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Dinâmica das massas de água na Antártica sofre mudanças

São Paulo - O gelo formado no Mar de Ross (localizado na Antártica) aumentou, mas foi  exportado para baixas latitudes - em direção ao Equador - durante os séculos XX e XXI. Segundo pesquisa desenvolvida no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, houve pequena modificação na dinâmica das massas de água da região Antártica, já que […]

Exportação de gelo na Antártica fez com que várias camadas de água se deslocassem (.)

Exportação de gelo na Antártica fez com que várias camadas de água se deslocassem (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h47.

São Paulo - O gelo formado no Mar de Ross (localizado na Antártica) aumentou, mas foi  exportado para baixas latitudes - em direção ao Equador - durante os séculos XX e XXI. Segundo pesquisa desenvolvida no Instituto Oceanográfico (IO) da USP, houve pequena modificação na dinâmica das massas de água da região Antártica, já que o aumento na formação e exportação do gelo para longe do continente fez com que várias camadas de água do oceano austral, que circunda o continente Antártico, se deslocassem.
Exportação de gelo na Antártica fez com que várias camadas de água se deslocassem

Por meio de um modelo numérico desenvolvido pelo National Center for Atmospheric Research (NCAR), dos Estados Unidos, o oceanógrafo Marcos Tonelli comparou dados relativos à salinidade, temperatura e pressão, entre outros, para analisar se houve variação nas águas profundas do oceano austral durante os séculos XX e XXI. "A água da plataforma de gelo que optei por estudar é uma das mais importantes do globo, pois 'ventila' o oceano profundo e participa do sistema de distribuição de calor dos trópicos para os pólos. É difícil conseguir dados da Antártica, ainda mais em grandes profundidades e embaixo do gelo. Por isso, usamos informações coletadas por pesquisadores do mundo inteiro para desenvolver a pesquisa", afirma.

O interesse inicial do estudo era buscar os possíveis efeitos do aquecimento global nos oceanos. Há um sistema de circulação global - chamado de circulação termohalina global - em que diversas massas de água atuam juntas para transportar calor dos trópicos para os pólos controlando o clima do planeta. Segundo Tonelli, "uma parcela importante desse sistema de circulação acontece na Antártica, onde se formam algumas das massas de água mais densas do oceano. O estudo concentra-se nesse ponto: se houve ou não variações nas camadas mais profundas do oceano austral durante esse período", explica o pesquisador.

Foi verificado no estudo que houve diminuição da camada de gelo nas bordas da Antártica. Segundo Tonelli, "não podemos associar essa diminuição diretamente ao aquecimento global, mas é provável que modificações nos processos atmosféricos possam refletir nas transformações, por menores que sejam, na dinâmica das massas de água na região, uma vez que a interação ar-gelo-mar é um mecanismo-chave para a formação de massas de água nos pólos."

Modificações na dinâmica
Tal qual um organismo, o sistema de massas de água funciona em uma dinâmica: se um dos elementos sofre modificação é bastante provável que todos os outros elementos do sistema tenham reflexos e se transformem de alguma forma. No caso dessa massa de água da Antártica, a camada que já era profunda sofreu modificações, ficou mais densa e passou a ocupar uma parte mais inferior do oceano.

"Para exemplificar o que aconteceu é como se imaginássemos um aquário: se tirarmos uma parcela de água de um lugar não aparecerá um buraco, mas a água que estava em volta ocupará aquele espaço. Então quando falamos que a água se tornou mais profunda, é por que outra ‘água’ ocupou seu lugar. O que podemos observar nesse sentido é que a dinâmica local - todo o sistema de massas de água que atua na região - pode ficar um pouco alterada", descreve Tonelli.

Apesar de ter havido modificações na dinâmica das massas de água, o pesquisador afirma que não são suficientes para que o sistema entre em colapso. "A transformação foi pequena e não pode ser considerada drástica. Não existe a possibilidade desse sistema de transporte de calor pelos oceanos parar a curto prazo. O que observamos é que, realmente, vem ocorrendo mudanças desde o início do século XX, que podem ou não ser reflexo do aquecimento global, por exemplo, mas por enquanto não é nada que preocupe a sociedade em um futuro próximo", afirma Tonelli.

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Oceanografia Física, Clima e Criosfera, coordenado pela professora Ilana Wainer, do IO. O estudo contou com apoio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que é uma iniciativa do governo federal para incentivar estudos na Antártica.

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