Farc: "Entrei (na guerrilha) com vontade de que a Colômbia fosse outra Colômbia. Acho que com os acordos conseguimos um feliz termo" (John Vizcaino / Reuters)
EFE
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 18h01.
Pondores - Tilson Páez tem 54 anos e passou boa parte da vida nas Farc, organização da qual se despede neste ano, da mesma forma que os demais membros da guerrilha, com a esperança de reencontrar à família e ver a Colômbia em paz.
Estatura média, bigode bem cuidado e rosto curtido pelo sol, que o deu uma aparência de mais velho do que realmente é, ele usa um uniforme verde, boné preto com emblema do Bloco Martín Caballero - do qual é veterano - e tem um fuzil pendurado do ombro direito.
Do lado esquerdo, uma bolsa verde e marrom feita pelos índios Wayúu, do departamento de La Guajira, no norte da Colômbia, onde fica o acampamento que nos próximos meses receberá as armas a uma comissão internacional liderada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
"A reconciliação colombiana é possível", diz ele, em entrevista à Agência Efe em Pondores, paisagem remota que faz parte de Fonseca (La Guajira), aonde 210 guerrilheiros da Frente 59 das Farc chegaram ontem para dar início ao processo de desarmamento e desmobilização previsto no acordo de paz assinado com o governo em 24 de novembro.
Esse desejo de reconciliação fica evidente na saudação do chefe do Comando Estratégico de Transição, o general do Exército Javier Flórez, que acompanha a chegada dos guerrilheiros a Pondores ao lado do Alto Comissariado para a Paz, Sergio Jaramillo, e o número dois das Farc, Luciano Marín Arango, conhecido como "Ivan Márquez".
"General, sou Tilson Páez", se apresenta, em tom respeitoso e estendendo a mão ao oficial, que a aperta, ato que o faz pensar que "é possível sim fazer uma Colômbia melhor para todos".
"Tilson Páez é meu nome aqui na guerrilha", afirma, com certo receio, como a maioria dos companheiros, de revelar sua verdadeira identidade para não correr riscos quando deixar as armas e voltar à vida em sociedade.
Pela mesma razão ele também não diz onde nasceu. Só conta que é "de Magdalena, criado em Cessar", departamentos do caribe colombiano e limite com La Guajira.
"São 30 anos, mais ou menos na guerrilha", lembra ele, que entrou nas Farc muito jovem, empurrado "pela situação econômica e social".
Tilson acredita que com o acordo de paz, que começa a se tornar realidade apesar das dificuldades na implementação, especialmente na instalação das 26 zonas onde os guerrilheiros se reunirão para a desmobilização, é viável conseguir no país as mudanças que as Farc não conseguiram com a luta armada.
"Entrei (na guerrilha) com vontade de que a Colômbia fosse outra Colômbia. Acho que com os acordos conseguimos um feliz termo", argumenta.
Enquanto os demais guerrilheiros se dispersam, depois de ouvirem Jaramillo, Flórez e "Ivan Márquez" falar do futuro fora das Farc, e formam uma longa fila para receber água gelada ou refresco para matar a sede na tórrida Pondores, Tilson explica à Efe que seu principal desejo agora é procurar a família. Segundo diz, eles perderam contato há muito tempo.
"Encontrar a família com vontade de 'reconciliação', com vontade do reencontro", relata.
Sem entrar em detalhes, ele afirma que pode revelar apenas que a família está "desaparecida".
"Neste momento, não sei por onde andam", diz.
De maneira cordial, Tilson se despede e lança um comentário para ser considerado: "Os colombianos são bons, podemos nos reconciliar".