O ex-presidente cubano, Fidel Castro: suas últimas aparições públicas ocorreram há quatro meses, entre elas um encontro com o papa Bento XVI em Havana (©AFP/Arquivo / Adalberto Roque)
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2012 às 17h37.
Havana - Fidel Castro, o homem que governou Cuba com mão de ferro de 1959 a 2006, fará 86 anos nesta segunda-feira longe dos cubanos, que durante 48 anos sentiram sua presença até nos mínimos detalhes de sua vida cotidiana.
Nenhuma celebração pública foi anunciada para o aniversário, enquanto analistas e dissidentes dizem que a saúde forçou o ex-presidente a se manter discreto, perdendo "peso" na sociedade cubana.
Fidel "parece conformado com seu novo papel de patriarca da esquerda radical; sua vida e saúde exigiram um perfil mais baixo até mesmo do que tentou ao retornar ao período mais crítico de recuperação", disse à AFP o analista cubano Arturo López-Levy, da Universidade de Denver (Colorado, Estados Unidos).
Quando a judoca cubana Idalys Ortiz ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, há uma semana, disse que dedicava o prêmio à família, aos amigos, aos treinadores e só no final mencionou "meu presidente, Raúl Castro, e seu irmão, Fidel".
Antes de Fidel cair doente, em julho de 2006, e entregar o comando ao seu irmão, todos os campeões dedicavam suas vitórias, em primeiro lugar, ao "nosso comandante em chefe".
Depois de sua retirada, Fidel tem marcado presença na mídia cubana com 400 "reflexões" que abordam temas diversos, mas poucas delas dedicadas à atualidade nacional.
Suas últimas aparições públicas ocorreram há quatro meses, entre elas um encontro com o papa Bento XVI em Havana, ao qual compareceu com a esposa, Dalia Soto del Valle e com alguns de seus filhos.
No passado, em sua festa anual de 12 de agosto, as organizações jovens cubanas prorrogavam os festejos até depois da meia-noite para saudar o aniversário do Comandante.
Este ano, as lideranças jovens indicaram que seguirão o costume de festejar após a meia-noite para comemorar em 13 de agosto o aniversário de René González, um dos cinco cubanos condenados nos Estados Unidos por espionagem, mas não mencionaram Fidel.
Por seus próprios artigos e alusões a Raúl, os cubanos ficam sabendo que o Comandante dedica seu retiro a escrever livros históricos, receber visitantes estrangeiros em sua casa ou investigar as propriedades alimentares ou curativas de plantas, como a moringa.
O presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcón, afirmou em entrevista publicada em março que Fidel "é consultado sistematicamente" sobre questões de "primeira ordem" e de "importância estratégica".
Este comentário gerou especulações de que Fidel seria uma espécie de freio às reformas econômicas de Raúl, que reverteu algumas medidas emblemáticas adotadas por seu irmão nos anos 1960, como a proibição da compra e venda de casas e carros.
No entanto, López-Levy disse que Fidel "não é nem a fonte de legitimidade, nem o obstáculo das reformas que foi no passado", enquanto o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe afirmou que "sua personalidade perdeu muito peso na realidade nacional".
"Não sei o peso que possam ter internamente suas opiniões, seus critérios, nos círculos de poder cubanos, mas posso dizer que na população isto diminuiu extraordinariamente", avaliou Espinosa, ex-preso político.
A Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos chamou suas participações de "microadministração", quando dispunha do poder absoluto: discutia com engenheiros e ministros planos nacionais, assim como chegava ao ponto de explicar aos cubanos pela televisão a forma de usar de maneira eficaz a panela wok chinesa.
Nascido em 13 de agosto de 1926 na aldeia de Biran (oriente), filho de um latifundiário galego e uma cubana humilde, Fidel chegou ao poder em 1º de janeiro de 1959, ao derrubar o ditador Fulgencio Batista, após 25 meses de luta guerrilheira em Sierra Maestra.