Mundo

Exército ucraniano abandona Debaltsev, novo revés para Kiev

Os ocidentais imediatamente acusaram os separatistas de prejudicar o processo de paz, violando o cessar-fogo declarado no sábado


	Abrigo em Debaltsev: área controlada pelos rebeldes faz junção entre territórios separatistas de Lugansk e Donetsk
 (Maksim Levin/Reuters)

Abrigo em Debaltsev: área controlada pelos rebeldes faz junção entre territórios separatistas de Lugansk e Donetsk (Maksim Levin/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2015 às 18h13.

Os rebeldes pró-russos infligiram nesta quarta-feira um novo revés militar às autoridades de Kiev, forçando o Exército ucraniano a se retirar de Debaltsev, após intensos combates nessa cidade do leste separatista.

Os ocidentais imediatamente acusaram os separatistas de prejudicar o processo de paz, violando o cessar-fogo declarado no sábado.

Para os pró-russos - apoiados, segundo Kiev e os ocidentais, por Moscou -, a vitória em Debaltsev completa os avanços militares iniciados durante o verão.

A área controlada pelos rebeldes é relativamente homogênea e faz a junção entre os territórios separatistas das regiões de Lugansk e Donetsk.

Agora, a questão que se impõe é se os rebeldes conterão seu avanço, ou se pretendem continuar mais a oeste, ou para o sul e Mariupol.

Diante da alteração no equilíbrio de forças em terra, François Hollande, Angela Merkel, Petro Poroshenko e Vladimir Putin devem conversar ainda esta noite por teleconferência, informou o porta-voz do governo francês, Stéphane Le Foll.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, pediu à Rússia que retire todas as suas forças da Ucrânia e pare com seu apoio aos separatistas.

Com o semblante sério e de uniforme militar, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, falou do aeroporto de Kiev para anunciar o abandono de Debaltsev antes de partir para a zona de guerra e se encontrar com os soldados exaustos que precisaram fugir da cidade.

"Nesta manhã, as Forças Armadas ucranianas e a Guarda Nacional concluíram a operação de retirada planejada e organizada de nossas unidades militares de Debaltsev", disse Poroshenko, que também pede o envio de uma força internacional de manutenção da paz para o leste do país.

"Não recebemos nenhuma ordem. Nos demos conta de que havia uma retirada apenas quando os blindados começaram a partir", declarou à AFP um soldado ucraniano que se encontra em Artemivsk.

Mais cedo, repórteres da AFP viram dezenas de tanques, veículos blindados e militares ucranianos de Debaltsev chegando a Artemivsk, a cerca de 35 quilômetros de distância.

Esses veículos transportavam soldados com barba por fazer e visivelmente exaustos. Segundo Kiev, 2.459 soldados deixaram Debaltseve nesta quarta.

A ofensiva rebelde em Debaltsev foi lançada na terça-feira, terceiro dia do novo cessar-fogo acordado na semana passada em negociações em Minsk entre os presidente francês, russo e ucraniano e a chanceler alemã.

Balanço de mortos diverge

O número de mortos em Debaltsev tem sido motivo de debate.

O presidente Poroshenko evocou um balanço preliminar de 30 feridos durante a evacuação de um contingente de 2.000 soldados, mas alguns veículos de comunicação ucranianos relataram 40 mortos.

O Exército divulgou que pelo menos 22 soldados perderam a vida, e mais de 150 ficaram feridos "nesses últimos dias", incluindo seis mortos durante a retirada do terreno.

Já o diretor do necrotério de Artemovsk, a cerca de 30 km de Debaltsev e para onde os soldados ucranianos recuaram, informou à AFP ter recebido 13 corpos de soldados ucranianos.

Um repórter da AFP viu vários corpos, alguns envoltos em sacos e outros em uniforme militar, dentro do necrotério e perto do prédio.

A imprensa russa noticiou que pelo menos 72 militares ucranianos se entregaram aos rebeldes. Kiev confirmou a captura de soldados, mas não divulgou sua identidade.

A União Europeia denunciou a tomada da cidade - uma "clara violação do cessar-fogo" - e questionou Moscou.

"A Rússia e os separatistas devem implementar imediata e integralmente os compromissos assumidos em Minsk", ressaltou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

A Rússia é acusada de armar os separatistas e implantar tropas no leste da Ucrânia, principalmente para coordenar as operações militares separatistas.

O especialista militar russo Pavel Felgengauer avalia que Moscou não busca tomar Debaltsev por seu valor estratégico.

E sim para enfraquecer, ou até mesmo derrubar, o presidente Poroshenko, criticado por sua gestão da guerra.

O poder russo "procura humilhar, de maneira espetacular, o Exército ucraniano", escreveu Felgengaouer em um artigo de opinião.

Em Riga, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, reiterou as acusações europeias e exigiu que a "Rússia retire todas as suas forças do leste da Ucrânia, cesse seu apoio aos separatistas e respeite os acordos de Minsk".

"As tropas russas, a artilharia e as unidades de defesa antiaérea, assim como os elementos de comando e de controle continuam ativos na Ucrânia", denunciou Stoltenberg.

Já o governo alemão condenou a ação, considerando-a "muito prejudicial para as esperanças de paz".

Nesse contexto de crescente tensão, Petro Poroshenko reiterou seu pedido a Washington por armas letais defensivas, depois de uma conversa por telefone com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na terça-feira.

Os dirigentes europeus ainda não renunciaram, contudo, à solução diplomática. Segundo Paris, o acordo de Minsk sobre a Ucrânia "não está morto", e a França "fará tudo para mantê-lo vivo", apesar da tomada de Debaltsev.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEuropaExércitoRússiaUcrâniaViolência política

Mais de Mundo

Com Itália envelhecida, projeto quer facilitar ida de imigrantes para trabalhar no país; entenda

Premiê de Bangladesh cancela viagem ao Brasil após protestos em massa

Supremo de Bangladesh anula cotas de emprego que geraram protestos com mais de 100 mortos

Coreia do Norte lança mais balões de lixo e Seul diz que tocará k-pop na fronteira como resposta

Mais na Exame