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Governo da Ucrânia terá heróis de protestos

Principais figuras dos três meses de protesto estão ocupando postos importantes no novo gabinete do governo


	Ucranianos se reúnem na Praça da Independência em Kiev
 (Konstantin Chernichkin/Reuters)

Ucranianos se reúnem na Praça da Independência em Kiev (Konstantin Chernichkin/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 17h54.

Kiev - Um mês atrás, Dmytro Bulatov foi retirado de protestos contra o governo, espancado e teve um pedaço da orelha cortada. Nesta quinta-feira, ele se tornou o novo ministro de Esportes e da Juventude de seu país. O chefe do serviço médico dos manifestantes é o Ministro da Saúde. E o mestre de cerimônias se tornou ministro da Cultura.

As principais figuras dos três meses de protesto estão ocupando postos importantes no novo gabinete, ressaltando a força da revolta. Mas, enquanto poucos duvidam da determinação dos líderes, as nomeações têm levantado questionamentos sobre suas habilidades e competências - especialmente tendo em conta o enorme desafio a frente dos novos membros do governo.

Bulatov, líder de um grupo de motoristas, passou mais de uma semana em cativeiro. Ele disse ter sido espancado e pregado a uma porta e implorado a seus sequestradores que o matassem para poupá-lo da dor. Na quinta-feira, seu nome foi aprovado pelo Parlamento para o novo governo. "Estamos construindo uma sociedade civilizada", disse Bulatov, a um canal de televisão ucraniano. "O sistema terá que ser reconstruído a partir do zero."

Oleh Musiy, médico da equipe de saúde voluntária dos manifestantes, passou três meses tratando centenas de manifestantes feridos nos confrontos em clínicas improvisadas em uma biblioteca, uma igreja e outros locais. Enquanto se preparava para assumir o cargo de ministro da Saúde, Musiy admitiu que estava nervoso sobre o novo trabalho. "Eu acho que vai ficar ainda mais difícil agora, porque o sistema de saúde está em um estado horrível e tem de ser muito reformado e se tornar amigável para o povo", disse Musiy, em entrevista por telefone.

Há meses, o ator Yevhen Nishchuk era um dos rostos e vozes mais conhecidos do protesto, introduzindo oradores da oposição em um palco gigante da Praça da Independência de Kiev, cantando o hino nacional junto com milhares de pessoas e instruindo os manifestantes a manter a calma quando a polícia tentou invadir o acampamento. Em sua visita ao parlamento ucraniano antes da votação desta quinta-feira, ele procurou acalmar os temores de que não está à altura do cargo de ministro da Cultura.

"Alguns dizem que é uma coisa negativa que sou apenas um ator e tudo mais, que eu não sou um administrador, não sou um gerente. Mas muito foi alcançado ao longo desse período graças também às minhas habilidades organizacionais", afirmou Nishchuk. "Nos últimos 20 anos, o Ministério da Cultura apenas trabalhou para se certificar de que uma visita do presidente fosse acompanhada por uma cesta de flores. Isso é horrível, isso deve ser mudado."

As fotos do rosto desfigurado do Tetyana Chernovil se tornaram manchetes internacionais em dezembro, depois que a jornalista investigativa e ativista foi espancada nos subúrbios de Kiev quando voltava para casa após protestos. Esta semana, Tetyana, de 34 anos, foi nomeada chefe de uma comissão anticorrupção no novo governo.

Do lado de fora do Parlamento hoje, ela expressou alegria sobre a mudança no governo, mas reconheceu que enfrentará um trabalho difícil. "Este trabalho é completamente novo para mim. É uma coisa ser jornalista, outra coisa diferente é ser uma pessoa que deve parar essa corrupção", afirmou Tetyana, com o rosto ainda mostrando cicatrizes e hematomas.

"Eu achei que a vitória viria, mas não achava que ocorreria tão cedo. Pensei que levaria vários anos. Eu estava absolutamente convencida de que eu não viveria para ver. Então, para mim, isso é algo surreal."

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