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Estrutura de poder de Kadafi está se esfacelando, dizem especialistas

Governante da Líbia tenta jogar tribos umas contra as outras, como estratégia de enfraquecer a oposição

Protesto em Tobruk, na Líbia: ponto forte do governo é no sul, onde fica a tribo de Kadafi (AFP)

Protesto em Tobruk, na Líbia: ponto forte do governo é no sul, onde fica a tribo de Kadafi (AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 19h43.

Cairo - Durante décadas, Muamar Kadafi explorou as rivalidades tribais e políticas da Líbia para consolidar seu poder, mas o sistema que instaurou começa a se esfacelar, à medida que a rebelião ganha terreno no país, acreditam analistas.

Quando tomou o poder, em 1969, Kadafi rapidamente mostrou-se um personagem imprevisível e belicista, cuja prioridade parecia ser a destruição das estruturas de governo existentes para instalar um controle das pessoas apoiado por uma potente rede de segurança.

Em 1977, Kadafi declara a Líbia uma "jamahiriya" (república popular) e propõe uma alternativa ao capitalismo e ao socialismo, que teoricamente daria o poder diretamente para o povo.

Na realidade, porém, Muamar Kadafi passou a exercer controle absoluto. Na ausência de partidos políticos, ilegais, e graças a grupos sociais de uso cosmético, qualquer dissidência era prontamente amordaçada pelos poderosos comitês populares - e sobretudo por membros da tribo dos Gadadfa, da qual é oriundo.

Os membros dos comitês revolucionários, estrutura mais parecida com um partido político, eram escolhidos cuidadosamente nas tribos em função de sua fidelidade ao líder.

Muamar Kadafi também fazia com que as tribos se enfrentassem entre si, assegurando desta maneira que nenhuma coalizão ampla pudesse modificar o equilíbrio do poder com uma união contra ele.


As afiliações tribais desempenharam durante um bom tempo importante papel neste país rico em petróleo, oferecendo redes sociais que serviam para avançar na carreira, na pirâmide social e para arranjar casamentos vantajosos. Entretanto, sua importância política atual está menos clara, com a centralização do poder em Kadafi.

"Os chefes das tribos têm menos influência do que seus membros devido à urbanização e ao desenvolvimento", explica Mohamad Fadel, pesquisador líbio independente baseado em Londres.

"As tribos funcionam da mesma maneira que uma família, com desacordos políticos como no interior de um círculo familiar", afirma.

Na segunda-feira, Saif al Islam, o influente filho do coronel Kadafi, advertiu que a Líbia pode sucumbir a uma guerra civil - uma forma de dizer que os enfrentamentos que já mataram centenas de pessoas na semana passada são de origem tribal.

Parece, no entanto, que os combates opõem o regime e a população, independente das tribos às quais pertencem.

"Kadafi conseguiu criar um equilíbrio entre as tribos e os clãs, mas este sistema já estava se esfacelando. Hoje, esta estrutura de poder está caindo. Algumas tribos estão deixando que caia", indica por sua vez Delphine Perrin, especialista em África do Norte do Instituto Universitário Europeu de Florença (Itália).

Ao longo dos anos, Muamar Kadafi se esforçou sobretudo para reforçar a própria tribo, fornecendo armas e dinheiro.

"Seu ponto forte é o sul (Sebha), de onde vem sua tribo e de onde traz os mercenários do Chade", diz um especialista da Líbia que pediu o anonimato.

O chefe dos serviços secretos, Abdallah Sanusi, e o ex-braço direito de Kadafi, o temido Abdelsalam Khalud, pertencem às duas outras grandes tribos do sul, os Mgerha e os Hsauna.

"Para fazer com que Kadafi caia, é preciso começar por esta região", destaca este analista.

Nos últimos dias, alguns chefes tribais, incluindo os de Werfalla, a maior da Líbia, declararam apoio à oposição.

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