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Extremista julgado por destruição de patrimônio em Timbuktu

Esta é a primeira vez que um acusado se declara culpado ante o Tribunal Penal Internacional de Haia, uma corte internacional permanente


	Ahmad al-Faqi al-Mahdi: "Declaro-me culpado" de crime de guerra, acrescentou o acusado
 (Patrick Post/Pool/Reuters)

Ahmad al-Faqi al-Mahdi: "Declaro-me culpado" de crime de guerra, acrescentou o acusado (Patrick Post/Pool/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2016 às 12h34.

O extremista malinês julgado no Tribunal Penal Internacional (TPI) pela destruição de mausoléus catalogados como patrimônios mundiais da humanidade em Timbuktu se declarou culpado e pediu perdão nesta segunda-feira, fazendo um apelo aos muçulmanos do mundo a não imitarem seus atos "diabólicos".

"Meritíssimo, lamento dizer que tudo o que ouvi até agora é verídico e reflete os acontecimentos", declarou Ahmad al Faqi al Mahdi após a leitura das acusações.

Esta é a primeira vez que um acusado se declara culpado ante o Tribunal Penal Internacional de Haia, uma corte internacional permanente que julga crimes de genocídio, de guerra e contra a humanidade.

"Declaro-me culpado" de crime de guerra, acrescentou o acusado, que pediu perdão ao povo do Mali pela destruição dos mausoléus.

"Peço seu perdão e peço que me considerem como um filho que errou o caminho", disse.

Os especialistas esperam que o julgamento contra Ahmad al Faqi alMahdi, o primeiro contra um suposto extremista e que também inaugura os processos pelo conflito no Mali, envie uma "mensagem contundente" sobre a pilhagem e a destruição patrimonial em todo o mundo.

"Atacar e destruir sítios e símbolos culturais de comunidades é uma agressão a sua história", afirmou à AFP a procuradora Fatou Bensouda antes do julgamento.

A acusação pedirá uma pena de entre 9 e 11 anos de prisão, afirmou um membro do gabinete da procuradoria.

O acusado se comprometeu a não apelar se a pena se "mantiver nesta escala", disse Jean-Louis Gilissen, um de seus advogados.

O julgamento deve durar a princípio uma semana, indicaram os juízes.

"Eu me apresento a vocês cheio de remorsos e de dores de consciência", declarou.

"Estou muito arrependido de meus atos e de todos os preconceitos contra meus irmãos e minha pátria mãe, Mali, que eles desencadearam", acrescentou.

Transferido do Níger no fim de 2015, o acusado compareceu com um traje sóbrio. "Este erro será o primeiro e o último", prometeu.

Uma página negra

Ahmad al Faqi al Mahdi, nascido em 1975, é acusado de ser membro do Ansar Dine, um grupo extremista vinculado à Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).

O Ansar Dine controlou o norte do Mali por quase dez meses em 2012, antes que uma intervenção internacional impulsionada pela França os expulsasse da maior parte do território.

Como chefe da brigada islâmica da moral, o acusado havia ordenado e participado dos ataques contra os mausoléus, destruídos com picaretas e enxadas.

Timbuktu, conhecida como "a cidade dos 333 santos", venera em seus mausoléus uma série de personagens que, de acordo com os especialistas malineses do Islã, são considerados os protetores da cidade e a quem os fiéis se dirigem para pedir casamentos, implorar pela chuva ou lutar contra doenças.

Estes ritos se chocam com a visão fundamentalista do Islã, e seus seguidores tentaram erradicá-los antes de destruir os mausoléus, segundo a acusação.

"Estes edifícios eram os mais conhecidos de Timbuktu e formavam parte de sua herança histórica, da história do Mali e do mundo inteiro", disse durante a audiência a procuradora Fatou Bensouda.

A destruição "é um crime que afeta os valores universais que todos devemos proteger", acrescentou.

"O que aconteceu em Timbuktu é uma página negra na história da cidade", afirmou a procuradora.

O acusado pediu "perdão de todas as pessoas de Timbuktu" e acrescentou que também queria se desculpar com os "ancestrais" dos mausoléus que destruiu, tentando se distanciar dos extremistas, classificando suas ações como "diabólicas".

"Espero que os anos que vou passar na prisão sejam uma forma de purgar os espíritos diabólicos que me possuíram", disse ao tribunal.

Seu advogado, Mohamed Aouini, explicou que o acusado quis se declarar culpado porque é "um muçulmano que acredita na justiça".

As destruições se converteram em uma "tática de guerra para semear o medo e o ódio", havia escrito recentemente a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, na revista "International Criminal Justice Today".

O objetivo destes ataques é "reduzir em pedaços o tecido da sociedade", acrescentou Bokova, para quem é essencial que estes crimes não fiquem impunes.

Este julgamento pode abrir um precedente no mundo, num momento em que a lista de sítios em risco não para de crescer. Uma das incorporações recentes foi a cidade antiga de Palmira, parcialmente destruída e saqueada pelos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

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