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Em Moçambique, etanol de mandioca substitui carvão na cozinha

O investimento no projeto verde pode gerar créditos de carbono negociáveis

Maria Douca prepara alimentos ao lado do fogareiro abastecido a etanol de mandioca: em Moçambique, 85% da energia é obtida da lenha (Jinty Jackson/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2012 às 15h52.

Maputo - A mandioca costuma servir de alimento, mas na casa de Maria Douca, em Moçambique , é combustível para seu novo fogareiro, um artefato visto com entusiasmo pelos promotores deste inovador projeto verde.

Em um momento em que vários países africanos tentam reduzir as pilhas de lenha consumidas para cozinhar, este novo tipo de fogareiro tem uma vantagem: o usuário não precisa de carvão e pode gerar ao vendedor preciosos créditos de carbono altamente negociáveis.

O mecanismo é simples: a empresa de um país industrializado investe em um projeto que reduz as emissões de dióxido de carbono (CO2) em um país em desenvolvimento.

Em troca, obtém créditos de carbono que pode vender a indústrias que precisem reduzir seu balanço de CO2. O projeto moçambicano é operado pelo grupo dinamarquês Novozymes, o Bank of America Merrill Lynch e a empresa americana de capital de risco, Cleanstar.

Em Maputo foram vendidos 200 fogareiros em abril e maio, mas Joseph Hanlon, grande conhecedor da economia local, se mostra cético.

"Nos países em desenvolvimento há centenas, milhares de iniciativas para melhorar as estufas. Funcionam em pequena escala, mas nunca são adotadas pela grande maioria. Há muitas razões para isto. Mudar os métodos de cozinhar é difícil. Os artefatos técnicos demais raramente funcionam", diz.

Mas este fogareiro "é o primeiro verdadeiramente completo. Do ponto de vista ambiental, aporta uma verdadeira redução dos gases de efeito estufa", afirma Abyd Karmali, diretor para mercado de carbono do banco Merrill Lynch.

O entusiasmo é compartilhado pelos moradores de Novozymes, que produzem o etanol de mandioca em uma refinaria do porto de Beira, onde os agricultores são incentivados a vender seus excedentes.

Seu presidente, Steen Riisgaard, pensa em abrir sucursais em Quênia, Tanzânia e Uganda. Para que funcione, diz à AFP, "é necessário que cada elo da cadeia ganhe algo economicamente, senão tudo desmorona".


Em Moçambique, 85% da energia é obtida da lenha.

Para cozinhar, os moradores usam um fogareiro a carvão colocado no chão, fora de casa.

Estes fogareiros causam doenças respiratórias e consomem muito dinheiro, pois o preço do carvão aumentou 100% em três anos.

"Tinha problemas nos olhos quando cozinhava no chão. Lacrimejavam. Além disso, me dava asma", conta Maria, perto dos 60 anos.

Agora, ela pode preparar chá, cozinhar ovos ou legumes dentro de casa. O novo dispositivo em aço inoxidável parece um pequeno fogareiro de acampamento, alimentado com tanques de um a cinco litros de etanol de mandioca, à venda em uma única loja de Maputo, com a marca Cleanstar.

Fascinada, Maria comprou um segundo fogareiro, apesar de custar 25 dólares, uma quantia que costuma sustentar oito pessoas durante uma semana.

Mesmo estando subvencionado, o preço destas estufas é cinco vezes maior às alimentadas a carvão.

No começo, o governo de Moçambique hesitava perante este projeto. Os biocombustíveis, como o etanol de mandioca, são considerados um agravante da crise alimentar, causa de violentos distúrbios em vários países.

O Moçambique, país cuja superfície florestal é a metade da superfície total (800.000 km2), usa menos de 10% de suas terras cultiváveis, o que representa o percentual de ocupação agrícola mais baixo de toda a África austral.

Como consequência, apesar da importância da agricultura na produção de comida, em que trabalha 80% a mão-de-obra, o país precisa importar alimentos. Além disso, há muita desnutrição.

As autoridades finalmente se convenceram, afirmando que "não há contradição entre produzir alimentos e produzir para a agroindústria", segundo o ministro da Agricultura, José Pacheco. "Nosso país é grande", reforça.

