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Estudo cita crises humanitárias esquecidas pela imprensa mundial

Enquanto o mundo acompanhou o sofrimento em Aleppo e a ofensiva militar em Mosul, outras crises humanitárias nunca conseguiram destaque nos jornais

Fome: "a cada dia famílias do mundo todo vivem em constante temor por sua sobrevivência" (Thinkstock/Reprodução)

Fome: "a cada dia famílias do mundo todo vivem em constante temor por sua sobrevivência" (Thinkstock/Reprodução)

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EFE

Publicado em 18 de janeiro de 2017 às 14h32.

Última atualização em 18 de janeiro de 2017 às 16h08.

Genebra - A escassez de alimentos que arrasou a Eritreia, o conflito político no Burundi e a seca em Madagascar foram as crises humanitárias mais ignoradas pelos veículos de imprensa em 2016, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira pela ONG Care International.

Enquanto o mundo acompanhou passo a passo o sofrimento dos civis em Aleppo (Síria) durante as operações do exército para expulsar os rebeldes e a ofensiva militar para recuperar Mossul (Iraque) do controle dos terroristas do Estado Islâmico, outras crises humanitárias nunca conseguiram destaque nos jornais.

Oito das dez crises de fome, desastres naturais ou conflitos armados mencionados pela Care International acontecem na África Subsaariana, enquanto as outras duas ocorrem na Coreia do Norte e Papua Nova Guiné.

As dificuldades que encontram os trabalhadores humanitários e jornalistas para chegar às zonas afetadas e a rapidez com que se perde o interesse por uma crise concreta são duas das principais razões pelas quais tais temas acabam sendo esquecidas.

Foi o caso da crise de fome que afetou no ano passado dois milhões de eritreus. A impossibilidade de acessar as regiões mais castigadas fez com que o problema passasse despercebido pela imprensa internacional.

Do mesmo modo, o caos em que está imerso o Burundi - o segundo país mais esquecido - pela decisão do presidente Pierre Nkurunziza de se candidatar a um terceiro mandato consecutivo, os protestos que isso provocou e a repressão que seguiu impediram os jornalistas de informar sobre o conflito.

Por isso, o mundo praticamente não recebeu informação adequada sobre a situação de mais de três milhões de burundineses que precisam de ajuda vital para sobreviver.

Apesar do papel autoritário e dos testes nucleares do regime da Coreia do Norte ocuparem grande espaço na mídia, a delicada situação de sua população tende a ser ignorada dada a pouca informação disponível.

O estudo apresentado nesta quarta-feira revela que 70% dos norte-coreanos sofrem de escassez de alimentos e que dois milhões de crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas estão em risco de desnutrição.

Por outro lado, as secas em Madagascar e Papua Nova Guiné, que deixaram aproximadamente 1,5 milhão de pessoas desnutridas em cada caso, também passaram em branco.

É igualmente destacável a pouca atenção que dada à deterioração da situação humanitária na região do Lago Chade - Níger, Nigéria, Camarões e Chade -, que sofre com ataques do grupo jihadista Boko Haram e onde há 21 milhões de afetados, dos quais 9,2 milhões estão em situação crítica.

Além disso, as consequências dos enfrentamentos armados na República Democrática do Congo, na República Centro Africana e no Sudão também foram altamente ignoradas pelos meios de comunicação, segundo o estudo.

As fortes chuvas e inundações que afetaram mais de quatro milhões de pessoas em Bangladesh fecham a lista elaborada a partir da análise da frequência com que são mencionados nos veículos de imprensa mais de 30 desastres naturais e conflitos que afetavam pelo menos um milhão de pessoas.

O objetivo da Care International é fazer entender a relação entre a cobertura da mídia e as iniciativas de arrecadação de fundos para aliviar a situação das vítimas das diversas crises no mundo.

"A cada dia famílias do mundo todo vivem em constante temor por sua sobrevivência, seja por bombas que caem sobre seus bairros vizinhos ou porque as inundações ou as secas destroem seus campos e seus bens. Eles merecem que suas histórias sejam contadas", comentou o diretor de operações humanitárias da ONG, Philippe Guiton.

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