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EUA enfrentam onda crescente de saques organizados a lojas e supermercados

Aumento dos roubos contra o comércio, principalmente no estado da Califórnia, fez setor varejista ter prejuízo recorde de R$ 564 bilhões em 2022

Nas farmácias CVS, produtos são encadeados (Lindsey Nicholson/UCG/Universal Images Group /Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 1 de outubro de 2023 às 19h30.

Grupos de jovens invadiram diversas lojas no centro da Filadélfia, no estado americano da Pensilvânia, na última quarta-feira. Dezenas de estabelecimentos, incluindo de marcas como Apple, Foot Locker e Lululemon, foram saqueados. A polícia foi acionada e vários suspeitos foram presos, mas a frequência com a qual incidentes como este têm ocorrido nos EUA nos últimos meses fez a prática ganhar até uma alcunha: smash and grab, ou esmagar e agarrar, em tradução literal. Em grande parte das vezes, os assaltos acontecem em plena luz do dia, quando as lojas estão abertas, para o desespero dos funcionários e das autoridades, que dificilmente conseguem chegar a tempo.

No mesmo dia dos saques na Filadélfia, a rede de supermercados Target anunciou o fechamento permanente de nove lojas devido ao aumento da violência e dos roubos. No dia anterior, na terça-feira, a Federação Nacional de Varejo dos EUA alertou sobre o crescimento do crime organizado contra lojas e estimou que as perdas no setor decorrentes de roubos de todos os tipos atingiram o recorde de US$ 112 bilhões (cerca de 564 bilhões de reais) em 2022.

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Diversos vídeos de saques têm viralizado nas redes sociais, a maioria da costa oeste do país, com cenas frequentes nas regiões metropolitanas de Los Angeles e São Francisco/Oakland, na Califórnia. Em 1º de agosto, um grupo de 30 a 50 ladrões encapuzados invadiu a loja Nordstrom em Topanga, a nordeste de Los Angeles, fugindo com artigos de luxo, como bolsas de grife, no valor de US$ 60 mil a US$ 100 mil (R$ 302 mil a R$ 504 mil), segundo a polícia. Os criminosos usaram spray repelente de ursos para atrair os funcionários da segurança para longe da loja. Imagens deles correndo pela loja rodaram a internet.

O CEO da Nordstrom, Eric Nordstrom, foi questionado sobre o incidente dias depois em uma conferência com analistas.

"O que aconteceu em nossa loja de Topanga é preocupante para todos nós.", disse ele. "As perdas por roubo estão em níveis recordes. Consideramos isso inaceitável e [algo] que precisa ser resolvido. Dito isso, embora seja inaceitável, está dentro dos nossos planos. Não observamos um aumento contínuo no encolhimento [do estoque] além do que havíamos planejado".

Apesar do que a Nordstrom disse, os roubos estão superando a maioria das previsões.

"Nosso lucro no segundo trimestre ficou abaixo de nossas expectativas devido, em grande parte, ao impacto do alto índice de perda de estoque, um problema crescente que afeta muitos varejistas", disse Lauren Hobart, CEO da Dick's Sporting Goods, um grupo de artigos esportivos com mais de 850 lojas em todo o país e vendas anuais de mais de US$ 12 bilhões (60 bilhões de reais), na conferência de resultados com analistas.

Hobart referiu-se ao "crime organizado no varejo e aos furtos em geral" como "um problema crescente que afeta muitos varejistas".

"O número de incidentes e o impacto do crime organizado no varejo foram significativamente maiores do que havíamos previsto", acrescentou o diretor financeiro da empresa, Navdeep Gupta.

O diretor financeiro da Foot Locker, Michael Baughn, também alertou em sua reunião com analistas: "continuamos observando altos níveis de encolhimento". O setor costuma usar eufemismos como encolhimento ou encolhimento desconhecido — que inclui extravio, deterioração e roubo, tanto externo quanto de funcionários. Cada vez mais, no entanto, as empresas preferem chamar o fenômeno pelo nome. Ao anunciar o fechamento de nove lojas, a Target declarou: "Não podemos mais operar essas lojas porque o roubo e o crime organizado no varejo ameaçam a segurança de nossa equipe e de nossos clientes".

Antes do anúncio, Brian Cornell, presidente e CEO da Target, já havia denunciado "uma quantidade inaceitável de furtos em lojas e crime organizado no varejo" durante uma apresentação de resultados da empresa.

