Epidemias já fizeram 3 bilhões de vítimas no mundo
Do ponto de vista histórico, o coronavírus ainda é um mal menor. Por causa das rotas comerciais, doenças assolaram principalmente a Europa
Fabiane Stefano
Publicado em 17 de março de 2020 às 19h39.
Última atualização em 18 de março de 2020 às 14h05.
Pode parecer até exagero, mas nos últimos 1.500 anos mais de 3 bilhões de pessoas no mundo morreram em decorrência de doenças provocadas por novos vírus e bactérias. Do ponto de vista histórico, portanto, o número de vítimas fatais do coronavírus é ainda pequeno: quase 8.000 mortos no mundo.
Por volta do ano 540, muita gente pensou que o mundo ia acabar. Marinheiros de navios mercantes do Mar Negro, entre a Europa e a Turquia, começaram a morrer repentinamente. Em geral, os navios atracavam em portos da Itália.
A doença ficou conhecida como praga de Justiniano, nome do imperador romano da época. As embarcações chegavam com ratos infectados por pulgas que carregavam uma bactéria mortal para os seres humanos.
Os infectados apresentavam inchaço nos nódulos linfáticos, no pescoço, virilha e axilas, além de necrose nas mãos e nos pés. O vírus acabava matando o doente em poucos dias. A doença chegou ao norte da África e ao Oriente Médio. Também se alastrou pela Europa. Mais de 30 milhões de pessoas morreram.
“As primeiras epidemias foram causadas por bactérias endêmicas em roedores, como acontece até hoje”, diz Dave Wagner, professor de ciências biológicas na Northen Arizona University e autor de estudos sobre as primeiras bactérias que dizimaram populações.
“A diferença é que hoje existem os antibióticos.” A penicilina, descoberta em 1928, marcou um passo importante no combate às infecções bacteriológicas. “Como os vírus geralmente têm uma grande capacidade de mutação, são eles que mais nos afetam atualmente”, afirma.
A falta de boas condições sanitárias e remédios fizeram com que milhões de pessoas não resistissem às infecções. A pior delas foi a peste negra, que surgiu em 1346. “A pandemia começou quando os chineses atacaram embarcações mercantes italianas no litoral da Crimeia para interromper o fluxo do comércio europeu”, diz o historiador Ole Benedictow, professor emérito de história na Universidade de Oslo, na Noruega e autor do livro A Peste Negra, 1346-1353: a História Completa.
“Os navios voltaram para a Itália, de onde a doença se espalhou para a toda a Europa, o norte da África e o Oriente Médio, em boa parte devido ao comércio entre essas regiões”, afirma.
A doença foi provocada por uma nova cepa da bactéria que causou a praga de Justiniano. Com mais gente morando nas cidades, muitas vezes em locais insalubres, o número de mortos ultrapassou a casa dos 65 milhões.
A peste provocava gangrena nas extremidades do corpo, que ficavam negras. Mas não era só isso. Os doentes tinham febre alta, complicações pulmonares e fortes dores. Para se proteger, muita gente começou a usar máscaras de metal, equivalentes às atuais máscaras de papel. Ervas eram usadas para purificar as casas e espantar as pulgas que transmitiam a doença.
No século 16, os historiadores desistiram de catalogar o surgimento de novas doenças, tal a quantidade delas. A boa notícia é que as pragas não eram tão virulentas. Ocorreram surtos de febre amarela, tifo, sarampo, hepatite e lepstospirose principalmente na Europa. Cerca de 3 milhões de pessoas morreram.
A gripe espanhola, provocada por um vírus, assombrou o mundo em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial. Mais de 75 milhões de pessoas morreram, globalmente, em razão da primeira versão do H1N1.
A boa notícia é que com a invenção da penicilina e a evolução da ciência, foi ficando mais fácil criar novos tratamentos e vacinas. Claro, isso não vale para todas as doenças, ainda mais para aquelas que surgem da mutação de vírus, como Codiv-19.
Na década de 1990, a descoberta de um coquetel antiviral para o HIV ajudou a salvar milhares de vidas. Agora, a nova missão da ciência é desenvolver uma vacina para o novo coronavírus — até lá, o melhor mesmo é seguir as recomendações da comunidade médica e se proteger.
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