Mundo

Dilma deve preservar crescimento, mas com equilíbrio

A presidente eleita Dilma Rousseff não deve conduzir o governo em piloto automático

A presidente eleita Dilma Rousseff comemora sua eleição (Marcello Casal/AGÊNCIA BRASIL)

A presidente eleita Dilma Rousseff comemora sua eleição (Marcello Casal/AGÊNCIA BRASIL)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2010 às 10h05.

São Paulo - Manter o país em crescimento com maior equilíbrio fiscal será o principal desafio econômico da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), na avaliação de analistas de mercado.

Grande parte da popularidade recorde do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é atribuída à ascensão social de milhões de brasileiros à classe média. Por isso, Dilma deve manter as principais políticas do atual governo, com as quais obteve mais de 50 milhões de votos neste domingo.

"Não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento", disse a presidente eleita em seu primeiro pronunciamento após a vitória.

"Por isso, tornam-se importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado... Recusamos as visões de ajuste que recaem sobre programas sociais, serviços essenciais à população e necessários investimentos", acrescentou.

Para o diretor da consultoria LCA, Luiz Guilherme Piva "qualquer tentativa --que eu acho que não vai existir-- que sacrifique crescimento e distribuição de renda seria muito mais perigosa para o governo e para a estabilidade do mercado do que uma barbeiragem em alguma variável econômica".

Entretanto, a ex-ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não deve conduzir o governo em piloto automático.

"O mercado gostaria de ver uma mudança na política fiscal, com certeza", avalia o chefe de pesquisa para mercados emergentes nas Américas da Nomura Securities, Tony Volpon.

Uma das críticas mais recorrentes ao último ano do governo Lula é a busca da meta de superávit primário com o uso de artifícios como a capitalização da Petrobras.

Em setembro, o país registrou superávit primário de 2,96 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 12 meses, abaixo da meta de 3,3 por cento.

A adoção de uma política fiscal mais austera diminuiria a dívida pública --atualmente acima de 40 por cento do PIB-- e, segundo Volpon, contribuiria para uma taxa menor de juros reais, na medida em que haveria menor pressão inflacionária.

Ainda assim, ele não vê a necessidade de cortes nominais ns gastos, e sim de uma desaceleração do crescimento das despesas. "O Brasil não enfrenta a situação da Grécia, da Inglaterra."

O economista-chefe do Banco Safra de Investimento, Cristiano Oliveira, tem visão semelhante.

"Quem fosse o presidente da República teria que ter algumas obsessões para o desenvolvimento do país. A primeira é apresentar um programa de expansão do PIB potencial do país, com a questão da infraestrutura. A segunda é otimizar a interação entre a política fiscal e monetária."


Para o economista, um dos primeiros sinais do governo por uma política fiscal mais restritiva seria a manutenção do atual reajuste do salário mínimo, fixado em 538,15 reais na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) --sem aumento em termos reais.

O valor obedece ao acordo entre o governo e sindicatos pelo qual o mínimo é reajustado com base no crescimento do PIB de dois anos antes. Em 2009, a economia ficou estagnada.

BNDES e Câmbio
Há outros focos de preocupação para a presidente eleita, na avaliação do mercado. A dependência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o crédito de longo prazo e os investimentos de infraestrutura, na avaliação de Volpon, da Nomura Securities, é um dos principais deles.

"Claramente o BNDES já está ficando muito grande, e se crescer mais até pode criar um risco sistêmico para a economia", disse Volpon, que ponderou haver indicações de que uma mudança de rumo deve ocorrer em breve.

Na sexta-feira, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, cotado para o Ministério da Fazenda do governo Dilma, disse à Reuters que o governo já deve reduzir a ajuda na formação de conglomerados nacionais em setores estratégicos.

O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, pediu atenção também para a trajetória da inflação, atualmente acima do centro da meta do governo de 4,5 por cento ao ano, e para a questão cambial, que pressiona exportadores. "Não tem nada de descontrole ainda. Mas o câmbio está complicado", afirmou.

O dólar tem sido cotado em torno de 1,70 real nas últimas semanas, perto das mínimas desde antes da crise financeira global deflagrada em 2008. O governo tem tomado diversas medidas para frear a queda da moeda norte-americana, como o aumento do imposto sobre a entrada de investimentos estrangeiros para renda fixa.

Para Oliveira, do Safra, a saída de longo prazo poderia ser "uma política de apoio à indústria e ao agronegócio nacional."

Por último, o governo de Dilma continua com desafios estruturais de difícil resolução, como a reforma tributária, esboçada no início do governo Lula. Para Petrassi, da Leme, "isso pode vir mais pra frente. (Ou) talvez só indicacao de que venha."

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffEleiçõesEleições 2010Governo DilmaPartidos políticosPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Mundo

Corte Constitucional de Moçambique confirma vitória do partido governista nas eleições

Terremoto de magnitude 6,1 sacode leste de Cuba

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA