O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, durante coletiva de imprensa em Tóquio (Omar Havana /Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 29 de julho de 2024 às 15h25.
Os Estados Unidos estão preocupados com o resultado que proclama Nicolás Maduro vencedor da eleição presidencial na Venezuela porque duvidam que "reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano".
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, em viagem oficial ao Japão, reagiu assim que a autoridade eleitoral, de linha governista, proclamou a reeleição de Maduro com 51,2% dos votos.
Blinken pediu uma recontagem "detalhada" dos votos, o que equivale a questionar o resultado.
"Agora que a votação foi concluída, é de vital importância que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente", disse ele em comunicado.
Blinken expressou sua "séria preocupação de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano".
Um funcionário do governo dos EUA insistiu nessa opinião nesta segunda-feira.
"Os dados que temos sobre esta eleição, que são independentes dos resultados do Conselho Nacional Eleitoral, diferem dos anunciados pelas autoridades venezuelanas", declarou sob anonimato. "Essa discrepância deve ser investigada e abordada antes de podermos concluir esta eleição".
"O campo de Maduro tem que tomar uma decisão clara, se quer ou não continuar com o isolamento, ou avançar para um caminho de reintegração do país no sistema internacional e na comunidade das nações", acrescentou.
Em 2018, os Estados Unidos não reconheceram a reeleição de Maduro, por considerarem-na fraudulenta. Naquela época, Washington anunciou que reconhecia o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como presidente interino do país.
Governava então o republicano Donald Trump, que em 2019 impôs uma bateria de sanções à Venezuela, incluindo um embargo ao petróleo e ao gás, como medida de pressão para tentar provocar a queda de Maduro.
Mas Maduro não caiu e a própria oposição venezuelana pôs fim ao governo provisório em janeiro de 2023.
O presidente democrata Joe Biden optou por uma diplomacia de diálogo com Caracas.
Como moeda de troca, Biden usou as sanções, que flexibilizou como recompensa por compromissos ou concessões de Maduro, para lançar as bases da eleição realizada neste domingo, e as reinstaurou quando Caracas não cumpriu as suas promessas.
Não se sabe o que fará agora que a oposição se proclamou vitoriosa com 70% dos votos.
"Todas as regras foram violadas", disse Edmundo González Urrutia, representante da líder da oposição venezuelana María Corina Machado, que não pôde comparecer devido a uma inabilitação política.
"A Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González Urrutia", disse Machado em entrevista coletiva.
A anunciada crise pós-eleitoral na Venezuela ameaça se infiltrar nas eleições de novembro para a Casa Branca, que serão disputadas por Trump e, muito provavelmente, pela vice-presidente Kamala Harris.
Nesta segunda-feira, o influente senador republicano Marco Rubio criticou os democratas por dialogarem com Maduro, acusado de tráfico de drogas nos Estados Unidos.
Biden e Kamala Harris aliviaram as sanções de Trump como parte de um "acordo" para as eleições na Venezuela, escreveu Rubio na rede social X.
"Hoje foi realizada essa eleição e foi uma fraude completa, o exemplo mais recente de como os nossos inimigos enganaram Biden e Harris repetidamente ao longo dos últimos quatro anos", afirmou.
A congressista republicana María Elvira Salazar acusou Maduro de "tentar roubar as eleições mais uma vez".
A maioria das pesquisas dava ao candidato da oposição a vitória contra Maduro.
O líder chavista prometeu "paz, estabilidade e justiça", mas dias atrás ameaçou um "banho de sangue" se não vencesse a eleição.
Blinken elogiou a "valentia" dos venezuelanos por participarem da eleição e "o seu compromisso com os princípios democráticos face à repressão e à adversidade".
A oposição afirma que cerca de 150 pessoas vinculadas à campanha foram presas, 37 delas nos últimos dois dias.