implícita à reaproximação entre Israel e vários países da região, como Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
A delegação do Hamas chegou à Síria depois de passar pela Argélia, onde 14 facções palestinas, incluindo o Hamas e o movimento laico Fatah, divididos por mais de 15 anos, assinaram um novo acordo de reconciliação na última quinta-feira.
Nos últimos meses, os líderes do movimento islâmico palestino tiveram múltiplos contatos com altos funcionários sírios, com a mediação do Irã e do movimento xiita libanês Hezbollah, segundo a autoridade do Hamas.
Durante anos, o poder sírio considerou a saída do Hamas um "golpe fatal" para o relacionamento com a Síria, com alguns altos funcionários falando até em "traição".
Ao mesmo tempo, durante esse período, o Hamas manteve boas relações com o Hezbollah, um firme aliado do regime sírio.
O Hezbollah, um movimento pró-iraniano, afirmou ter desempenhado um papel importante na reconciliação entre o poder sírio e o Hamas, que considera parte do "eixo de resistência" contra Israel, e que também inclui Damasco, Teerã e grupos iraquianos.
A reunião desta quarta-feira entre o Hamas e Bashar al-Assad "faz parte da reaproximação entre o Hezbollah e o Hamas, evidente no Líbano há mais de um ano", comentou à AFP Maha Yahya, diretora do Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute.