Brasília (DF), 29/05/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repórter
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 06h04.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2024 às 07h27.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajou nesta quarta-feira, 28, para Georgetown, na Guiana, para participar da 46ª Cúpula do Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom). Na quinta-feira, 29, espera-se que Lula tenha uma reunião bilateral com o presidente guianense, Irfaan Ali, para tratar das tensões com a Venezuela pela região de Essequibo.
Já na sexta, 1º de março, Lula vai à Ilha de São Vicente e Granadinas para participar da Cúpula da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac), onde discursará. Mas as atenções estarão voltadas mesmo para o aguardado encontro com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que também terá a ilha como palco.
Em entrevista coletiva, a embaixadora e secretária de América Latina do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Gisela Padovan, salientou a boa relação que o Brasil tem com os dois países. "O presidente Lula está indo porque foi convidado para se reaproximar da Caricom. Agora, ele estando lá, não vai perder a oportunidade de se reunir com o presidente Ali e apresentar uma agenda bilateral. Talvez ele felicite o presidente Ali por ter aceitado sentar-se com a Venezuela para tentar resolver a crise", disse a embaixadora na última sexta.
Em janeiro deste ano, na crista da crise entre Venezuela e Guiana, o Palácio do Itamaraty recebeu os chanceleres dos dois países sob mediação do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira. "Por enquanto, a gente não resolveu o problema, não é um problema simples, mas conseguimos que os países se sentassem e começassem um diálogo, que não é curto, não é simples, mas começou", afirmou Gisela, do Itamaraty.
Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que ambos os encontros que acontecem nesta semana são importantes sobretudo para reafirmar a neutralidade brasileira no conflito.
"No início, o Brasil não foi a primeira opção para mediar este diálogo. Havia uma certa desconfiança, até pela proximidade do país com a Venezuela. Tanto que a primeira reunião ocorreu em São Vicente e Granadinas, no Caribe", explica Carolina. Nos meses seguintes, prossegue a professora, o cenário se modificou e o Brasil foi ganhando protagonismo como um vizinho neutro com o interesse de que tudo acabe de forma pacífica.
E é esperado que o Brasil, sendo uma liderança regional, tenha diálogos abertos com todos os seus vizinhos, avalia Carolina.
A despeito da recente opinião controversa de Lula sobre a atuação de Israel na Faixa de Gaza, a professora da Unifesp não aposta em mais polêmica. Ela lembra que é uma política já conhecida do próprio Itamaraty não se envolver em assuntos internos de outros países. "Uma coisa é o Brasil criticar a ação de Israel na Faixa de Gaza, outra coisa é o Brasil criticar a política interna de Benjamin Netanyahu. Da mesma maneira, dificilmente veremos uma crítica mais contundente sobre o que ocorre internamente na Venezuela", diz.
Na pauta do encontro entre Lula e Maduro, devem estar também as eleições na Venezuela.
Um acordo intermediado pelos Estados Unidos com a participação do Brasil estabelece como requisito o agendamente de eleições para o segundo semestre deste ano, definindo a data com pelo menos seis meses de antecedência. Chamado acordo de Barbados, ele também prevê a habilitação de candidatos da oposição para as eleições. No final de janeiro, no entanto, a líder da oposição María Corina Machado teve sua candidatura barrada pela Supremo Corte, o que levantou suspeitas.
Se por um lado o Brasil evita fazer críticas contundentes à política interna de outros países, isso não significa que, nos bastidores, não exista uma preocupação. "Ao mesmo tempo que o Brasil considera que as táticas de isolamento de Maduro não foram efetivas, ele também sabe que a situação política por lá é bastante complicada", afirma Carolina. Até porque, qualquer que seja a crise na Venezuela, há respingos por aqui – como a questão da imigração venezuelana para o norte do país.
Fora isso, a Venezuela acumula dívidas com o Brasil. "Ao mesmo tempo que o Brasil quer manter esse canal de diálogo aberto, esse canal serve para pressionar o governo Maduro, mesmo que isso seja muito mais feito nos bastidores do que publicamente", diz a professora.