gípcios reunidos na Praça Tahir rezam durante manifestação pela liberdade (Mahmud Hams/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2011 às 12h26.
Cairo - Os islamitas, fortalecidos com os avanços eleitorais no mundo árabe se inspiram no modelo turco, mas para conseguirem o mesmo sucesso, precisam priorizar os desafios econômicos em seus países afetados pelo desemprego e pela pobreza, dizem analistas.
"Eles observam a Turquia como modelo, pois o sucesso da AKP melhorou muito a vida dos turcos", afirmou à AFP Shadi Hamid, diretor de pesquisas do Centro Brookings de Doha.
A AKP, Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder na Turquia, é ponto de apoio do movimento islamita, "mas isso não está ligado ao islã e sim à economia", acrescentou.
O partido islamita Ennahda, vencedor nas eleições legislativas na Tunísia, afirma abertamente que segue o modelo turco. O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, até visitou em outubro os países da "Primavera Árabe", principalmente o Cairo e Tunis, onde se reuniu com o chefe do Ennahda, Rached Ghannouchi, e a Irmandade Muçulmana no Egito.
Na capital tunisiana, afirmou que o "islã e a democracia não estão em contradição" e que "um muçulmano pode governar um Estado com muito sucesso".
Sucesso este que os movimentos islâmicos, orgulhosos das recentes vitórias eleitorais, querem reeeditar, mesmo se ainda divergências sobre o modelo político turco, fortemente baseado na laicidade, persistem.
"O AKP se tornou uma espécie de guia para os partidos islâmicos", ressalta Abdel Bari Atwane, redator chefe do jornal Al Qods el Arabi.
"Eles querem imitar este modelo depois de verem como o partido transformou a Turquia na 17ª economia mundial, com taxas de crescimento que dão inveja à Europa em crise", acrescentou.
Segundo os analistas, a economia será o critério de julgamento dos islamitas marroquinos, tunisianos e egípcios, quando colocarem em marcha seus governos.
"Eles ganharam porque ficaram o tempo todo ao lado dos pobres" graças as grandes redes de caridade, além disso "a economia se tornou uma das prioridades", explicou Atwane.
Os observadores estão de acordo em afirmar que a "onda islamita" na região dá certo, sobretudo porque os outros partidos, principalmente os liberais, não apresentaram um verdadeiro programa para enfrentar os islamitas, muito bem organizados.
Após décadas de marginalização e repressão dos regimes laicos, mas ditatoriais, o "islã político é uma passagem necessária até que os outros partidos se organizem", afirmou Khattar Abou Diab, cientista político na universidade Paris-Sul.
"Veremos então se o islã é verdadeiramente a 'solução'", acrescentou em referência ao slogan adotado por algumas correntes islâmicas.
As revoltas árabes aconteceram porque as populações começaram a exigir mais liberdade, mais justiça social e melhores perspectivas econômicas.
Os analistas acreditam ser necessário dar uma chance para este islamitas que nunca governaram, apesar dos temores que eles geram nos laicos e países ocidentais.
"A democracia é as urnas, e se o povo escolher os islâmicos, que seja feito assim", disse Atwane. "Eles nunca estiveram no poder, então porque não experimentar?", acrescentou.
"O Ocidente não tem muito escolha: se as eleições livres levarem ao poder os islamitas, é muito simples, todos terão que respeitar este resultado democrático", afirma Hamid.
O partido Ennahda já se comprometeu em respeitar os direitos dos tunisianos e a promover o turismo. No Egito, o chefe da Irmandade Muçulmana já anunciou a ambição de seu movimento de atrair 50 milhões de turistas por ano para o país.
"No Marrocos, na Tunísia e no Egito, onde o turismo representa uma entrada importante de capital, estes movimentos não podem jogar a carteira de identidade islamita em detrimento da economia", assinala Diab.