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Sobrancelha na régua, bitcoin, prisão em massa: as marcas de Bukele em El Salvador

Presidente disputa novo mandato neste domingo, 4, e é favorito para vencer

Nayib Bukele: presidente de El Salvador fez manobra para disputar novo mandato (Oscar Rivera/AFP)

Publicado em 3 de fevereiro de 2024 às 06h01.

Última atualização em 3 de fevereiro de 2024 às 12h39.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele não se importa que o considerem autoritário. No auge da popularidade, ele se descreve como um "ditador cool" que transformou e resgatou um país aterrorizado por gangues.

Com um apoio de 90% dos salvadorenhos, este publicitário de 42 anos, o presidente mais popular da América Latina segundo o Latinobarómetro 2023, tem quase certa sua reeleição na votação de domingo, 4.

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"El Salvador passou do país mais perigoso do mundo para o mais seguro da América Latina", disse o presidente, que garante que as gangues mataram pelo menos 120.000 pessoas desde o fim da guerra civil em 1992.

A seu pedido, o Congresso instaurou em março de 2022 um regime de exceção sob o qual mais de 75.000 supostos criminosos foram detidos. Depois, 7.000 foram libertados por serem inocentes.

Organismos de direitos humanos denunciam prisões arbitrárias, torturas e mortes na prisão. Em resposta, ele os acusa de defender criminosos.

Apesar das acusações e polêmicas, a taxa de homicídios caiu muito. Sua fama ultrapassou fronteiras e em outros países do continente algumas vozes pedem "um Bukele" para conter a criminalidade.

Acompanhado de militares e policiais, recorreu ao Congresso em fevereiro de 2020, dominado pela oposição, para pressionar por um empréstimo para a sua política de segurança.

No ano seguinte, obteve uma esmagadora maioria parlamentar, que lhe permitiu destituir o promotor e os juízes da Corte Suprema e, mais tarde, disputar a reeleição, proibida pela Constituição.

O culto a Bukele

Com os cabelos arrumados e barba cuidadosamente aparada, ele costuma vestir ternos ajustados, mas nunca usa gravata.

Em circunstâncias urgentes, Bukele reagiu com vigor: quando rumores indicaram que gangues matariam pessoas em resposta à repressão, ameaçou deixar os presos sem comida.

Popularizou a frase "o dinheiro é suficiente quando ninguém rouba", mas seus adversários lhe criticam que por não prestar contas a ninguém.

Antes mesmo de ser presidente construiu sua imagem nas redes sociais, nas quais costuma escrever em inglês. Faz importantes anúncios no X, na qual se autodenomina "Philosopher king" (rei filósofo) e faz piada de seus críticos.

"Um fenômeno de culto que se instalou no país", graças a seu maquinário midiático nas redes sociais, resume Óscar Picardo, diretor de pesquisas da Universidade Francisco Gavidia, à AFP.

Porém, ele não conseguiu uma adesão maciça dos salvadorenhos ao bitcoin, que Bukele introduziu como moeda legal em 2021, ao lado do dólar. Mais de 80% das pessoas do país não utilizam as moedas virtuais.

"Terrorista da classe"

O presidente nasceu em 24 de julho de 1981 em San Salvador. É filho de Armando Bukele, empresário de origem palestina.

Quando criança "estava sempre sorridente, nunca parecia preocupado", conta à AFP a arquiteta Marleny Carranza, que trabalhou nas empresas dos Bukele. "Era um estudante comum", assegurou Óscar Picardo, que foi seu professor no ensino médio. Desde então já mostrava seu estilo sarcástico. No anuário escolar se descreveu: "Class terrorist" (terrorista de classe).

Ele estudou direito na Universidad Centroamericana, mas não se formou. Foi trabalhar com o pai em uma agência de publicidade que atuava com comunicação política. Depois, também presidiu a filial da Yamaha no país.

Em 2011, se filiou ao FMLN, partido ligado à ex-guerrilha de esquerda. No ano seguinte, foi eleito prefeito de Nuevo Cuscatlán, cidade pequena arredores da capital, San Salvador. Em 2015, foi eleito prefeito da capital. No cargo, um de seus principais projetos foi a revitalização do centro da cidade, com ampliação de ruas, remoção de ambulantes e reforma de monumentos.

Ao fim de quatro anos, disputou a Presidência. Ele foi expulso do FMLN após uma desavença com uma vereadora e criou o Movimento Novas Ideias, que se posicionava como algo diferente da política tradicional. Bukele venceu no primeiro turno, com 53% dos votos, e colocou fim a 30 anos de bipartidarismo no país.

Novo mandato?

El Salvador não permite a reeleição presidencial. Para contornar isso, Bukele fez uma manobra: se afastou do cargo no fim do ano passado e conseguiu que o drible nas regras fosse validado pela Justiça.

Na campanha, ele diz que uma vitória dos rivais significará uma volta ao passado. "A oposição sera capaz de atingir seu verdadeiro plano, de libertar os membros das gangues", disse em um vídeo de campanha. Seus rivais negam as acusações e dizem apenas querer que os acusados tenham julgamentos justos e que inocentes não sejam presos.

Além da segurança, Bukele ainda precisa resolver problemas na economia. A pobreza atinge 29% da população, segundo dados da Cepal, e muitos salvadorenhos continuam emigrando para os Estados Unidos em busca de trabalho.

Com AFP.

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