Agência de notícias
Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 13h54.
A mando do Palácio do Planalto, o Itamaraty determinou a evacuação do corpo diplomático da embaixada em Damasco, na Síria. Todo a equipe diplomática deixou o país, segundo o Itamaraty.
A decisão é uma tentativa de proteger funcionários após consulados de outros países na capital síria serem atacados no final de semana. A retirada inclui apenas os servidores brasileiros e seus familiares.
Neste domingo, rebeldes sírios anunciaram a captura de Damasco e a queda do governo de Bashar al-Assad. As embaixadas da Itália e de Cuba registraram incidentes com rebeldes durante o episódio.
O Itamaraty também orienta que brasileiros deixem o país "até o retorno à normalidade".
“O governo brasileiro acompanha, com preocupação, a escalada de hostilidades na Síria. Exorta todas as partes envolvidas a exercerem máxima contenção e a assegurarem a integridade da população e da infraestrutura civis”, diz nota.
Um dia após a queda do ditador Bashar al-Assad e da tomada de Damasco, as forças rebeldes que derrubaram o governo começaram a tentar restabelecer o senso de normalidade nesta segunda-feira, em meio às desconfianças da comunidade internacional sobre a estabilização política do país. Países como Israel e EUA confirmaram ter lançado ataques contra o território sírio desde domingo, alegando que o vácuo de poder pelo fim da ditadura síria trazia novos riscos para a região. Explosões puderam ser ouvidas na capital, segundo repórteres no local.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, afirmou que os alvos foram "sistemas estratégicos de armas", incluindo armas químicas e mísseis de longo alcance, justificando que a ação atendia a interesses de segurança do Estado judeu. Um fotógrafo da rede americana CNN flagrou o momento em que caças israelenses cruzaram a região das Colinas de Golã em direção ao território sírio. No começo da manhã, repórteres na capital síria disseram ter ouvido explosões.
"O único interesse que temos é a segurança de Israel e seus cidadãos... é por isso que atacamos sistemas de armas estratégicas, como, por exemplo, armas químicas residuais ou mísseis de longo alcance e foguetes, para que eles não caiam nas mãos de extremistas", afirmou Saar, em um pronunciamento em Jerusalém.
A miríade de grupos armados que surgiram ao longo de 13 anos de guerra civil na Síria, muitos deles unidos pelo único objetivo de derrubar Assad do poder, é motivo de preocupação por parte de vários países. Teme-se que em vez de uma transição de poder ordenada, forças com interesses opostos entrem em rota de colisão para garantir uma fatia maior de influência — sobretudo em um país em que ainda há atividade de grupos terroristas internacionais.
Foi esse pretexto que os EUA utilizaram para bombardear, no domingo, 75 alvos ligados ao Estado Islâmico na Síria. O temor americano é de que a mudança de forças impulsione o ressurgimento do grupo terrorista, que na metade da década passada internacionalizou suas ações, patrocinando atos de terrorismo ao redor do mundo.
Por enquanto, o líder do principal grupo na ofensiva que derrubou Assad, o Hayet Tahrir al-Sham, tem equilibrado um discurso moderado, prometendo respeito à diversidade étnica no país e o fim do sectarismo. Também afirmou que as instituições devem ser preservadas, indicando que haveria um governo com participação popular.
A ordem parece ter surtido um efeito inicial, com homens vestidos com roupas militares foram vistos em frente a prédios governamentais e instituições como agências bancárias, no que indicava uma tentativa de manter a ordem — após um dia de êxtase, em que saqueadores roubaram e depredaram locais relacionados ao regime de Assad, incluindo o Palácio Tishrin, antiga residência oficial.
Mesmo em funções básicas, como ordenar o trânsito em cruzamentos mais movimentados da capital, homens armados com fuzis e vestindo peças de uniforme que não combinavam entre si, foram vistos nesta segunda.
O Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta segunda-feira para tratar sobre a situação na Síria, enquanto as primeiras propostas para a transição de poder parecem surgir. Um Comitê de Transição Nacional, aparentemente formado por rebeldes, pronunciou-se nas primeiras horas do domingo, delineando pontos-chave do novo regime, incluindo a garantia da integridade territorial do país e a proteção a todas as etnias.
Ahmed al-Sharaa, o líder do HTS que até domingo se identificava pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Jawlani, afirmou no domingo que o poder ficaria, de forma transitória, nas mãos do primeiro-ministro Mohammed Ghazi al-Jalali.
Lideranças da oposição à Assad no exílio defenderam uma proposta para instaurar um governo de transição por 18 meses, e estabelecer uma constituição no próximo semestre, para pacificar o país antes de que seja tomado por uma disputa eleitoral.