França e Argélia assinam declaração para retomar suas relações
Paris e Argel vão criar um "Conselho Superior de Cooperação" ao nível dos chefes de Estado, que se reunirá "a cada dois anos"
AFP
Publicado em 27 de agosto de 2022 às 17h14.
A França e a Argélia assinaram neste sábado uma declaração conjunta para reativar seu difícil relacionamento bilateral, após uma visita do presidente francês Emmanuel Macron à nação do Magrebe, uma ex-colônia francesa.
Como sinal de seu bom entendimento, o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, acompanhou Macron de volta ao aeroporto após uma visita de três dias com escalas em Argel e Oran.
Poucas horas antes, ambos os líderes assinaram uma declaração em Argel que “renova seu compromisso de colocar suas relações em uma dinâmica de progresso irreversível”.
Para Tebboune, a visita de Macron permitiu "uma abordagem que não teria sido possível sem a própria pessoa do presidente".
Os dois países agora poderão "agir juntos em muitas áreas fora da Argélia e da França" e "ir muito, muito longe", acrescentou.
A visita ocorre em um momento em que os países europeus tentam reduzir sua dependência das energias russas, devido à guerra na Ucrânia. A Argélia, principal exportador de gás da África, é uma das principais alternativas.
Mas o país do norte de África procura desempenhar um maior papel regional. A Argélia foi colonizada por 132 anos pela França, antes de conquistar sua independência em 1962, após oito anos de guerra sangrenta.
"Diálogo permanente"
Para a Argélia, a visita de Macron consagra seu papel estratégico no norte da África. O país compartilha 1.400 km de fronteiras com o Mali, de onde a França recentemente teve que retirar tropas que combatem grupos jihadistas, e quase 1.000 km com a Líbia, mergulhada no caos e na violência.
Segundo o comunicado, esta "nova associação privilegiada" tornou-se "uma exigência face às crescentes incertezas e crescentes tensões regionais e internacionais".
Paris e Argel vão criar um "Conselho Superior de Cooperação" ao nível dos chefes de Estado, que se reunirá "a cada dois anos" para examinar "assuntos bilaterais, regionais e internacionais de interesse comum".
Estão também previstas visitas ministeriais em todas as áreas de cooperação.
As relações entre os dois países ficaram tensas no ano passado depois que Macron questionou a existência da Argélia antes da ocupação francesa e acusou Argel de fomentar "ódio à França".
Mas a disputa diplomática chegou ao fim quando a Presidência francesa disse que "lamentava" os mal-entendidos causados.
Ambos os líderes anunciaram a criação de uma comissão de historiadores franceses e argelinos para analisar "sem tabus" todo o período da colonização.
Além das divergências históricas sobre a colonização francesa, uma questão de vistos envenenou a relação bilateral, quando Paris decidiu no final de 2021 dividir por dois os concedidos à Argélia devido à sua relutância em readmitir seus cidadãos expulsos da França.
Ambos os países concordaram em combater a imigração clandestina, embora flexibilizando as regras para "famílias binacionais, artistas, atletas, empresários e políticos que enriquecem a relação bilateral".
A França aceitará mais 8.000 estudantes argelinos este ano, somando-se ao total anual de 30.000, anunciou Macron.