MAURICIO MACRI: contra candidato kirchnerista, por que não medidas kirchneristas? (Denis Balibouse/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2019 às 19h02.
Última atualização em 14 de agosto de 2019 às 20h24.
A crise instalada com os resultados das prévias eleitorais argentinas, que colocaram Alberto Fernández 16 pontos à frente de Mauricio Macri, ganhou um novo e surrealista capítulo nesta quarta-feira. Macri deixou o chapéu de presidente reformista de lado e e se rendeu ao populismo curto-prazista. A sua corrida é para reverter a vantagem da oposição até 27 de outubro, data do primeiro turno das eleições presidenciais.
Ele anunciou um pacote de medidas emergenciais que incluem o segundo aumento de salário mínimo do ano, bônus salariais para funcionários da iniciativa privada e públicos, alívio da carga tributária para a classe média, uma moratória para pequenas e médias empresas e o congelamento dos preços dos combustíveis por 90 dias. “Essas medidas são porque escutei o que vocês quiseram me dizer no domingo”, afirmou.
Analistas políticos e econômicos ouvidos por EXAME afirmam que o pacote deve ter pouco efeito prático para estimular a economia, além de trazer ainda mais incertezas para investidores internacionais. Agora, sobrou-lhes a opção do candidato kirchnerista ou do governante disposto a tudo. “A pior coisa que pode acontecer agora, tanto para a popularidade de Macri quanto para a Argentina, é o presidente virar populista”, disse a EXAME Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do banco Goldman Sachs.
A economista Marina Dal Poggetto, diretora da consultoria EcoGo, afirma que o país vive uma anomalia provocada pelo sistema eleitoral. As prévias realizadas dois meses antes das eleições gerais dão brecha para um vale-tudo nas próximas semanas. “O país precisa sobreviver até outubro. Macri deveria reconhecer a derrota, mas está dobrando a aposta. Ele adotou um aperto monetário e fiscal excessivamente rigorosos durante seu mandato e agora lança um plano contrário a seu programa de governo”, diz.
A dúvida restante é se o movimento desta quarta-feira mira apenas as eleições de outubro, ou pode representar uma mudança de postura para o segundo mandato. Para Martín Ravazzani, economista da consultoria Ecolatina, o pacote é “uma resposta conjuntural diante da adversidade eleitoral”. “Em nenhum momento nem Macri nem seus assessores manifestaram que possa existir outro rumo além daquele iniciado por seu governo no fim de 2015”, diz.
O problema: em nenhum momento Macri esteve tão pressionado quanto agora. Também nesta quarta-feira, o presidente telefonou para seu adversário para tratar de acalmar as divisões políticas no país. Fernández disse ao jornal Clarín que a ligação “foi uma boa forma de tentar levar tranquilidade ao país e aos mercados”.
A guinada de Macri não surtiu efeito na bolsa: o índice Merval fechou a quarta-feira em queda de 1,4%.