(VCG / Colaborador/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 12 de julho de 2021 às 21h44.
Última atualização em 12 de julho de 2021 às 21h45.
Por Blake Schmidt, Coco Liu e Venus Feng, da Bloomberg
Foi o tipo de ação de relações públicas que Jack Ma poderia ter imaginado. Mas o centro das atenções não era o excêntrico bilionário chinês, que parou de ser visto em público há oito meses.
Era ninguém menos que Mark Zuckerberg, se exibindo em uma prancha de surfe com hidrofólio elétrico, segurando uma bandeira americana e esbanjando toda a confiança de um homem que vale US$ 130 bilhões.
O contraste entre o vídeo postado no Instagram pelo magnata das redes sociais no Dia da Independência dos EUA, em 4 de julho, e o grande evento do dia na China não poderia ser maior.
Algumas horas antes, as autoridades em Pequim haviam banido o serviço de transporte individual de passageiros Didi Global das lojas de aplicativos, em mais um duro ataque à elite empresarial do país, que no passado recente parecia fadada a desafiar Zuckerberg e seus conterrâneos pelas posições no topo do ranking de bilionários do planeta.
A era dos ganhos irrestritos para os ultra-ricos da China parece estar chegando a um final abrupto.
Embora o patrimônio líquido das 10 pessoas mais ricas do mundo tenha aumentado em US$ 209 bilhões no primeiro semestre de 2021, a fortuna combinada dos chineses listados no Bloomberg Billionaires Index diminuiu em US$ 16 bilhões. Nas bolsas, as ações de suas principais empresas perderam em média 13% no período, marcando a primeira vez em que registraram quedas enquanto o mercado acionário chinês como um todo avançava. Os papéis da Didi despencaram 14% desde a estreia em 30 de junho na Bolsa de Nova York, o que reduziu a fortuna dos cofundadores em quase US$ 800 milhões.
Por trás das perdas está um movimento de repressão que se intensificou desde novembro, quando a Ant Group de Jack Ma foi forçada a suspender uma gigantesca oferta inicial de ações (IPO) em cima da hora. Autoridades estão implementando regulamentações mais rigorosas em alguns dos mais importantes segmentos da maior economia da Ásia — dos serviços financeiros e plataformas de internet aos dados que sustentam a maioria das grandes empresas na China de hoje. Na última leva, as autoridades apresentaram no sábado um projeto que exigiria que quase todas as empresas chinesas passem por uma revisão de segurança cibernética antes que possam listar ações em outro país.
Pequim tem motivações variadas para agir com repressão, incluindo preocupações em relação a comportamento prejudicial à concorrência no setor de tecnologia, riscos para a estabilidade financeira causados pela baixa regulamentação das plataformas de empréstimo e a rápida proliferação de informações pessoais nas mãos de grandes corporações.
Mas uma tendência subjacente percorre muitas dessas iniciativas mais recentes do governo chinês: um desejo não tão oculto de conter o poder dos magnatas da China, alguns dos quais exercem enorme influência sobre essa economia que movimenta US$ 14 trilhões.
Um funcionário público do alto escalão disse confidencialmente que Pequim quer evitar que seus bilionários se tornem uma força tão enorme quanto os chaebols familiares que dominam a economia e muitos aspectos políticos na Coreia do Sul.
Além do empenho de Pequim, tem havido entre o público chinês uma maior preocupação com a desigualdade. Durante o discurso sobre seus planos econômicos em outubro, o presidente Xi Jinping reconheceu que o desenvolvimento do país foi “desequilibrado” e disse que o objetivo final deve ser a “prosperidade coletiva”.