Mundo

EUA e Cuba encerram debate migratório em encontro histórico

Os Estados Unidos e Cuba encerraram discussão sobre temas migratórios, no primeiro dia de históricas conversações em Havana

O presidente americano, Barack Obama: "estamos pondo fim a uma política que deveria ter terminado faz tempo" (Mandel Ngan/AFP)

O presidente americano, Barack Obama: "estamos pondo fim a uma política que deveria ter terminado faz tempo" (Mandel Ngan/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2015 às 19h44.

Havana - Os Estados Unidos e Cuba encerraram, nesta quarta-feira, uma "produtiva" e "construtiva" discussão sobre temas migratórios, no primeiro dia de históricas conversações em Havana para preparar o restabelecimento de relações diplomáticas depois de meio século.

"A natureza produtiva e colaborativa da discussão de hoje prova que, apesar das claras diferenças que persistem entre os nossos países, os Estados Unidos e Cuba podem encontrar oportunidades para avançar em nossos interesses compartilhados mutuamente", disse à imprensa Alex Lee, chefe da delegação americana no diálogo migratório, o primeiro após a reconciliação entre os dois países, anunciada em 17 de dezembro.

A chefe da delegação cubana, Josefina Vidal, saudou o "construtivo" diálogo migratório celebrado na véspera de um encontro dedicado ao restabelecimento das relações diplomáticas, mas criticou que os Estados Unidos mantenham a Lei de Ajuste Cubano de 1966 e a política de pés secos/pés molhados para os migrantes ilegais que deixam a ilha.

Lee disse que Washington manterá a Lei de Ajuste, que concede aos cubanos privilégios que nenhum outro imigrante tem nos Estados Unidos, assim como a política de pés secos/pés molhados, aplicada nos últimos 20 anos, que permite aos cubanos ilegais que pisarem em solo americano ficar legalmente no país, mas aqueles que são capturados no mar, são devolvidos à ilha.

"Explicamos ao governo de Cuba que o meu governo está completamente comprometido com o respeito à Lei de Ajuste Cubano" e com a política de pés secos/pés molhados", disse Lee.

Vidal afirmou, ainda, que Washington continua estimulando a deserção de médicos cubanos que cumprem missões em países terceiros, o que chamou de "roubo de cérebros".

"Apontamos que (isso) não corresponde ao contexto bilateral atual das relações entre Cuba e Estados Unidos", afirmou, acrescentando que "Cuba pretende ter uma relação normal com os Estados Unidos, no sentido mais amplo, mas também na área migratória".

Restabelecimento de relações

As duas partes abordarão na quinta-feira o restabelecimento de relações, com a participação da secretária de Estado para o hemisfério ocidental, Roberta Jacobson, que chegou na ilha na quarta-feira, tornando-se a funcionária americana de mais alto nível a visitar Cuba em 35 anos.

Estas conversações a portas fechadas são celebradas no Palácio de Convenções de Havana, cinco semanas depois da histórica reconciliação anunciada pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro.

"Nossa mudança de política com relação a Cuba tem o potencial para terminar com um legado de desconfiança no nosso hemisfério", afirmou Obama, na terça-feira, em discurso sobre o estado da União, em alusão à aproximação com a ilha, comemorado no mundo inteiro.

"Estamos pondo fim a uma política que deveria ter terminado faz tempo. Quando a gente faz algo que não funciona durante 50 anos, é hora de tentar algo novo", acrescentou o presidente americano, que pediu ao Congresso que comece a trabalhar este ano para suspender o embargo econômico na ilha, vigente desde 1962.

As duas partes devem fixar na quinta-feira o mapa do caminho para a normalização de relações e a reabertura de embaixadas, a fim de sepultar o último vestígio da Guerra Fria na América.

O último alto funcionário americano a visitar a ilha comunista foi o então vice-secretário de Estado Peter Tarmoff, que em 1980 conversou com o então presidente, Fidel Castro, agora com 88 anos e afastado do poder desde 2006, que tem sido a grande ausência da histórica reconciliação entre os dois países.

"Concordamos em que estamos em desacordo"

Dois temas preocupam particularmente Havana: o embargo econômico e a permanência de Cuba na lista americana de países que patrocinam o terrorismo, o que priva a ilha de créditos internacionais.

Washington disse que a revisão da lista "está em andamento" e que Cuba poderia ser retirada antes da reabertura das embaixadas, fechadas em 1961, após o rompimento das relações diplomáticas.

O embargo, ao contrário, só pode ser suspenso pelo Congresso, dominado pela oposição republicana, o que pode complicar os esforços do democrata Obama.

Os Estados Unidos advertiram, no entanto, que manterão o compromisso com os direitos humanos na ilha. De fato, Jacobson convidou para um café-da-manhã na sexta-feira dissidentes cubanos em Havana.

Apesar de o diálogo migratório ter sido encerrado sem anúncios concretos, os dois países conseguiram concordar nesta quarta-feira em um ponto: que têm desavenças em vários temas.

"Pelo menos concordamos que estamos em desacordo sobre alguns temas", disse à imprensa o número dois da delegação cubana, Gustavo Machín.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCubaDiplomaciaEstados Unidos (EUA)ImigraçãoPaíses ricos

Mais de Mundo

Reabertura da Notre-Dame: Macron celebra o resultado da restauração

Projeto de lei sobre suicídio assistido avança no Parlamento do Reino Unido

ONU adverte que o perigo da fome “é real” na Faixa de Gaza

Agência da ONU pede investigação de abusos após cessar-fogo no Líbano