Papa Francisco: Francisco criticou na homilia da missa crismal os sacerdotes "tristes", que acabam se tornando "intermediários" ou "gestores" e que não atuam com o coração. (AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2013 às 15h14.
Roma - O papa argentino Francisco reconheceu a crise de identidade que afeta os padres em todo o mundo e os pediu para evitar a tristeza e a servir com paixão "aos pobres" e "aos oprimidos", na primeira cerimônia da jornada desta Quinta-feira Santa que será concluída com uma visita a uma prisão para menores de Roma.
Diante de 1.600 religiosos, entre eles vários cardeais e bispos, reunidos na Basílica de São Pedro, o novo Papa deu sua visão da Igreja e exortou o clero a "sair de si mesmo", um princípio que repetiu em várias ocasiões desde que foi eleito pontífice no dia 13 de março.
Francisco criticou na homilia da missa crismal os sacerdotes "tristes", que acabam se tornando "intermediários" ou "gestores" e que não atuam com o coração.
"Todos nós conhecemos a diferença: o intermediário e o gestor 'já têm seu pagamento', e já que não colocam em jogo a própria pele nem o coração, também não recebem um agradecimento afetuoso que nasce no coração", advertiu.
"Daí surge exatamente a insatisfação de alguns, que acabam ficando tristes e se tornam uma espécie de colecionadores de antiguidades ou até de novidades, em vez de serem pastores com 'cheiro de ovelha', pastores em meio ao seu rebanho, e pescadores de homens", explicou Francisco, com um estilo direto e claro.
Em sua homilia, o Papa latino-americano pediu aos sacerdotes que cheguem às "periferias, onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear sua fé", afirmou.
As palavras e os gestos simbólicos do primeiro Papa latino-americano e jesuíta da história parecem ter mudado o Vaticano em quinze dias.
Ele pediu que os prelados romanos se vistam "com a humilde casula"
"Pode nos fazer bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e a face de nosso povo fiel, de nossos santos e de nossos mártires", disse.
Pronunciadas da Basílica de São Pedro, suas palavras estremecem a hierarquia da Igreja e preocupam aqueles que temem as reformas.
"É um Papa incômodo. Por enquanto, no Vaticano ele é visto com apreço, mas se continuar se comportando como um 'bispo pobre', vai começar a irritar os prelados mais conservadores", ressalta o vaticanista Marco Politi.
O desejo de transparência faz parte de um novo estilo, distante do comportamento tradicional dos papas, também manifestado por sua decisão de não morar "no momento" no luxuoso apartamento dos Papas dentro do palácio apostólico do Vaticano.
"É sóbrio e não é exibido", afirma Politi.
Em sua homilia aos prelados o Papa jesuíta reiterou os princípios ilustrados por ele mesmo, quando era o simples cardeal argentino Jorge Bergoglio.
"Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar se torna autorreferencial e, então, fica doente" , advertiu o novo chefe da Igreja Católica.
Depois da homilia, o Papa abençoou os Santos Óleos usados para os sacramentos, como os batismos e para os enfermos.
Durante a tarde o Papa celebrará uma missa na prisão para menores romana de Casal del Marmo, durante a qual lavará os pés de alguns jovens detentos, seguindo uma tradição se quando era arcebispo de Buenos Aires.
Segundo a "expressa vontade" de Francisco, a cerimônia será simples e a missa não será transmitida ao vivo pela televisão, respeitando seu estilo sóbrio.