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Ex-empregados de Itaipu mantêm protesto de décadas

Acampamento recebe os visitantes do lado paraguaio de Itaipu, onde 8 mil ex-funcionários reivindicam há décadas o pagamento de benefícios


	Usina de Itaipu: construção precisou de mais de 30 mil pessoas, que foram demitidas ao fim dos 16 anos do projeto
 (bergie/Wikimedia Commons)

Usina de Itaipu: construção precisou de mais de 30 mil pessoas, que foram demitidas ao fim dos 16 anos do projeto (bergie/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2013 às 13h00.

Hernandarias - Um acampamento improvisado recebe os visitantes do lado paraguaio de Itaipu, hidrelétrica mais potente do mundo, onde 8 mil ex-funcionários que reivindicam há décadas o pagamento de benefícios se revezam em turnos.

A construção da segunda represa em tamanho, atrás apenas da de Três Gargantas, na China, precisou de mais de 30 mil pessoas - metade paraguaia e metade brasileira - que foram demitidas ao fim dos 16 anos do projeto, inaugurado em 1991.

Milhares de pedreiros, soldadores, eletricistas e todo tipo de técnicos paraguaios iniciaram nessa época a reivindicação dos prometidos benefícios alimentares, de produtividade, de deslocamento e de aposentadoria.

Os brasileiros conseguiram, por sua vez e após reivindicações, um acordo em 1999 para o abono retroativo de um adicional de periculosidade.

O porta-voz da Coordenadoria de Ex-funcionários de Itaipu, Carlos González, disse à Agência Efe que os governos militares do Paraguai e do Brasil da época da obra reconheceram em um protocolo os mesmos direitos aos trabalhadores paraguaios e brasileiros, mas que isso não foi cumprido.

Em frente à entrada do local da represa, dezenas de ex-empregados se revezam em turnos em barracos de madeira e nas barracas que formam acampamentos improvisados, decorados com bandeiras paraguaias e cruzes em memória dos companheiros mortos nos últimos anos.

É o último recurso de uma luta cujo início foi marcado pela repressão governamental.

Em 12 de dezembro de 1989, um enorme esquema militar reprimiu um protesto de cerca de 5 mil ex-funcionários do lado paraguaio de Itaipu e deixou 2 manifestantes mortos e aproximadamente 20 feridos a bala.

"Havia franco-atiradores sobre o telhado, atiraram em nós a salvo, houve companheiros feridos nas pernas, no quadril e nos tornozelos, e dois deles foram atingidos no peito e morreram", lembra González.


Segundo a Coordenadoria, que reivindica cerca de US$ 800 milhões em indenizações, os sucessivos governos paraguaios e seus correspondentes diretores da entidade binacional que administra Itaipu alegaram que suas reivindicações prescreveram.

Apesar dos pedidos insistentes da Efe, as autoridades paraguaias de Itaipu não responderam às solicitações para conhecer sua versão dos fatos e ex-diretores da represa também não quiseram se manifestar.

Itaipu, que fica no Rio Paraná, limite natural entre o Brasil e o Paraguai, cerca de 350 quilômetros ao leste de Assunção, se tornou o destino de dezenas de milhares de paraguaios que foram na década de 1970 em busca de trabalho, que são conhecidos como "os pioneiros".

Era um lugar remoto, quase desabitado e coberto por uma espessa floresta. Na construção morreram cerca de mil pessoas em acidentes ou problemas de saúde vinculados ao trabalho em um período de dez anos, segundo disse à Agência Efe uma fonte de Itaipu, que pediu para não ser identificada.

Rogelio Pereira, de 62 anos, sentado na precária barraca decorada com cruzes de madeira em memória dos mortos, lembrou à Efe como esteve prestes a perder a vida naqueles anos.

A cerca de 20 quilômetros de onde agora está erguido o gigantesco muro da represa, a pequena lancha onde Pereira viajava com outros quatro técnicos hídricos tombou e lhes deixou durante horas à mercê da corrente do Paraná, um dos rios mais caudalosos do mundo.

"Claro que é justo que cobremos um adicional pela periculosidade do trabalho e porque todos viemos de outros lugares do país. Amigos meus morreram debaixo do cascalho e do cimento", explicou à Efe Ylegardo Portillo, de 72 anos, soldador de estruturas durante a obra.

Primitivo López, de 62 anos, que transportava seus companheiros de caminhão pelos caminhos no meio da selva da época, assegurou à Efe que se sente como "um soldado que lutou por sua pátria e ninguém mais lembra".

"Só pedimos ao presidente (do Paraguai) Horacio Cartes que nos receba para lhe explicar o problema", declarou López, que prometeu que permanecerão acampados e marcharão toda terça-feira pelo centro de Assunção até encontrar uma solução.

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