Sarkozy pediu uma regulação mais rígida dos mercados de matérias-primas (Georges Gobet/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2011 às 17h23.
Bruxelas - O presidente francês, Nicolas Sarkozy, quer mudanças no mercado de matérias-primas, uma vez que o aumento de seus preços representa "uma das principais ameaças" ao crescimento mundial. Ele propôs nesta terça-feira, em Bruxelas, um forte controle sobre os especuladores.
No momento em que a escassez das matérias-primas começa a ser considerada um problema vital para o planeta, principalmente para as economias emergentes, Sarkozy, que preside o G20 em 2011, fez da luta contra a volatilidade dos preços das matérias-primas agrícolas um dos seus cavalos de batalha.
Convidado pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, a se manifestar sobre a questão, Sarkozy pediu uma regulação mais rígida dos mercados de matérias-primas, uma semana antes da reunião dos ministros da Agricultura do G20 que será dedicada ao tema.
"A palavra regulação não é tabu", lançou, insistindo no combate a práticas especulativas e à volatilidade dos preços.
Uma das principais ameaças que pairam hoje sobre o crescimento é o aumento dos preços das matérias-primas" que pode "recrudescer os desequilíbrios mundiais" e "manter na pobreza milhões de homens e mulheres", alertou o presidente.
O problema já havia sido abordado em 2008, ano em que as "revoltas da fome" eclodiram em vários países da América do Sul, da África e da Ásia, em razão do forte aumento dos preços dos produtos agrícolas de base como o trigo, a canola ou o milho.
"Nossa maior preocupação é relativa ao fornecimento e à produção de matérias-primas", afirmou Sarkozy. Em 2050, o planeta terá 9 bilhões de habitantes: para alimentá-los será preciso aumentar a produção agrícola em 70% e ainda não somos capazes", ressaltou.
Para estabelecer as condições de um crescimento duradouro, é preciso aplicar ao mercado de matérias-primas "a mesma regra que tínhamos tentado aplicar" aos mercados financeiros, ou seja, a "regulação", disse, antes de lembrar que foi "a desregulação que levou o mundo à beira do abismo". "Um mercado sem regras não é mais um mercado", disse.
Mas "regulação não quer dizer controle. Isso não quer dizer fixar preços arbitrariamente", o que seria "absurdo", disse o presidente francês, reconhecendo as grandes reticências de membros do G20, principalmente dos países emergentes, a este respeito.
Brasil e Argentina alertaram recentemente a França para qualquer tentativa de limitar os preços dos produtos agrícolas.
O presidente francês denunciou o fato de os especuladores negociarem todos os anos através de derivativos até "46 vezes a produção anual mundial de trigo", "24 vezes a de milho" e 35 vezes" a de petróleo"!
"O que pode justificar isso?", perguntou-se. A seu ver, "não se trata de proibir esta financeirização, nem de interferir no nível dos preços", mas "de prevenir alguns abusos".
"Se um país não combate as máfias, devemos desistir de combater as máfias?", lançou.
Para melhorar a "transparência" dos mercados ele propôs "estabelecer um registro que centralize as informações relativas às transações" que ocorrem.
Porque, frisou, é praticamente impossível atualmente saber em que estado estão os estoques em um mercado ou de identificar aqueles que contratam os serviços.
Da mesma forma, para pôr fim à "opacidade" dos estoques, que permite toda forma de especulação, Sarkozy pediu que cada país do G20 se comprometa a divulgar "nos próximos meses um relatório nacional registrando progressos alcançados" em matéria de transparência de seus estoques.