"E, infelizmente, os incidentes de segurança associados a furtos em lojas estão indo na direção errada. Nos primeiros cinco meses deste ano, nossas lojas registraram um aumento de 120% nos incidentes de furto em lojas ou ameaças de furto em lojas", explicou.

Ondas de roubos

Esse tipo de roubo, especialmente os violentos, disparou os alarmes sociais nos EUA, embora não sejam exatamente novos. Em geral, ondas assim surgem rápido e são sazonais. A Califórnia sofreu uma onda intensa por volta do Natal de 2021 que levou o governador, o democrata Gavin Newsom, a prometer US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) em investimentos em segurança por três anos. Assim, aumentou-se o aparato policial em shoppings e estabelecimentos que haviam sido alvo dos criminosos, como joalherias.

As cinco áreas metropolitanas mais afetadas por episódios assim são

Em meados de setembro, o governador da Califórnia lembrou que ainda há cerca de US$ 267 milhões (R$ 1,3 bilhão) disponíveis para atender 55 departamentos de polícia e delegacias. O dinheiro financiará equipes de investigação e reforçar o número de policiais no outono (primavera no Brasil), a alta temporada do comércio.

Os setores conservadores argumentam que a proliferação de assaltos na Califórnia é resultado da aprovação da Proposta 47, também conhecida como Lei dos Bairros e Escolas Seguras, em 2014 — um referendo que tornou alguns crimes contra a propriedade menos graves se o infrator não tiver antecedentes criminais, com o objetivo de aliviar a superlotação das prisões do estado, o mais populoso dos EUA.

Ativistas favoráveis à reforma, como a ONG União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), argumentam que o projeto de lei não é responsável pelo aumento dos furtos. De acordo com a legislação californiana, qualquer pessoa que roube itens com valor superior a US$ 950 está cometendo um crime. No estado de Washington, onde incidentes semelhantes também foram registrados, o teto é ainda mais baixo, de US$ 750. Texas e outros estados têm um teto mais alto ainda, de até US$ 2.500, para classificar crimes de baixo risco.

Aumento nos crimes contra o patrimônio

As autoridades democratas da Califórnia argumentam que ninguém que comete esses crimes fica impune, como afirmam os políticos republicanos quando apontam que a região tem leis brandas em relação ao crime. No ano passado, foram cometidos 2.313 crimes contra a propriedade, um aumento de 6,2% em relação a 2021. Rob Bonta, um promotor público estadual, tentou encarar isso de forma otimista, afirmando neste verão (inverno no Hemisfério Sul) que o número estava longe do recorde histórico de 6.800 documentado em 1980.

O fenômeno não se limita à Califórnia. "Os varejistas estão observando níveis de roubo sem precedentes, juntamente com a criminalidade desenfreada em suas lojas, e a situação está se tornando cada vez mais grave", disse o vice-presidente de proteção de ativos e operações de varejo da Federação Nacional do Comércio (NRF, na sigla em inglês), David Johnston, em comunicado. "Muito além do impacto financeiro desses crimes, as preocupações com a violência e a segurança continuam sendo a prioridade de todos os varejistas, independentemente do tamanho ou da categoria."

Os varejistas sofreram um aumento dramático nas perdas financeiras decorrentes de roubos. No ano passado, elas chegaram a US$ 112,1 bilhões (R$ 565,4 bilhões) — superior aos US$ 93,9 bilhões (R$ 473,6 bilhões) em 2021, segundo a Pesquisa Nacional de Segurança no Varejo 2023 divulgada esta semana. O valor inclui roubos externos e de funcionários. A pesquisa também afirma que, com a violência em alta, cada vez mais varejistas estão optando por não intervir para deter os ladrões de lojas: 41% afirmam que nenhum funcionário está autorizado a impedi-los ou pará-los.

As empresas estão reforçando suas equipes de segurança, contratando mais seguranças, armazenando cada vez mais mercadorias de baixo valor em caixas trancadas e bloqueando e restringindo as entradas e saídas das lojas para evitar saques. Até o momento, porém, isso não tem sido suficiente. Diante da criminalidade, 30% das empresas optaram por reduzir ou variar a seleção de produtos nas lojas, 45% reduziram o horário de funcionamento e 28%, como a Target, optaram pela solução mais drástica: fechar as lojas.

Ainda mais drástica, no entanto, é a visão do ex-presidente americano e favorito no Partido Republicano nas eleições do ano que vem, Donald Trump. Em visita à Califórnia na sexta, ele disse como resolveria o problema:

"Se você roubar uma loja, pode esperar ser baleado na saída. Baleado!".

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