EUA oferecem anistia a Maduro e aliados para que deixem o poder, diz Wall Street Journal
Fontes ouvidas por publicação americana afirmaram que tratativas incluem garantias de que o presidente venezuelano e seus principais aliados não seriam alvo de pedidos de extradição
Agência de notícias
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 11h32.
Última atualização em 12 de agosto de 2024 às 11h42.
Os Estados Unidos ofereceram anistia a Nicolás Maduro e a alguns de seus aliados mais próximos, alvos de processos no Departamento Justiça americano, em troca do presidente da Venezuela aceitar deixar o poder antes do início de seu mandato, que vai até janeiro. As tratativas foram reveladas por fontes ouvidas pelo jornal americano The Wall Street Journal.
Tanto Maduro quanto integrantes da cúpula do regime chavista, incluindo militares, são alvos do Departamento de Justiça dos EUA em denúncias que incluem crimes internacionais como ligação com o narcotráfico. De acordo com as fontes ouvidas em anonimato pela publicação americana, familiarizadas com as conversas, Washington teria proposto anistia a Maduro e seus apoiadores, além de oferecer garantias de que não iniciaria uma perseguição em busca de extradição após ele deixar o poder.
A proposta americana chega em um momento de extrema pressão para o chavismo, após as eleições presidenciais realizadas no mês passado, em que tanto pesquisas de opinião quanto observadores do processo apontaram uma grande mobilização da oposição. Após uma contagem de votos rápida e uma divulgação a transparência prevista antes do dia da votação, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) decretou vitória de Maduro por uma margem mínima, contrariando uma contagem parcial baseada em atas de votação recolhidas nas seções eleitorais pela oposição. A maior parte da comunidade internacional não reconheceu os resultados apresentados até o momento.
O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo chavismo, iniciou no sábado a perícia de atas eleitorais apresentadas por 33 dos 38 partidos políticos que participaram do processo. No entanto, a oposição questionou a legitimidade deste processo, especialmente depois de os candidatos mais proeminentes da oposição, como Edmundo González, não terem entregue as suas atas. González, que esteve vários dias ausente da vida pública, reapareceu para exortar Maduro a aceitar a vontade do povo e a parar a repressão violenta dos protestos, que deixou mais de 1.200 detidos e 24 mortos.
Uma fonte próxima ao regime de Maduro, também ouvida pelo Wall Street Journal, afirmou que o presidente não estaria disposto a aceitar a oferta americana no momento. Ele revelou que Washington já havia feito uma oferta de anistia anterior, no ano passado, durante conversas secretas em Doha, no Catar. Maduro teria se negado a discutir qualquer arranjo que pudesse significar sua saída do poder, naquela ocasião.
As conversas atuais estariam sendo lideradas pelo diretor do departamento de política venezuelana no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Daniel P. Erikson, noticiou o Wall Street Journal. Ele já teria mantido contato com o presidente do Congresso venezuelano, Jorge Rodríguez, um dos chavistas de maior patente dentro da organização política dominante no país.
Cresce pressão internacional
Poucos foram os países que reconheceram o resultado da eleição venezuelan a, apresentado pelo CNE. Mesmo regionalmente, países com governos de esquerda, como Brasil, Colômbia e México, aguardam novas apurações e exigem transparência na apresentação do resultado. O trio de países lidera a principal iniciativa regional para forçar o regime chavista e as instituições venezuelanas a demonstrarem que o discurso oficial está respaldado pelos dados oficiais.
Em uma outra frente, o promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI) afirmou, nesta segunda-feira, que acompanha ativamente os acontecimentos na Venezuela e avalia inúmeros casos de violência durante os distúrbios após as eleições presidenciais de 28 de julho.
"[O gabinete do promotor do TPI] pode confirmar que está acompanhando ativamente os acontecimentos atuais e recebeu inúmeros casos de violência e outras denúncias após as eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela", afirmou em comunicado. "De acordo com o seu trabalho em todas as situações, o gabinete avalia de forma independente todos estes relatórios e outras informações disponíveis no âmbito do seu mandato e jurisdição".