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Golpe no Chile completa 50 anos e governo reforça promessa de buscar desaparecidos

Boric prometeu assumir os esforços de busca pelos 1.162 desaparecidos pela ditadura de Pinochet

Chile: Segundo a pesquisa Criteria, 49% consideram que "relembrar o golpe é irrelevante para pessoas como eles" (AFP/AFP)

Chile: Segundo a pesquisa Criteria, 49% consideram que "relembrar o golpe é irrelevante para pessoas como eles" (AFP/AFP)

Publicado em 11 de setembro de 2023 às 14h11.

Última atualização em 11 de setembro de 2023 às 14h11.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, lidera nesta segunda-feira, 11, uma série de eventos para recordar os 50 anos do golpe de Estado que derrubou o governo de Salvador Allende em 11 de setembro de 1973, data que ainda divide os chilenos. 

Em 30 de agosto, Boric prometeu assumir os esforços de busca pelos 1.162 desaparecidos. Por anos, as próprias famílias das vítimas da repressão foram os principais responsáveis por tentar localizar os desaparecidos, conseguindo encontrar os restos mortais de 307 pessoas. O plano também estabelece a implementação de medidas de reparação e que garantam o acesso de familiares das vítimas às informações obtidas durante o processo de buscas.

Chamado de Compromisso de Santiago, a iniciativa já foi assinada por quatro ex-presidentes chilenos – Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994/2000), Ricardo Lagos (2000/2006), Michelle Bachelet (2006/2010 e 2014/2018) e Sebastián Piñera (2010/2014 e 2018/2022).

O governo afirma que realiza eventos para gerar "espaço de encontro e reflexão em torno da memória, da democracia e do futuro”. Foram convidadas lideranças políticas de vários países, incluindo o Brasil, que será representado pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida; pelo secretário executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, e pelo assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, Nilmário Miranda, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na Índia, participando da Cúpula do G20.

No domingo, 10, organizações civis e familiares de vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) realizaram uma manifestação pacífica que foi marcada por um grupo de homens encapuzados que vandalizaram o exterior do palácio presidencial de La Moneda e os mausoléus do cemitério principal de Santiago.

"Infelizmente, os eventos do 11 de Setembro há muito tempo têm aspectos de violência nas ruas", lamentou o presidente chileno, que condenou a violência e reconheceu um clima de retrocesso entre o ressurgimento daqueles que defendem Pinochet.

À noite, cerca de seis mil mulheres vestidas de preto protagonizaram o ato mais contundente nestes dias de divisões marcadas, principalmente, por líderes políticos que reivindicam o golpe de Estado de meio século atrás.

Ao ritmo de tambores, elas carregavam uma vela e cercaram o palácio presidencial sob o lema "Democracia bombardeada nunca mais", em referência ao ataque aéreo lançado contra o La Moneda em 11 de setembro de 1973.

Esta data, de grande repercussão internacional, não desperta grande interesse em uma sociedade preocupada, sobretudo, com a economia e com a falta de segurança. Meio século depois do golpe militar, o Chile ainda está dividido entre os que defendem e os que repudiam a ditadura.

Hoje, governam os herdeiros políticos de Allende, mas o Partido Republicano, que reivindica o legado de Pinochet, venceu as recentes eleições da Constituintes que elaboram um projeto de Carta Fundamental para substituir a da ditadura.

Segundo a pesquisa Criteria, 49% consideram que "relembrar o golpe é irrelevante para pessoas como eles", enquanto 48% dizem que "nos deixa presos ao passado e afeta a convivência futura". No entanto, 41% acreditam que "é preciso fechar as feridas".

A empresa Pulso Ciudadano afirmou que 56,5% da população "não tem nenhum, ou pouco, interesse pelo evento", e 25,8% se consideram "muito interessados, ou interessados".

Recordação amarga

A ex-presidente Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) pediu à oposição de direita uma visão mais ampla, em meio à tensão que caracterizou o 50º aniversário do golpe de Estado no Chile.

"Como país, precisamos continuar refletindo e aprendendo com as lições do passado, porque teme-se que, quando há um grau significativo de polarização - como já disse, a política está um pouco tóxica -, o risco de um olhar breve e mesquinho não nos faz bem", disse Bachelet, que foi torturada durante a ditadura e é filha de um general da Força Aérea que morreu depois de também ter sido torturado.

Os eventos desta segunda-feira contam com a presença dos presidentes do México, Andrés López Obrador; da Colômbia, Gustavo Petro; da Bolívia, Luis Arce, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou. Também comparecem ex-presidentes, como o uruguaio José "Pepe" Mujica, o colombiano Juan Manuel Santos, além do ex-chefe do governo espanhol Felipe González e da presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto.

A oposição de direita se absteve de aderir ao compromisso de "defender a democracia das ameaças autoritárias" promovido pelo presidente, que foi assinado pelos quatro ex-presidentes do período democrático vivos. Essa declaração estará disponível para todos os convidados assinarem.

Com informações da AFP.

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