Já Maria reduziu em 50% seu consumo de carvão. Continua usando-o para assar carne ou cozinhar pratos que precisam de fogo lento. "É costume. Sempre cozinhamos com carvão", explica.

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Maputo - A mandioca costuma servir de alimento, mas na casa de Maria Douca, em Moçambique , é combustível para seu novo fogareiro, um artefato visto com entusiasmo pelos promotores deste inovador projeto verde.

Em um momento em que vários países africanos tentam reduzir as pilhas de lenha consumidas para cozinhar, este novo tipo de fogareiro tem uma vantagem: o usuário não precisa de carvão e pode gerar ao vendedor preciosos créditos de carbono altamente negociáveis.

O mecanismo é simples: a empresa de um país industrializado investe em um projeto que reduz as emissões de dióxido de carbono (CO2) em um país em desenvolvimento.

Em troca, obtém créditos de carbono que pode vender a indústrias que precisem reduzir seu balanço de CO2. O projeto moçambicano é operado pelo grupo dinamarquês Novozymes, o Bank of America Merrill Lynch e a empresa americana de capital de risco, Cleanstar.

Em Maputo foram vendidos 200 fogareiros em abril e maio, mas Joseph Hanlon, grande conhecedor da economia local, se mostra cético.

"Nos países em desenvolvimento há centenas, milhares de iniciativas para melhorar as estufas. Funcionam em pequena escala, mas nunca são adotadas pela grande maioria. Há muitas razões para isto. Mudar os métodos de cozinhar é difícil. Os artefatos técnicos demais raramente funcionam", diz.

Mas este fogareiro "é o primeiro verdadeiramente completo. Do ponto de vista ambiental, aporta uma verdadeira redução dos gases de efeito estufa", afirma Abyd Karmali, diretor para mercado de carbono do banco Merrill Lynch.

O entusiasmo é compartilhado pelos moradores de Novozymes, que produzem o etanol de mandioca em uma refinaria do porto de Beira, onde os agricultores são incentivados a vender seus excedentes.

Seu presidente, Steen Riisgaard, pensa em abrir sucursais em Quênia, Tanzânia e Uganda. Para que funcione, diz à AFP, "é necessário que cada elo da cadeia ganhe algo economicamente, senão tudo desmorona".


Em Moçambique, 85% da energia é obtida da lenha.

Para cozinhar, os moradores usam um fogareiro a carvão colocado no chão, fora de casa.

Estes fogareiros causam doenças respiratórias e consomem muito dinheiro, pois o preço do carvão aumentou 100% em três anos.

"Tinha problemas nos olhos quando cozinhava no chão. Lacrimejavam. Além disso, me dava asma", conta Maria, perto dos 60 anos.

Agora, ela pode preparar chá, cozinhar ovos ou legumes dentro de casa. O novo dispositivo em aço inoxidável parece um pequeno fogareiro de acampamento, alimentado com tanques de um a cinco litros de etanol de mandioca, à venda em uma única loja de Maputo, com a marca Cleanstar.

Fascinada, Maria comprou um segundo fogareiro, apesar de custar 25 dólares, uma quantia que costuma sustentar oito pessoas durante uma semana.

Mesmo estando subvencionado, o preço destas estufas é cinco vezes maior às alimentadas a carvão.

No começo, o governo de Moçambique hesitava perante este projeto. Os biocombustíveis, como o etanol de mandioca, são considerados um agravante da crise alimentar, causa de violentos distúrbios em vários países.

O Moçambique, país cuja superfície florestal é a metade da superfície total (800.000 km2), usa menos de 10% de suas terras cultiváveis, o que representa o percentual de ocupação agrícola mais baixo de toda a África austral.

Como consequência, apesar da importância da agricultura na produção de comida, em que trabalha 80% a mão-de-obra, o país precisa importar alimentos. Além disso, há muita desnutrição.

As autoridades finalmente se convenceram, afirmando que "não há contradição entre produzir alimentos e produzir para a agroindústria", segundo o ministro da Agricultura, José Pacheco. "Nosso país é grande", reforça.

Já Maria reduziu em 50% seu consumo de carvão. Continua usando-o para assar carne ou cozinhar pratos que precisam de fogo lento. "É costume. Sempre cozinhamos com carvão", explica.

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