Para agricultor francês, consequência do embargo são a queda das exportações e redução do preço (©AFP / Jean-Pierre Muller)
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2014 às 11h39.
Genebra - Agricultores europeus acusam os exportadores brasileiros de "oportunistas" diante da crise na Rússia. Os maiores sindicatos de agricultores da Europa admitiram na quinta-feira, 07, que o embargo russo terá impacto na renda do campo na União Europeia e pedem que Bruxelas leve o caso imediatamente aos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Xavier Beulin, presidente da Federação Nacional de Sindicatos de Produtores Agrícolas da França, não poupou críticas ao Brasil. Segundo ele, a Rússia já preparou o terreno para essa medida adotada ontem, abrindo negociações com parceiros como Brasil, Argentina e China.
"É uma atitude oportunista", acusou Beulin, que pediu uma reunião com o presidente francês François Hollande para "exigir uma resposta".
Na França, a estimativa é de que o embargo possa custar 500 milhões em exportações. Mas o sindicalista diz que Vladimir Putin agiu de forma "muito inteligente".
"Ele escolheu produtos perecíveis e que terão de ser jogados no mercado europeu agora", comentou. "A consequência disso é não apenas a queda das exportações, mas também a redução do preço doméstico para setores como o de frutas, legumes, leite e carnes. Isso significa, portanto, uma queda na renda dos produtores."
O poderoso Sindicato Agrícola Europeu apelou a uma ação na OMC, alertando que a diferenciação que os russos fazem entre produtos brasileiros e europeus é "ilegal".
A Rússia é o quinto maior importador de bens agrícolas do mundo e consome pouco mais de 2% do fluxo mundial. Em grandes cidades, 60% do consumo é de bens importados. O Brasil é o segundo maior fornecedor de bens agrícolas, superado apenas pela Bielorrússia.
Na Espanha, o secretário-geral da Coordenação de Organizações Agrícolas e Pecuárias, Miguel Blanco, acusou o setor agrícola europeu de estar sendo manipulado por "considerações geopolíticas".
Segundo ele, em 2013, 43% da cota russa para alimentos foram abastecidas pela União Europeia, contra apenas 8% pelo Brasil.
OMC
Na terça-feira, 07, a UE admitiu que estuda ações na OMC. "Reservamos nosso direito a tomar uma ação", declarou Frederic Vincent, porta-voz do bloco. Na Alemanha, os sindicatos alertaram que vendas no valor de pelo menos 580 milhões devem ser afetadas.
Em Berlim, fontes do setor agrícola também insinuaram que o Brasil estava tirando proveito de uma guerra e de uma violação da soberania de um país, a Ucrânia. "Isso tudo só prova que, na Rússia, o comércio é uma arma política e que não existem regras", declarou uma representante do setor privado, que pediu para não ser identificado.
Mas o embargo anunciado ontem também abriu uma disputa interna na Europa. O primeiro-ministro da Finlândia. Alexander Stubb, defendeu que seu país seja compensado pelas perdas sofridas por causa da guerra comercial.
Segundo ele, a Finlândia depende das vendas ao mercado russo e seus prejuízos teriam de ser em parte reparados por governos europeus que sofram menos com o embargo. Em Bruxelas, a UE afastou qualquer possibilidade de discutir compensações.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.