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Distúrbios marcam novo protesto contra Maduro em Caracas

A bordo de blindados, homens da Guarda Nacional atiraram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes

Protestos na Venezuela: os protestos exigem eleições gerais para antecipar a saída de Maduro do poder, que até agora deixou 43 mortos e centenas de feridos e detidos (Carlos Barria/Reuters)

Protestos na Venezuela: os protestos exigem eleições gerais para antecipar a saída de Maduro do poder, que até agora deixou 43 mortos e centenas de feridos e detidos (Carlos Barria/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de maio de 2017 às 20h08.

Distúrbios foram registrados nesta quinta-feira no leste de Caracas, após confrontos de manifestantes e militares que os impediram de marchar até a sede do ministério do Interior e Justiça, no centro da cidade, comprovou uma equipe da AFP.

A bordo de blindados, homens da Guarda Nacional atiraram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes, que tinham chegado aos milhares até a principal autoestrada de Caracas de dois pontos.

Como é habitual desde que tiveram início os protestos contra o presidente Nicolás Maduro, em 1º de abril, um grupo de jovens encapuzados respondeu atirando pedras e bombas incendiárias nos militares.

Alguns bloquearam as cápsulas de gás com escudos de madeira e metal, protegendo-se com capacetes de moto e máscaras antigás.

"Valentes, valentes!", repetiam alguns manifestantes a estes chamados "escudeiros", enquanto avançavam para a linha de frente com os blindados.

Um jovem executava uma marcha bélica com um tambor. "O governo nos declarou guerra (...) e tenho que incentivar os guerreiros que estão aqui", disse à AFP Carlos Herrera, com o rosto coberto por uma máscara.

Os protestos exigem eleições gerais para antecipar a saída de Maduro do poder, que até agora deixou 43 mortos e centenas de feridos e detidos. Um cinegrafista de uma emissora digital de televisão foi atingido em uma perna por uma cápsula de gás lacrimogênio.

Também nesta quinta, o governo venezuelano impediu a viagem do líder opositor Henrique Capriles, que iria a Nova York denunciar no Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU a "repressão" aos protestos contra o presidente Nicolás Maduro, que já matou 43 pessoas.

"Não vou poder assistir à reunião com o Alto Comissariado dos Direitos Humanos. Estou fora da área de Migração, sem passaporte", relatou Capriles usando o aplicativo Periscope no aeroporto de Maiquetía, que atende a Caracas.

Em imagens difundidas pelo aplicativo de vídeo em streaming, Capriles é visto em um escritório de Migração do aeroporto alegando com os funcionários e escoltado por policiais. "Fui informado que meu passaporte foi cancelado", afirmou.

Capriles tinha previsto se reunir na sexta, em Nova York, com o Alto Comissário, Zeid Ra'ad Al Hussein, a quem, segundo declarações mais cedo, iria apresentar os casos dos mortos feridos, presos, repressão.

Zeid reagiu em uma mensagem no Twitter. "Espero que o confisco do passaporte não seja uma medida de represália porque se reuniria amanhã na ", escreveu.

Após sair do aeroporto, Capriles se preparava para aderir a uma marcha de opositores em repúdio ao que chamam uma "repressão brutal" contra os protestos que começaram há sete semanas e geraram batalhas campais entre manifestantes e forças de segurança.

"Quem somos? Venezuela! O que queremos? Liberdade!", gritavam os manifestantes que marcham de diferentes pontos da capital. Outras manifestações também seriam realizaram em cidades do interior.

Os protestos têm como caldo de cultura uma grave deterioração econômica e social no país petroleiro, com severa escassez de alimentos e remédios, a inflação mais alta do mundo - que chegaria a 720% este ano, segundo o FMI - e uma criminalidade nas alturas.

"Isto é resistência. Sabemos que vão nos reprimir, mas temos que sair para protestar, tem gente morrendo de fome e por falta de remédios", declarou à AFP um músico de 45 anos que se identificou como Napolenrique.

Em coletiva de imprensa conjunta com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em Washington, o americano, Donald Trump disse que a crise política e econômica na Venezuela é uma vergonha para a humanidade.

"A gente vê a riqueza desse país e se pergunta por que isso está acontecendo? Mas é que o país tem sido administrado incrivelmente mal por vários anos", disse Trump.

"Assassino Capriles!"

Embora a violência se intensifique, com distúrbios e saques em vários pontos do país, os opositores tentam chegar ao Ministério do Interior, no centro de Caracas, aonde nenhuma das marchas iniciadas em 1º de abril conseguiu chegar devido à repressão das forças de ordem.

"A resistência continua: vamos todos ao Ministério do Interior e Justiça em repúdio à opressão do regime", incentivou o vice-presidente do Parlamento de maioria opositora, Freddy Guevara.

O governo e a oposição se responsabilizam mutuamente da violência, enquanto a Procuradoria investiga as mortes, razões pelas quais apontaram grupos armados não identificados e imputou alguns civis, policiais e militares.

A oposição venezuelana responsabiliza diretamente o ministro Néstor Reverol, um proeminente general acusado de tráfico de drogas pelos Estados Unidos, de liderar a repressão.

O governo, por sua vez, acusa a oposição de terrorismo e de apelar à "insurgência armada" para depô-lo, destacando particularmente o chefe do Parlamento, Julio Borges, e Capriles.

"Por culpa dos bandos de terroristas de Julio Borges, de Henrique Capriles. Assassino Capriles, eu te digo", afirmou o presidente na noite de quarta-feira, após denunciar atos de violência que atribuiu à oposição.

"Confronto entre irmãos"

A tensão aumentou depois que Maduro se dispôs na quarta-feira enviar 2.600 militares ao estado de Táchira (na fronteira oeste com a Colômbia), onde desde a segunda-feira foram registrados saques e distúrbios.

Quinhentos já tinham chegado à região, mas ainda não há uma forte presença de efetivos nas ruas.

A convocação pelo governo de uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição esquentou ainda mais os ânimos da oposição, que acusa Maduro de buscam com isto evitar eleições gerais para se perpetuar no poder.

Setecentas pessoas foram detidas, das quais 159 continuam presas por ordem de tribunais militares, segundo a ONG Foro Penal, o que foi criticado por grupos de direitos humanos, governo e organismos internacionais.

"Começa a vislumbrar a tentação de um confronto entre irmãos. Rejeitamos a violência e a repressão desproporcional", manifestou o monsenhor Diego Padrón, presidente da Conferência Episcopal Venezuelana, à qual o governo acusa de agir como um partido político opositor.

A situação gerou forte preocupação internacional. O Conselho de Segurança da ONU abordou a crise nesta quarta-feira, enquanto os chanceleres da Organização de Estados Americanos (OEA) o farão em 31 de maio.

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