Mundo

Guaidó convoca voluntários na Venezuela para entrada de ajuda humanitária

"Não será apenas na fronteira que estará o movimento voluntário. Em todas as cidades do país, haverá concentrações para aguardar a ajuda", anunciou Guaidó

Protesto convocado pela oposição da Venezuela, liderada por Juan Guaidó, contra o bloqueio da ajuda humanitária (Rafael Hernandez/Getty Images)

Protesto convocado pela oposição da Venezuela, liderada por Juan Guaidó, contra o bloqueio da ajuda humanitária (Rafael Hernandez/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 09h53.

O líder opositor venezuelano Juan Guaidó convocou neste sábado mobilizações em toda a Venezuela em 23 de fevereiro para acompanhar as caravanas que irão dos pontos de ajuda humanitária americana no país, rejeitada pelo presidente Nicolás Maduro, que considera este o início de uma invasão militar.

Reconhecido como presidente interino por 50 países, Guaidó convocou neste sábado milhares de voluntários a se reuniram em Los Cortijos, a nordeste de Caracas, para receber instruções sobre sua colaboração no processo de entrada de remédios e alimentos no país.

"Não será apenas na fronteira que estará o movimento voluntário (brigadas de colaboradores). Em todas as cidades do país, haverá concentrações no dia 23 para aguardar a entrada da ajuda", anunciou Guaidó durante um ato no qual juramentou milhares de voluntários.

Guaidó disse que cerca de 600 mil pessoas se inscreveram como voluntárias e que as caravanas deverão ir não apenas à cidade colombiana de Cúcuta, mas também à fronteira com o Brasil e ao ponto onde chegará a de Curaçao.

Medicamentos e alimentos estão armazenados desde 7 de fevereiro na cidade colombiana de Cúcuta, perto da ponte fronteiriça de Tienditas, bloqueada por militares venezuelanos com contêineres de carga, um navio-tanque e outros obstáculos.

Outro carregamento chegou neste sábado a Cúcuta vindo de Miami (EUA) e um enviada por Porto Rico chegou na sexta-feira. Os centros de coleta em Roraima, no Brasil, e no aeroporto de Curaçao estão em processo de instalação.

Guaidó, chefe do Congresso, de maioria opositora, redobrou o chamado aos militares para que permitam a entrada de ajuda: "Vocês têm sete dias para se colocarem ao lado da Constituição e fazerem a coisa cerca", afirmou.

Maduro convocou nesta sexta-feira os militares a preparar um "plano especial de implementação" na fronteira com a Colômbia, ante o que denunciou como "planos de guerra" dos governos dos presidentes americano, Donald Trump, e colombiano, Iván Duque.

Em busca de medicamentos

A disputa entre Maduro e Guaidó se concentra atualmente na ajuda humanitária, uma questão delicada em um país que vive a pior crise de sua história moderna, com uma escassez de medicamentos e hiperinflação.

Cerca de 2,3 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015, segundo a ONU, embora o presidente socialista afirme que são cerca de 600 mil que foram "enganados".

"Eu me inscrevi porque a ajuda humanitária é urgente. Estamos fazendo mágica para conseguir remédios, e os que consigo não posso pagar. Um parente morreu por falta de antibióticos", contou, na fila, Coromoto Crespo, 58.

Maduro classifica de "migalhas de comida podre e contaminada" a ajuda, e culpa pela escassez as sanções dos Estados Unidos, que congelaram contas e ativos venezuelanos, gerando danos à economia que Caracas avalia em 30 bilhões de dólares.

Guaidó reiterou neste sábado que "a ajuda humanitária entrará sim, ou sim" em 23 de fevereiro, quando completa um mês sua autoproclamação, após o Legislativo declarar "usurpador" Maduro considerar sua reeleição "fraudulenta".

'Fronteira inexpugnável'

Em videoconferência transmitida ao vivo no Instagram, o presidente da Colômbia, Iván Duque, que se refere a Maduro como "ditador" e "usurpador", prometeu a Guaidó apoiá-lo "de modo decisivo" para a passagem da ajuda pela fronteira.

Mas Maduro pediu às Forças Armadas que avaliem "que novas forças são necessárias para que a fronteira seja inexpugnável".

Em cerimônias em quartéis, membros das Forças Armadas Revolucionárias (FAR) de Cuba respaldaram Maduro, lançando seus tradicionais slogans de "Hasta la victoria, siempre!" ou "Pátria ou morte, venceremos!".

Maduro acusou o adversário de 35 anos de ser um "fantoche" de Washington e um "Judas" por "promover uma invasão militar" e o "roubo da riqueza do petróleo" do país. O governo de Donald Trump disse que não descarta uma ação do Exército na Venezuela.

"Não podem ser tão hipócritas, esta (ajuda) é uma operação midiática de propaganda, para criar condições para uma intervenção", disse neste sábado o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza.

O ministro confirmou neste sábado ter tido duas reuniões secretas com Elliott Abrams, enviado de Trump para a Venezuela. "Houve momentos de tensão, há diferenças profundas, mas ao mesmo tempo há preocupações compartilhadas", afirmou.

Mísseis e doações

O vice-presidente americano, Mike Pence, pediu neste sábado à União Europeia (UE) que reconheça Guaidó como único presidente legítimo da Venezuela, no momento em que alguns países europeus bloqueiam uma posição comum do bloco.

UE e Uruguai enviarão nos próximos dias uma missão técnica à Venezuela com especialistas eleitorais e em ajuda humanitária, dentro do Grupo de Contato Internacional (GCI).

"Enquanto alguns falam em comprar mísseis, recebemos 110 milhões de dólares doados e não paramos por aí", disse Guaidó, referindo-se à captação de recursos nas últimas três semanas em ajudas à Venezuela.

O multimilionário britânico Richard Branson organiza um show no próximo dia 22 em Cúcuta com artistas como os espanhóis Alejandro Sanz e Miguel Bosé, o porto-riquenho Luis Fonsi e os colombianos Carlos Vives e Juanes, a fim de arrecadar outros 100 milhões de dólares em 60 dias.

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosEstados Unidos (EUA)Juan GuaidóNicolás MaduroVenezuela

Mais de Mundo

Rússia lança mais de 100 drones contra Ucrânia e bombardeia Kherson

Putin promete mais 'destruição na Ucrânia após ataque contra a Rússia

Novo líder da Síria promete que país não exercerá 'interferência negativa' no Líbano

Argentinos de classe alta voltam a viajar com 'dólar barato' de Milei