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Duas semanas após terremoto, crise nuclear tem novos problemas

Governo japonês encontrou água no interior de um dos reatores com 10 mil vezes mais radioatividade que o normal

O reator 3 da Usina Nuclear de Fukushima desperta os maiores temores (AFP)
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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2011 às 13h01.

Tóquio - Duas semanas depois do terremoto que devastou o nordeste do Japão e deixou mais de 10 mil mortos e quase 17,5 mil desaparecidos, o complexo atômico de Fukushima continua sendo o epicentro de uma crise nuclear que nesta sexta-feira teve novos sobressaltos.

O terremoto de magnitude 9 na escala Richter e posterior tsunami danificaram o sistema de refrigeração da central de Fukushima Daiichi, onde desde então operários, militares e bombeiros trabalham dia e noite para conter o perigoso superaquecimento dos seis reatores de água em ebulição.

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A unidade 3, considerada a mais perigosa - porque além de urânio, contém plutônio -, suscitou temores nesta sexta-feira ao detectar-se água com elevado nível de radiação, 10 mil vezes superior ao da água no interior de um reator em funcionamento.

A Agência de Segurança Nuclear do Japão admitiu nesta sexta-feira que a água poderia ter vazado do núcleo do reator devido a um possível dano na estrutura de contenção, nas válvulas ou nos encanamentos que o conectam às turbinas.

Um porta-voz desse organismo disse que é possível que o reator esteja danificado, mas considerou prematuro fazer um julgamento. Segundo ele, os dados mostram que ainda há pressão em seu interior, o que indicam que mantém pelo menos em parte suas funções de contenção.

Nesta quinta-feira, dois operários tiveram de ser hospitalizados ao serem expostos a elevados níveis de radiação quando trabalhavam no depósito de turbinas da unidade 3 com os pés cobertos por esse líquido.

Nas análises posteriores, confirmou-se que a água tinha uma concentração de 3,9 milhões de becquerel de material radioativo por centímetro cúbico.

Segundo a agência de notícias local "Kyodo", nesta sexta-feira detectou-se água também altamente radioativa nos edifícios de turbinas das unidades 1 e 2 da usina nuclear, que estava há quatro décadas ativa quando ocorreu o desastre.

As elevadas radiações se apresentam como o principal obstáculo para os trabalhos dos operários, 17 dos quais já se viram expostos a níveis que superam o limite normal de 100 milisievert estabelecido para situações de emergência.

Para o caso concreto de Fukushima, em vista da gravidade da situação, o limite se estabeleceu em 250 milisievert.

A longa crise na usina nuclear deixou em segundo plano boa parte da tragédia humana causada há duas semanas pelo tremor, o maior na história do Japão, e o forte tsunami que ocorreu em sequência.

Pelo menos 10.066 pessoas morreram e outras 17.452 estão desaparecidas, segundo a última apuração da Polícia, enquanto cerca de 250 mil desalojados e desabrigados vivem em 1,9 mil abrigos temporários.

Há pelo menos 18 mil casas destruídas e mais de 130 mil edifícios danificados, sobretudo nas zonas litorâneas do nordeste japonês, e as estimativas iniciais falam de danos em casas e estradas estimados entre 16 trilhões e 25 trilhões de ienes (R$ 326,4 milhões e R$ 510,1 milhões, respectivamente).

Uma parte da população evacuada teve de abandonar suas casas devido ao perigo da radiação, que fez soar os alarmes em um raio de 20 quilômetros em torno da usina nuclear, quando a zona ainda se recuperava dos efeitos do terremoto.

Nesta sexta-feira, o ministro porta-voz, Yukio Edano, disse que o perímetro de segurança para evacuação se mantém em 20 quilômetros de distância da usina, mas pediu os moradores que vivem entre 20 e 30 quilômetros a se deslocarem a outros lugares para melhor qualidade de vida, diante dos problemas para se fazer chegar alimentos, gasolina e outros produtos básicos.

Edano evitou comentar o risco da radiação nesse perímetro, apesar de residentes e municípios das zonas afetadas criticaram a "lenta resposta" do Governo perante a crise na central.

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