Plano de Trump para Israel e Palestina considera "solução dois Estados"
Três anos depois de anunciado, "acordo do século" propõe que Jerusalém siga com Israel, mas que sua porção oriental seja a capital do Estado Palestino
Gabriela Ruic
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 14h44.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 19h15.
São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou nesta terça-feira (28), o seu plano de paz para o Oriente Médio, mais especificamente para pacificar o conflito árabe-israelense. Autoridades palestinas, no entanto, não participaram do encontro, tampouco das negociações em torno do documento.
Veja os principais pontos do "acordo do século" proposto por Donald Trump, e que é de autoria do seu genro, Jared Kushner:
- Jerusalém Oriental será a capital do Estado Palestino;
- Jerusalém continuará indivisível e capital de Israel;
- Dobrar o tamanho do território ocupado pelos palestinos;
- Pacote de ajuda financeira de 50 bilhões de dólares.
O anúncio foi feito ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que foi oficialmente indiciado hoje por acusações de corrupção, e seu rival nas próximas eleições israelenses, Benny Gantz. Autoridades da Palestina não participaram do evento e não foram envolvidas na construção do documento.
De acordo com Trump, o acordo foi entregue a Netahyanu no último domingo (26). “Nosso plano tem 80 páginas e é o acordo mais detalhado já feito”, disse Trump, ainda de acordo com ele, seu plano é apoiado pelos partidos de Netanyahu e Gantz.
Para o presidente dos Estados Unidos, o plano “é uma visão que traz uma situação ‘ganha-ganha’ para os dois lados, uma 'solução dois Estados' realista” continuou Trump. Vale notar que a "solução dois Estados" defende a coexistência de Israel e um Estado palestino e é a estratégia defendida pela comunidade internacional desde 1947.
“Fiz muito por Israel”, se vangloriou o americano, “mudamos a embaixada de Tal Aviv para Jerusalém e reconhecemos as colinas de Golã como território israelense. Portanto, é razoável que eu faça muito para os palestinos ou não seria justo. Quero que esse acordo seja ótimo para eles. Hoje é uma oportunidade histórica para que conquistem a sua independência”.
Repercussão do anúncio
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, afirmou nesta que não aceitará ao plano de paz com Israel apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Rejeitamos este acordo desde o início. Nossa posição era correta quando nos negamos a esperar. Não cederemos", disse Abbas depois de uma reunião de urgência com lideranças de outros grupos palestinos em Ramala.
Abbas chamou o plano de Trump de "tapa do século", uma ironia com "acordo do século", termo usado pelo presidente americano para batizar a proposta.
"Trump e (Benjamin) Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) declararam o tapa do século, não o acordo. E nós vamos responder com tapas", afirmou Abbas, sem dar detalhes de como seria a resposta dos palestinos à proposta.
No pronunciamento, o líder da ANP disse que conversou com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e que os dois concordaram em se manter unidos contra o plano de Trump.
"Agora que escutamos essas bobagens, dizemos mil vezes não (ao acordo)", afirmou Abbas.
As lideranças palestinas já haviam adiantado que recusariam qualquer proposta apresentada pelos Estados Unidos. Para Abbas, o plano de Trump foi feito "de acordo com a política estabelecida por Israel".
"Nenhuma criança palestina, muçulmana ou cristã, irá aceitar tal coisa", frisou Abbas no discurso.
Nesta terça, em nota, o Hamas convocou uma "luta para acabar com o 'acordo do século' e os planos de acabar com a causa palestina", citando Abdel Rahman Zidan, membro do conselho legislativo palestino.
"É hora de usar todas as opções legais nas cortes internacionais e ativar os esforços diplomáticos no nível árabe e islâmico para acabar com a normalização". Além disso, pedem que seja anunciado o fim do Acordo de Oslo, que regula o relacionamento entre Israel e palestinos, e da cooperação de segurança com os israelenses.
A ONU, o Egito e a Jordânia adotaram uma posição de cautela diante do anúncio do plano.
Tanto as Nações Unidas quanto a Jordânia defenderam as fronteiras de 1967. Para a Jordânia, respeitar estas fronteiras é "a única via para uma paz global e duradoura".
Em nota, Egito pediu para israelenses e palestinos "uma análise atenta e profunda da visão americana para alcançar a paz e abrir canais de diálogo".
A União Europeia, por sua vez, reafirmou sua posição firme a favor de "uma solução negociada e viável aos dois Estados".
Bruxelas "vai estudar e avaliar as propostas avançadas", afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, em uma declaração feita em nome dos 28 países-membros, na qual pediu para "relançar os esforços dos quais temos necessidade urgente" em vista desta solução negociada.
Para a Alemanha, apenas uma solução "aceitável pelas duas partes" pode "conduzir a uma paz duradoura entre israelenses e palestinos", reagiu o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.
"Vamos estudar a proposta de forma intensiva e partiremos do princípio de que todos os parceiros vão fazer o mesmo", disse Maas em um comunicado.
Entre os aliados dos Estados Unidos, Londres era o mais positivo, classificando como uma "proposta séria" que "pode representar um avanço positivo".
Mais cedo, o premiê britânico, Boris Johnson, conversou com Trump sobre o plano. Downing Street informou que poderia ser "um avanço positivo".
Já a Rússia defendeu "negociações diretas" entre Israel e palestinos para chegar a um "compromisso mútuo aceitável".
Na Faixa de Gaza, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o chamado "Acordo do Século", antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentar o seu conteúdo.
Líderes de todas as facções palestinas e manifestantes percorreram as ruas da Cidade de Gaza e queimaram bandeiras israelenses e dos EUA, além de um boneco de Trump. Já na barreira divisória entre Israel e o território de Gaza houve confrontos isolados entre manifestantes e soldados israelenses perto de postos militares na Cisjordânia ocupada.
Amanhã, a Faixa de Gaza, que é governada de fato pelo Hamas e que está sob bloqueio israelense desde 2007, será palco de novas manifestações contra o acordo, convocadas pelos mesmos grupos que organizaram as de hoje.
Israel está em alerta diante da possibilidade de protestos, e o Exército do país aumentou nesta terça a presença no Vale do Jordão, uma região de fronteira com a Jordânia.