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Ex-secretária de campo nazista condenada a dois anos de prisão com suspensão da pena

Em um dos últimos julgamentos do país sobre o Holocausto, Irmgard Furchner foi processada por seu suposto papel no "assassinato cruel e maligno" de prisioneiros no campo de Stutthof, na Polônia ocupada

Irmgard Furchner é a primeira mulher julgada em várias décadas na Alemanha por crimes relacionados ao nazismo (AFP/AFP Photo)

Irmgard Furchner é a primeira mulher julgada em várias décadas na Alemanha por crimes relacionados ao nazismo (AFP/AFP Photo)

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AFP

Publicado em 20 de dezembro de 2022 às 11h13.

Um tribunal da Alemanha condenou nesta terça-feira (20) a dois anos de prisão com suspensão da pena uma ex-secretária de um campo de concentração nazista, de 97 anos, acusada de cumplicidade no assassinato de mais de 10.000 pessoas.

Em um dos últimos julgamentos do país sobre o Holocausto, Irmgard Furchner foi processada por seu suposto papel no "assassinato cruel e maligno" de prisioneiros no campo de Stutthof, na Polônia ocupada.

A condenação segue o pedido da Promotoria, que destacou o "significado histórico excepcional" do processo, com um veredicto sobretudo "simbólico".

A acusada, que tem o rosto borrado nas fotografias publicadas pela imprensa por ordem do tribunal, estava presente, em uma cadeira de rodas, durante a leitura do veredicto.

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Ela praticamente não falou durante o processo, apenas nas últimas audiências, já em dezembro, quando rompeu o silêncio.

"Sinto muito por tudo que aconteceu", declarou ao tribunal regional da cidade de Itzehoe (norte).

Ela é a primeira mulher processada em décadas na Alemanha por crimes do período nazista.

Furchner tentou escapar no início do processo em setembro de 2021. Ela fugiu da casa de repouso em que mora e seguiu para uma estação de metrô.

A ex-secretária tentou fugir da polícia por várias horas antes de ser detida na cidade vizinha de Hamburgo. Ela ficou presa por cinco dias.

Os advogados pediram a absolvição da idosa, alegando que as evidências apresentadas durante o julgamento "não provaram sem margem para dúvida" que a mulher tinha conhecimento dos assassinatos.

"Inferno absoluto"

A acusada era uma adolescente quando seus supostos crimes foram cometidos e, por este motivo, foi julgada por um tribunal de menores de idade.

Historiadores calculam que 65.000 pessoas morreram no campo que fica próximo da atual Gdansk, incluindo "prisioneiros judeus, guerrilheiros poloneses e prisioneiros de guerra russo-soviéticos", afirmaram os promotores.

Entre junho de 1943 e abril de 1945, Furchner trabalhou no escritório do comandante do campo, Paul Werner Hoppe.

De acordo com a acusação, Furchner anotou e redigiu as ordens do oficial da SS e entregou sua correspondência.

Durante as audiências do julgamento, sobreviventes do campo de Stutthof apresentaram relatos comoventes de seu sofrimento.

A promotora Maxi Wantzen agradeceu a coragem das testemunhas, incluindo algumas que também compareceram como co-requerentes, e afirmou que estas falaram sobre o "inferno absoluto" do campo.

"Sentem que é seu dever, embora tenham invocar a dor de maneira repetida para fazer isto", disse ela.

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Tempo cada vez mais curto

A promotora destacou aos juízes que o trabalho administrativo da acusada "assegurou o bom funcionamento do campo" e deu a ela "conhecimento de todos os acontecimentos em Stutthof".

Além disso, ela afirmou que as "condições que ameaçam a vida", como escassez de alimentos e água e a propagação de doenças mortais, incluindo o tifo, foram mantidas de maneira intencional e ficaram evidentes de modo imediato.

Embora as péssimas condições do campo e os trabalhos forçados tenham provocado o maior número de mortes, os nazistas também utilizaram câmaras de gás e instalações de execução por fuzilamento para exterminar centenas de pessoas que não eram consideradas aptas para o trabalho.

Wantzen destacou que, apesar da idade avançada da acusada, era "importante realizar o julgamento" e completar o registro histórico porque os sobreviventes do Holocausto estão morrendo.

Setenta e sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o tempo é cada vez mais curto para levar à justiça os criminosos vinculados ao Holocausto.

Nos últimos anos vários processos foram abandonados porque os acusados faleceram ou não tiveram condições de comparecer ao tribunal.

A condenação em 2011 do guarda John Demjanjuk, com base no fato de que integrou a máquina de matar do regime de Hitler, estabeleceu um precedente legal e abriu o caminho para vários julgamentos.

Desde então, os tribunais emitiram vários veredictos de culpa por este motivo e não por assassinatos ou atrocidades diretamente relacionadas com o acusado.

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