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Eleições na França: o que você precisa saber do pleito do fim de semana

Macron foi o primeiro presidente a dissolver a Assembleia desde 1997

Cenário de debate entre os principais líderes das coligações das eleições de domingo
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 28 de junho de 2024 às 08h34.

As eleições legislativas antecipadas na França são uma das mais importantes das últimas décadas, tanto para o país como para o resto da Europa. No espaço de duas semanas, a França poderá ter um governo de extrema-direita. Caso nenhum bloco consiga maioria, o país pode cair num impasse político.

As eleições acontecerão em 30 de junho e 7 de julho. Veja o que está em jogo:

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O que houve?

O partido francês de extrema-direita e anti-imigração União Nacional, liderado por Marine Le Pen e o seu "protegido", Jordan Bardella , subiu para o primeiro lugar nas eleições para o Parlamento Europeu, enquanto a coligação centrista liderada pelo partido Renascimento, do presidente Emmanuel Macron, ficou num distante segundo lugar.

“A França precisa de uma maioria clara para avançar com serenidade e harmonia”, disse Macron, explicando porque decidiu convocar eleições legislativas.

Isso envolveu dissolver a Assembleia Nacional com 577 lugares, uma prerrogativa presidencial em França. Macron é o primeiro presidente a fazê-lo desde 1997.

Por que Macron convocou eleições antecipadas?

Quando Macron foi eleito para um segundo mandato em 2022, o seu partido não conseguiu obter uma maioria absoluta. A coligação centrista que ele formou governou desde então com uma pequena maioria – mas teve dificuldades para aprovar certos projetos de lei sem o apoio da oposição.

Macron não tinha obrigação de dissolver o Parlamento, mesmo que o voto europeu lhe tenha deixado um número reduzido, faltando três anos para o fim do seu mandato presidencial.

Mas ele acreditava que uma dissolução se tornara inevitável – os legisladores da oposição ameaçavam derrubar seu governo– e que uma eleição antecipada era a única forma de respeitar a vontade do povo.

“Esta dissolução era a única escolha possível”, escreveu Macron numa carta aos eleitores franceses no domingo depois das eleições europeias.

Estamos prontos”, disse Bardella, presidente do União Nacional, nesta semana.

Pesquisas indicam que os eleitores darão à União Nacional mais de 35% dos votos no primeiro turno no domingo, com uma aliança de esquerda ficando atrás com 29% e os centristas de Macron com menos de 20%.

Quem são principais candidatos?

Em janeiro, Gabriel Attal —aliado de Macron—tornou-se o primeiro-ministro mais jovem da história de França, com 34 anos. Apenas sete meses depois, o seu recorde poderá ser batido por Jordan Bardella, o líder da UN, de 28 anos.

Bardella foi escolhido a dedo por Le Pen para liderar o partido em 2022, pondo fim a um governo de 50 anos da família Le Pen e continuando a limpar o partido do seu passado antissemita. Bardella cresceu como filho único numa habitação social em Seine-Saint-Denis, um subúrbio da classe trabalhadora de Paris. Entrou para o exército aos 16 anos e frequentou por pouco tempo a prestigiada universidade de Sorbonne, antes de desistir para ingressar nas fileiras do partido. Se for nomeado, vai se tornar o mais jovem primeiro-ministro da Europa em mais de dois séculos.

A campanha de Bardella foi reforçada depois de Eric Ciotti, líder do principal partido conservador, os Republicanos, ter anunciado que iria entrar em coligação com a UN. Este anúncio provocou a fúria do seu partido, que tentou destituí-lo - até agora sem sucesso.

À esquerda, quatro dias depois de Macron ter convocado as eleições, um grupo de partidos juntou-se para formar a Nova Frente Popular - uma coligação destinada a ressuscitar a Frente Popular original que impediu os fascistas de chegarem ao poder em 1936. A ampla aliança inclui o três vezes candidato presidencial Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa; o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, comunistas; verdes; e o Place Publique, liderado pelo popular membro do Parlamento Europeu (MEP) Raphaël Glucksmann.

Os problemas da França

Desde que Macron convocou as eleições, os mercados financeiros ficaram assustados - primeiro com a perspetiva de um governo extremista, depois com as políticas econômicas propostas por direita e esquerda. No início deste mês, o prêmio de risco que os investidores exigiam para "ficar" com a dívida pública francesa atingiu o valor mais alto desde 2022.

A França tem um dos déficits mais altos da zona euro e corre agora o risco de não cumprir as novas regras fiscais da Comissão Europeia, que tinham sido suspensas para ajudar os países a se recuperar da pandemia de Covid-19 e da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia. As despesas públicas francesas poderão em breve ser  limitadas por Bruxelas, apesar das promessas generosas da União Nacional e da Nova Frente Popular.

Como funcionam as eleições?

A Assembleia Nacional de França tem 577 cadeiras, um para cada um dos seus distritos eleitorais. Para obter a maioria absoluta, um partido precisa de 289 assentos. No governo atual de Macron, a aliança tem apenas 250 lugares e por isso precisava do apoio de outros partidos para aprovar leis.

Se um candidato obtiver a maioria dos votos no primeiro turno, com uma taxa de participação popular de 25%, ganha a eleição. Historicamente, o pleito quase sempre vai para o domingo seguinte. Só os candidatos que obtiveram mais de 12,5% dos votos dos eleitores registrados podem concorrer no segundo turno, o que significa que esta é frequentemente disputada entre dois candidatos, mas podem haver haver embates com três ou quatro nomes até.Nesta fase, alguns candidatos podem desistir para dar aos aliados uma melhor chance de vitória.

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