Mundo

Grécia vive o drama da fuga de cérebros

Crise financeira e falta de emprego faz jovens deixarem o país; maioria dos gregos com doutorado prefere o exterior

Jovem leva a bandeira grega durante um protesto contra o desemprego (Filippo Monteforte/AFP)

Jovem leva a bandeira grega durante um protesto contra o desemprego (Filippo Monteforte/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2011 às 16h40.

Atenas - Como muitos jovens, Ioanna Giannopoulou fez as malas e partiu para a França. Com mestrado em informática, ela penou durante meses para encontrar um posto de trabalho decente na Grécia e não recebeu senão propostas de estágio, com salário de 500 euros por mês.

No momento em que chega ao parlamento um projeto de reforma universitária, tentando adaptar o sistema ao mercado de trabalho, são mais e mais numerosos os jovens gregos diplomados, como Ioanna, que tentam uma chance no exterior, sob o efeito da crise da dívida no país.

A oferta feita por uma empresa de telecomunicações, em Paris, foi considerada bem mais gratifiante para a jovem, de 23 anos.

Sua família ficou muito perturbada com a decisão. A mais velha, Evgenia, doutoranda em bioinformática, é pesquisadora há dois anos na universidade Cornell, instalada nos Estados Unidos.

Segundo o professor Lois Lambrianidis, economista e geógrafo da Universidade de Salônica, 9% dos jovens diplomados gregos foram trabalhar no exterior, a partir de fevereiro de 2010, e "nos últimos meses, as saídas se aceleraram".

Como na Irlanda ou em Portugal, as futuras elites gregas fogem do país: 51% dos diplomados com doutorado preferem ir para o exterior. As estatísticas de emprego são eloquentes: 9,8% dos possuidores de um mestrado ou douturado estão desempregados na Grécia, neste ano de 2011. Em 2008, eram, apenas 5,4%.

Os que pegam o caminho de horizontes mais promissores vão engrossar as fileiras da diáspora grega já instalada na Austrália, nos Estados Unidos, ou outros países.

No projeto de reforma universitária, a ministra da educação, Anna Diamandopouloue, leva em conta a questão.

Para Yannis Mitsos, assessor da ministra, o governo está preocupado com o desemprego dos jovens diplomados e sua partida do país, e deseja preparar "melhor os estudantes gregos para o mercado de trabalho".


A reforma, a ser votada em agosto, já foi aplicada na maior parte das nações europeias, e entende alinhar as universidades gregas em ciclos unificados: três anos para a licenciatura, cinco para o mestrado, e oito para o doutorado, permitindo uma equivalência de diplomas europeus, além de tornar as universidades mais competitivas.

A avaliação dos professores deverá, também, ser mais transparente.

Segundo Dionysis Gouvias, professor de pedagogia na Universidade de Rhodes, a reforma poderá, no entanto, agravar a condição dos jovens cientistas e encorajar seu desejo de partir: está prevista a redução do número de postos de trabalho disponíveis, assim como a fusão de universidades regionais.

"Se os jovens doutorandos ficarem na Grécia, poderiam ajudar no desenvolvimento do país", lamenta ele, mas é preciso, principalmente, que seu talento seja reconhecido, uma missão difícil neste período de austeridade e de contração, admite.

Além disso, o êxodo dos diplomandos não será resolvido apenas com uma reforma das universidades, porque o problema da Grécia é, também, estrutural - uma economia ancorada nos serviços e no turismo, sem indústria.

Para Lambrinidis "o mercado de trabalho grego precisa de um número restrito de pesquisadores". Enquanto isto, atolada na crise, a Grécia parece cada vez mais impotente em reter os jovens.

Mas Ioanna faz uma promessa a si mesma: "não quero passar toda a minha vida longe de meu país".

Acompanhe tudo sobre:Crise gregaCrises em empresasEuropaGréciaPiigs

Mais de Mundo

Missão da SpaceX foi ao resgate de astronautas presos na ISS

Após morte de Nasrallah, Netanyahu afirma que “trabalho ainda não está concluído”

Bombardeio israelense atinge arredores do aeroporto de Beirute

Morte de Nasrallah é golpe contra Hezbollah, mas impactos são incertos