A exposição marca o retorno do acervo da Fundação Crespi-Prado ao espaço, antigo solar que pertenceu ao ex-prefeito Fábio Prado e sua esposa Renata Crespi Prado (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2012 às 16h21.
São Paulo - Antes de virar museu, em 1970, a construção do MCB - Museu da Casa Brasileira era residência da família paulistana Crespi-Prado, e antes da década de 1940, era um terreno baldio, ocupado pela mata residual do Rio Pinheiros. Algumas árvores dessa época sobreviveram à acelerada urbanização de São Paulo e vivem até hoje nos arredores do museu; elas são testemunhas da época em que o rio abrigava vida e em que era possível se banhar nas águas sem temer infecções.
Durante quatro anos, o ambientalista Ricardo Cardim pesquisou com profundidade esse território paulistano e sua biodiversidade para montar seu próximo livro ainda não lançado, o Almanaque do Verde Paulistano. Parte do material de sua pesquisa - imagens de 1933 que retratam o Rio Pinheiros com vegetação florestal na margem e outras fotografias inéditas - foi incorporado à mostra "A Casa e a Cidade - Coleção Crespi-Prado", aberta ao público a partir de 29/09 no MCB e sem data para acabar.
A exposição marca o retorno do acervo da Fundação Crespi-Prado ao espaço, antigo solar que pertenceu ao ex-prefeito Fábio Prado e sua esposa Renata Crespi Prado, e possibilita novas leituras a respeito da coleção. Além da contribuição de Cardim, a mostra conta com textos dos professores Carlos Lemos e Maria Ruth Amaral, da FAU-USP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
O Solar Fábio Prado estava inserido em um jardim de aproximadamente 15 mil m² de área. No entanto, com as desapropriações e alterações urbanísticas da região da Av. Brigadeiro Faria Lima, que é, hoje, um dos mais importantes centros comerciais e financeiros da cidade, a área verde foi reduzida a menos da metade de seu tamanho original. "Na época, o mato era pejorativo; no processo de urbanização, valorizava-se a criação de ambientes artificiais", diz Cardim. E completa: "Além disso, a cultura ditava que tudo o que vinha de fora do país era mais valioso do que o que tínhamos aqui. Por isso, a maior parte das árvores do museu hoje é de origem estrangeira".
Não é a primeira vez que o biólogo realiza pesquisas para o MCB. No ano passado, deu consultoria para a restauração das árvores do museu, identificando cada um dos 500 exemplares e plantando 20 plantas nativas da mata-atlântica, como palmito-juçara, araucárias e copaíba. "A ideia foi fazer o plantio de árvores de acordo com a história da região", conta o ambientalista.
Além de evidenciar a biodiversidade ancestral da região e de mostrar as mudanças que ocorreram no território da cidade entre o final do século 19 até meados do século 20, "A Casa e a Cidade - Coleção Crespi-Prado" revela aspectos do cotidiano da vida pública e privada do casal que morou no solar, e ainda apresenta o acervo da família, formado por móveis, porcelanas, pratarias de diferentes regiões do mundo, esculturas de Brecheret e obras brasileiras como telas dos pintores Di Cavalcanti e Portinari.
Para Cardim, a mostra traz para o público todo o conhecimento da riqueza da paisagem natural que já existiu naquele local - em contraste com o concreto que dominou a região - e provoca uma reflexão: será que precisamos mudar tanto a natureza? O caminho que escolhemos não foi drástico demais? O desenho de autoria de Ricardo Cardim (abaixo) pode ajudar a responder essa questão. Ele reproduziu a região dos Jardins, que revela a sinuosidade do Rio Pinheiros, antes da colonização.
A CASA E A CIDADE - COLEÇÃO CRESPI-PRADO
Data: a partir de 29/09, de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu da Casa Brasileira
Endereço: Av. Faria Lima, 2.705 - Jd. Paulistano, São Paulo, SP
Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada). Aos domingos e feriados, a entrada é gratuita.
Tel.: (11) 3032-3727
Visitas orientadas: inscrições por telefone (11) 3032-2564 ou e-mail agendamento@mcb.org.br