Tayyip Erdogan, primeiro-ministro da Turquia, com Barack Obama e líder religioso (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2011 às 20h32.
Ancara - O primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, que conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições legislativas deste domingo, é uma figura carismática do islamismo político, cujas declarações, muitas vezes polêmicas, deixam alguns em dúvida quanto ao futuro da democracia turca.
Conhecido pela sinceridade de suas frases e às vezes pela agressividade contra a imprensa ou seus opositores, este ex-prefeito de Istambul, de 57 anos, passou pelo islamismo político antes de se tornar a "democracia conservadora", como ele mesmo define a linha do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002.
Uma evolução que não convence a oposição laica, comprometida com os princípios da República de Ataturk, o acusa de querer "islamizar" a sociedade turca, ou pelo menos de acompanhar esta evolução.
Considerado durante o primeiro mandato como um importante reformador que tentava democratizar a sociedade frente à influência política dos militares, em 2005 dando início às negociações para a adesão do país na União Europeia, hoje paralisadas.
Durante o segundo mandato (2007-2011) foi saudado por restabelecer a economia, apesar da crise mundial. En 2010, a Turquia registrou uma taxa de crescimento de 8,9%.
Após a vitória acachapante do seu partido nas eleições legislativas de 2007, muitos analistas veem em Erdogan tendências populistas e autocráticas, assim como a vontade de orientar a diplomacia turca para o Oriente Médio, principalmente o Irã, em detrimento da Europa e dos tradicionais aliados da OTAN, da qual a Turquia faz parte.
Durante a campanha chamou os manifestantes antigovernistas de "bandidos", sem nenhum apreço pelo infarto de um quinquagenário, intoxicado pelos gases lacrimogêneos da polícia.
Ele também defendeu a prisão de jornalistas acusados de terem participado de supostas conspirações contra o governo, comparando-os com "bombas" prestes a explodir.
Nascido nos bairros pobres de Istambul, Erdogan afirma já ter vendido doces na infância para pagar os estudos do Alcorão.
Seu acesso ao posto de primeiro-ministro foi em março de 2003, vários meses depois do AKP ter chegado ao poder e modificar as leis que proibiam, desde 1997, a atividade política.
Quando era prefeito de Istambul, Erdogan recitou durante uma manifestação um poema de conotações islamitas, que lhe rendeu quatro meses de prisão e a perda dos direitos políticos.
No início da militância islamita, quando ainda estava na universidade, se juntou ao movimento de Necmettin Erbakan, seu mentor político, que morreu este ano.
O mentor se tornou o primeiro chefe de governo islâmico da Turquia em 1996, antes de ser expulso do poder um ano depois pela pressão do exército e dos grupos laicos.
Erdogan, eleito prefeito de Istambul em 1994, se tornou muito popular pela gestão eficaz dos serviços municipais.
A renúncia forçada, em 1997, de Erbakan, assim como a proibição do seu partido motivaram, no entanto, Erdogan e seus seguidores "modernistas" a revisar suas visões políticas.
Após sair da prisão, declarou que havia rompido com seu passado islamita, afirmando seu compromisso com os valores pró-ocidentais e com o laicismo.
Erdogan ainda é um muçulmano praticante, que não consome bebidas alcoólicas e cuja esposa e filhas usam o véu.