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"Fadiga dos partidos" explica Trump e Brexit, diz Magnoli

Segundo o sociólogo, crescimento do nacionalismo surgiu com o medo daqueles que ficaram de fora dos benefícios da globalização

Demétrio Magnoli, professor da USP, durante palestra no Fórum A Revolução do Novo: A Transformação do Mundo (Antonio Milena/VEJA)
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Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2017 às 13h54.

Última atualização em 5 de junho de 2017 às 13h54.

As consultas populares que culminaram na eleição de Donald Trump e na saída da Inglaterra da União Europeia (o Brexit ), que surpreenderam muitos analistas, não são decorrentes de desinteresse pela política, baixo nível de educação ou fenômenos isolados.

Segundo o sociólogo Demetrio Magnoli, o que une os dois eventos é a expressão do descontentamento de setores que ficaram de fora dos benefícios da globalização, e viram no nacionalismo e na extrema direita uma forma de expressar sua insegurança.

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O professor da USP abordou o tema durante a palestra A fadiga na política, a onda nacionalista, a antipolítica e o futuro da globalização. A exposição foi parte do fórum A Revolução do Novo – A Transformação do Mundo , promovido por VEJA e EXAME, em parceria com a Coca-Cola, que aconteceu na manhã desta segunda-feira, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Para Magnoli, o momento é de renascimento do nacionalismo, motivado por fatores como uma crise econômica de grandes proporções e pela sensação de falta de representatividade dos partidos políticos. “Não existe uma fadiga da política, existe fadiga dos partidos políticos tradicionais. É um fenômeno mundial”, diz o sociólogo.

Essas instituições, diz o Magnoli, foram apoderadas por suas próprias militâncias, fazendo-as tomar posições políticas mais próximas dos extremos e mais distantes dos centros. Assim, os eleitores as veem como representantes dos próprios interesses, em vez do interesse público.

Um fator de semelhança entre o crescimento do nacionalismo em 1930, e no seu ressurgimento na atualidade é uma crise econômica de grandes proporções e que afetou vários países. No caso do século passado, a grande depressão; mais recentemente, a crise econômica de 2008.

A dificuldade no campo econômico, somada ao baixo crescimento do PIB em países centrais nos últimos anos, produziu uma camada significativa de pessoas que ficaram de fora dos benefícios da globalização, o que se traduziu nas urnas. “Os ‘órfãos’ da globalização, indignados com a perda de emprego e de renda, escolhem o nacionalismo para enfrentar seus medos”, diz Magnoli.

Ele aponta que tanto na eleição de Trump como no Brexit, as parcelas que mudaram sua orientação política e foram decisivas para esses resultados foram de trabalhadores de classe média empregados em indústrias tradicionais. Com a revolução tecnológica, muitas delas ficaram para trás.

Nos EUA, os trabalhadores do meio-oeste americano, tradicionalmente ligados a sindicatos e aos democratas, migraram para Trump. Na Inglaterra, redutos tradicionais do partido trabalhista apoiaram a saída da União Europeia.

Segundo o sociólogo, uma expressão desse movimento nacionalista é o sucesso eleitoral de partidos de extrema direita. Eles conseguiram associar, incorretamente, o desemprego e o terrorismo aos imigrantes e se beneficiaram eleitoralmente nos Estados Unidos e na Europa.

Assim como o nacionalismo da década de 1930, o de agora também emerge da soma dos medos. E vence quem consegue criar uma narrativa sobre esse medo, mesmo que incorreta, como no caso dos imigrantes.

“Não importa que se constate, depois, que o terrorista mora há décadas na mesma cidade em que cometeu o atentado”, disse.

Para o sociólogo, esse movimento de radicalização tem recebido uma resposta das cidades grandes e médias, que tem registrado maior participação política.

Esse maior engajamento fez com que não houvesse uma onda de extrema direita em eleições como na Áustria, Holanda e França, como seria esperado. “Já disseram que o Trump seria o coveiro da União Europeia. Ele pode ter sido o salvador dela”, avaliou Magnoli.

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