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Elefantes do Quênia agora são ameaçados por cultivo de abacate

Os elefantes sobreviveram aos caçadores furtivos, aos ataques com lança e à seca, mas a demanda crescente de abacate ameaça seu reino

Um grupo de elefantes caminha pelas margens de um dos lagos do Parque Nacional Amboseli, no Quênia: ameaça ambiental com plantio de abacates (AFP/AFP)

Um grupo de elefantes caminha pelas margens de um dos lagos do Parque Nacional Amboseli, no Quênia: ameaça ambiental com plantio de abacates (AFP/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2021 às 16h06.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 16h23.

O amanhecer aponta no horizonte quando aparece a silhueta gigante de Tolstoi, um elefante cujas presas quase alcançam o chão e que vive há quase 50 anos no Parque Nacional de Amboseli, no sopé do Kilimanjaro, agora ameaçado pelos cultivos de abacate.

Tolstoi sobreviveu aos caçadores furtivos, aos ataques com lança e à seca, mas a demanda crescente de abacate ameaça seu reino.

Um terreno de 180 acres (73 hectares) localizado perto do famoso parque nacional queniano de Amboseli, santuário de inúmeras espécies de animais selvagens, está no centro de uma batalha jurídica.

Seus detratores — proprietários locais e grupos de proteção da natureza — alegam que esta plantação dificulta a circulação dos elefantes e vai contra o uso histórico dessas terras.

Já seus investidores a defendem. Para eles, a plantação não ameaça a fauna e cria empregos indispensáveis em terras não exploradas.

Grande produtor de abacate, o Quênia viu suas exportações aumentarem exponencialmente com a moda deste "superalimento" transformado em item obrigatório dos cardápios de cafés e restaurantes "hipster" do mundo todo.

Ouro verde

Sexto fornecedor da Europa, as exportações de abacate do Quênia cresceram 33% até alcançar 127 milhões de dólares em outubro de 2020, segundo a Associação de Exportadores de Produtos Frescos do país.

Durante este ano excepcional, a empresa queniana KiliAvo Fresh Ltd obteve a autorização da Autoridade Nacional de Gestão do Meio Ambiente (Nema) para instalar sua plantação em terras compradas de proprietários maasai.

Homens maasai levando cabras para um mercado de gado para vendê-las em Kimana, Quênia (AFP/AFP)

A vegetação do terreno, que foi cercado, está destruída. O local foi equipado com painéis solares, um viveiro e perfurações para explorar os lençóis freáticos.

Preocupados, os proprietários vizinhos e grupos de proteção da natureza defendem que a agricultura em grande escala está proibida neste lugar, devido aos planos para o uso dos solos na região.

Em setembro, devido à pressão, a Nema ordenou a KiliAvo que suspendesse suas atividades, enquanto analisa o caso. A empresa contestou esta decisão no tribunal ambiental do Quênia, onde o caso está sendo investigado.

Enquanto isso, as colheitas continuam. Em uma manhã do início de março, havia tratores trabalhando na terra vermelha, e os trabalhadores agrícolas regavam fileiras de jovens abacates.

Coabitação impossível?

Embora próspero, o cultivo de abacate no Quênia é muito menos importante do que o turismo, que em 2019 gerou 1,6 bilhão de dólares.
Nesse sentido, o diretor da produção e acionista da KiliAvo, Jeremiah Shuaka Saalash, garante que a plantação salvou muitos trabalhadores do setor turístico, que ficaram desempregados pela covid-19.

Vista geral do Kilimanjaro nevado ao amanhecer no santuário de Kimana, em Kimana, Quênia (AFP/AFP)

"Defendo a ideia de que é possível coexistir com a fauna e ter outra fonte de renda", explica este maasai nascido na região, enquanto destaca que ali perto há uma plantação de frutas e verduras muito maior.

Os proprietários vizinhos e especialistas da fauna são categóricos: os dois não podem coabitar.

Um cultivo que consome grandes quantidades de água como o de abacates coloca em risco o ecossistema classificado como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que já enfrenta a seca com frequência.

"Vocês imaginam que os elefantes de Amboseli morrem de fome para que os europeus possam comer abacate?", critica Paula Kahumbu, que dirige a ONG Wildlife Direct.

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