Mundo

EUA 2020: Trump se lança à reeleição em meio a números desanimadores

Lutando para superar o baixo nível de aprovação e projeções favoráveis aos democratas, Donald Trump lança campanha pela reeleição na Flórida

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: republicano lançará campanha para a reeleição em 2020 (Leah Millis/Reuters)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: republicano lançará campanha para a reeleição em 2020 (Leah Millis/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 18 de junho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 18 de junho de 2019 às 11h37.

Em março de 1991, o então presidente dos Estados Unidos Bush, recém-saído de uma vitória na Guerra do Golfo, tinha o apoio de quase 80% do eleitorado. Bush era considerado tão imbatível para sua reeleição em 1992 que os Democratas tiveram dificuldade em garantir nomes de peso para suas primárias. Àquela altura, o governador de Nova Iorque Mario Cuomo (pai do atual governador Andrew Cuomo) era considerado favorito para a nomeação pelo partido Democrata. No ano seguinte, Bush perdeu as eleições para o Democrata Bill Clinton.

A eleição de 1992 é apenas um entre tantos outros exemplos para ilustrar como o clima político nos Estados Unidos pode mudar entre hoje e as eleições. Ao lançar oficialmente sua campanha para reeleição na Florida, Trump se vê diante de números pouco auspiciosos.

Praticamente todas as pesquisas mais recentes mostram o Republicano perdendo para quaisquer dos principais candidatos Democratas nas eleições americanas em 2020. Ao contrário de 1991, em 2019 um presidente que jamais atingiu mais de 50% de aprovação serviu como estímulo para que um séquito de candidatos Democratas se apresentasse para ter a chance de enfrenta-lo nas eleições presidenciais. Atualmente, somam 24 os principais rivais, um recorde histórico.

Um outro aspecto importante da eleição de 1992 é que a não-reeleição de Bush foi surpreendente não apenas por causa da sua enorme popularidade 20 meses antes. Desde que a 22ª emenda à constituição dos Estados Unidos - permitindo apenas uma reeleição - foi aprovada em 1947, onze presidentes foram eleitos. Desses, Bush foi apenas o terceiro a não ser reeleito.

Se excluirmos o caso de Gerald Ford em 1976, que assumiu com a renúncia de Nixon em 1975 (e nunca foi efetivamente eleito nem como vice-presidente já que não estava na chapa de 1972), apenas Jimmy Carter e Bush não conseguiram se reeleger. Portanto, se Trump não for bem-sucedido na sua campanha em 2020, irá contrariar uma tendência histórica.

Mais do que George Bush pai, Trump deve estar mirando em George Bush filho. Com a popularidade em queda após ter atingido um recorde histórico de 90% com os atentados de 11 de setembro de 2001, a reeleição de Bush em 2004 era incerta. Todos os presidentes que haviam sido reeleitos desde a segunda metade do século XX, tinham taxas de aprovação bem acima dos 50% em junho do ano da eleição. Clinton em 1996 tinha 58%, Reagan tinha 54% em 1984, e Nixon 56% em 1972.

Aqueles que foram derrotados, por outro lado, estavam bem abaixo desse patamar. Ford, Carter e Bush pai tinham respectivamente 45%, 32% e 37% na mesma altura de suas campanhas. Com 48% de aprovação em junho de 2004, a situação de Bush era incerta. As pesquisas de então mostravam o Democrata John Kerry à frente por 50% a 44%. Quando as urnas foram abertas em novembro de 2004, Bush venceu Kerry por 50,73% a 48,27% e foi reconduzido a um segundo mandato com uma margem de vitória mais robusta do que a obtida na contestada eleição de 2000, quando, assim como Trump, Bush perdeu no voto popular mas levou no Colégio Eleitoral.

Entretanto, ao contrário de Bush e todos os demais presidentes, um aspecto bastante característico da presidência de Trump tem sido a inédita constância com que ele tem permanecido na faixa dos 40-45% de aprovação. O atual mandatário é o único presidente desde que as pesquisas de aprovação presidencial foram estabelecidas nos Estados Unidos na década de 1930 a jamais ter superado os 50% de aprovação. Tirando o recorde de Bush filho em 2001, 4 presidentes em algum momento atingiram entre 70%-80% e 6 atingiram entre 60%-70%. O pico histórico mais baixo registrado desde Roosevelt até Obama foi os 66% de Nixon em janeiro de 1973.

Trump, que costuma tuitar festivamente cada vez que aparece na sua mesa uma pesquisa que lhe dá 50% de aprovação, pode apenas sonhar com números como esse. Nesse sentido, caso o Republicano não consiga melhorar seus índices de aprovação consideravelmente nos próximos 12 meses, lhe restará apenas um único exemplo histórico como inspiração: Harry Truman que, apesar dos 39% de aprovação em junho de 1948, conseguiu uma das mais surpreendentes vitórias da história das eleições americanas, em novembro daquele ano.

Mesmo um dia antes das eleições, as pesquisas mostravam a derrota de Truman para o Republicano Thomas Dewey, e alguns jornais famosamente chegaram a estampar a vitória de Dewey nas suas manchetes.  A foto de Truman sorridente segurando a primeira página do jornal Chicago Tribune na manhã seguinte das eleições onde se lia em letras garrafais “DEWEY DEFEATS TRUMAN” imortalizou a gafe. Trump, é bom lembrar, venceu as eleições de 2016 contra todos os prognósticos.

Tal como a manchete do Chicago Tribune, a estimativa do New York Times no dia das eleições de que Hillary Clinton tinha 85% de chances de vitória serve como uma lembrança de que, ainda que pesquisas sejam importantes, é sempre mais seguro esperar a apuração dos votos.

*Carlos Gustavo Poggio é professor dos cursos de relações internacionais da FAAP e da PUC-SP, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, e coordenador do NEPEU – Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEleições americanasEstados Unidos (EUA)Partido Democrata (EUA)Partido Republicano (EUA)

Mais de Mundo

Polícia da Zâmbia prende 2 “bruxos” por complô para enfeitiçar presidente do país

Rússia lança mais de 100 drones contra Ucrânia e bombardeia Kherson

Putin promete mais 'destruição na Ucrânia após ataque contra a Rússia

Novo líder da Síria promete que país não exercerá 'interferência negativa' no Líbano