Distribuidoras de água: além do desperdício causado pelos vazamentos, a falta de uma infraestrutura moderna prejudica a medição correta do consumo e facilita a existência de ligações clandestinas (RICARDO CORREA / EXAME)
Da Redação
Publicado em 20 de março de 2013 às 10h35.
São Paulo - O excesso de vazamentos, desvios ilegais e problemas de medição de consumo de água no País reduzem em média 37,5% do faturamento das operadoras, aponta estudo divulgado na terça-feira (19) pelo Instituto Trata Brasil.
As falhas na distribuição de água, ocasionadas pela falta de investimentos em infraestrutura, são especialmente graves nas Regiões Norte e Nordeste, onde quase 60% do sistema precisa ser ampliado.
A pesquisa Perdas de Água: Entraves ao Avanço do Saneamento Básico e Riscos de Agravamento à Escassez Hídrica no Brasil usou dados de 2010 para analisar as perdas de faturamento das empresas distribuidoras, estatais ou privadas.
"Não se pode dizer que é só perda de água, pois muitas vezes chega ao consumidor de forma não autorizada", diz o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. "Mas a maior parte é mesmo perda real de água, causada pelos vazamentos. Não se pode exigir busca de novos mananciais, por exemplo, se a rede (de distribuição) é uma peneira."
Além do desperdício causado pelos vazamentos, a falta de uma infraestrutura moderna prejudica a medição correta do consumo e facilita a existência de ligações clandestinas.
A situação mais crítica é a do Amapá, onde o índice de perdas de faturamento é de quase 75% - no outro extremo, Mato Grosso do Sul, com melhor desempenho (pouco menos de 20%). São Paulo está no grupo intermediário, com 32,55%.
O total de perdas de faturamento das operadoras, lembram os especialistas, não chega a 10% nos países desenvolvidos.
"A partir dos anos 1970, o País se preocupou em ampliar a cobertura de oferta de água, mas nos anos seguintes deu pouca atenção à manutenção e modernização do fornecimento", diz Rudinei Toneto Junior, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, que coordenou o levantamento. "O investimento no controle de perdas tem de ser contínuo."
Segundo Édison Carlos, a tendência é de que distribuidoras controladas por empresas privadas sejam mais eficientes na redução de perdas. "A solução, no entanto, não passa pela privatização. Em Uberlândia (MG), por exemplo, a distribuidora estatal oferece baixas tarifas e combate às perdas", afirma ele.
Estimativa
Em uma simulação com um cenário de redução de 10% das perdas, a receita seria equivalente a 42% dos R$ 3 bilhões investidos em infraestrutura pelos prestadores de serviço do setor em 2010 - ou seja, ganho de R$ 1,3 bilhão na receita operacional.
Para os autores do estudo, o saneamento básico possui a estrutura mais atrasada do País. Segundo o Trata Brasil, 54% da população não possui coleta de esgoto e 84% das cidades precisam de investimentos para adequar seus sistemas de produção de água potável.
Uma das consequências foi que, em 2011, quase 400 mil pessoas com diarreia no País tiveram de ser hospitalizadas.