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Geleiras do Chile, com reservas de água, começam a derreter

O Chile tem uma das maiores reservas de água doce do mundo, mas as geleiras, fonte desse recurso, estão derretendo rapidamente

Cordilheira dos Andes no Chile: país O tem uma das maiores reservas de água doce do mundo (Bloomberg/Bloomberg)

Gabriela Ruic

Publicado em 18 de agosto de 2019 às 06h00.

Última atualização em 18 de agosto de 2019 às 06h00.

Camadas maciças de gelo cobrem alguns dos ricos depósitos de cobre do continente. Explorar esses minerais ameaça acelerar seu desaparecimento.

Gino Casassa, um geólogo do governo, desce do helicóptero e olha em volta, desanimado.

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Casassa está parado no sopé de uma geleira a 4.200 metros acima do nível do mar. O céu sobre os Andes é de um azul profundo, mas algo está estranho: estamos em julho, na metade do inverno, e ainda assim o clima é ameno para esta época do ano, acima de zero grau Celsius. Ele tira a jaqueta de esqui laranja e caminha sobre a rocha.

"Isso tudo deveria estar coberto por neve nesta época do ano", diz, apontando para a Olivares Alfa, uma das maiores geleiras na região central do Chile, a poucos metros de distância. “Costumava haver um único sistema de geleiras cobrindo todo esse vale; agora recuou tanto que está dividido em quatro ou cinco geleiras menores.”

O Chile tem uma das maiores reservas de água doce do mundo fora dos polos norte e sul, mas as abundantes geleiras, fonte desse precioso recurso, estão derretendo rapidamente. Não é apenas um desastre ecológico em andamento: também se transforma rapidamente em um dilema econômico e político para o governo do país mais rico da América Latina.

Um coquetel tóxico de aumento das temperaturas, a pior seca em nove anos e atividade humana, incluindo a mineração, tem sido letal para o gelo da região central do Chile. Construída ao longo de milhares de anos, a massa de gelo tem recuado, em média, um metro por ano.

Em menos de 20 anos, algumas geleiras terão desaparecido, enquanto o volume total de todas as geleiras no Chile terá encolhido pela metade até o final do século, diz Casassa. Esse é um grave problema, já que o Chile, que possui 80% das geleiras da América do Sul, também é o país do continente americano com maior risco de estresse hídrico, de acordo com o World Resources Institute. Mais de 7 milhões de pessoas que moram na capital Santiago e arredores dependem das geleiras para a maior parte de seu abastecimento de água em épocas de seca.

Um projeto de lei da oposição apresentado no parlamento visa garantir proteção legal para as geleiras. Mas o governo de centro-direita do presidente Sebastián Piñera se pronunciou contra, argumentando que, se implementadas, as medidas prejudicariam o desenvolvimento econômico do Chile e, especificamente, sua lucrativa indústria de mineração.

As geleiras cobrem alguns dos enormes depósitos de cobre que fazem do Chile o maior produtor mundial do metal: cerca de um terço da produção global de cobre vem das minas do país todos os anos. A mineração é fundamental para a economia do Chile, respondendo por 10% do PIB e por pouco mais da metade de suas exportações.

Essa realidade econômica está no centro do dilema do governo, que avalia as trocas necessárias para proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, apoiar um setor que gera US$ 19 bilhões para a economia. O ministro da mineração do Chile, Baldo Prokurica, insiste que os dois objetivos não são mutuamente exclusivos.

"A mineração pode ser feita sem prejudicar o meio ambiente, e é isso o que queremos fazer", disse Prokurica em entrevista concedida em Santiago, destacando que países com desafios semelhantes como Canadá, Noruega e Estados Unidos têm exigências ambientais mais rígidas e ainda assim conseguem realizar atividades de mineração sem uma lei para as geleiras.

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