O presidente Sergio Mattarella iniciou na terça-feira uma segunda rodada de consultas com a classe política, que deve terminar nesta quarta-feira (Alessandro Bianchi/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de agosto de 2019 às 08h06.
Última atualização em 28 de agosto de 2019 às 09h04.
A Itália se prepara para um dia decisivo nesta quarta-feira com um possível acordo entre o Movimento Cinco Estrelas (M5S) e o Partido Democrata (PD) para a formação de um novo governo ou a convocação de eleições pelo presidente Sergio Matarella.
Após negociações durante a noite, cancelamentos, discussões e reconciliações, o MS5 (antissistema) e o PD, maior partido de esquerda, têm uma reunião programada para discutir um programa comum e a divisão de ministério.
"Trabalhamos no conteúdo do programa", afirmou o líder do PD na Câmara dos Deputados, Graziano Delrio.
Mas o M5S anunciou que qualquer acordo de coalizão com o PD deve ser aprovado pela plataforma de internet de "democracia representativa" do movimento, chamada "Rousseau".
"O M5S só apoiará o projeto se a votação for positiva", afirmou o líder do movimento e atual vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio.
"Rousseau", administrada pela empresa de marketing Casaleggio (nome de um dos fundadores do M5S) e alvo de críticas, tem 100.000 registrados, supostamente representados em milhões de eleitores (10,7 milhões nas legislativas de 2018).
A condição do M5S é "grave para as instituições", lamentaram fontes do Partido Democrata, mas o líder do PD no Senado, Andrea Marcucci, minimizou o cenário: "Todos têm seus procedimentos".
Há três semanas a Itália vive uma crise inédita, primeiro pela decisão de Matteo Salvini, líder da Liga (extrema-direita), de romper em 8 de agosto a coalizão de governo que formava com o M5S.
Depois, em 20 de agosto, aconteceu a renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, que acusou Salvini de "priorizar seus interesses eleitorais" (ele tinha intenções de voto de 36/38%, que agora caíram para 31/33%), ao invés dos interesses do país.
O presidente Mattarella iniciou na terça-feira uma segunda rodada de consultas com a classe política, que deve terminar nesta quarta-feira.
A ideia de uma aliança entre PD e M5S foi apresentada pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi (fevereiro 2013-dezembro 2016) com os objetivos básicos de reduzir o número de parlamentares e estabelecer um orçamento de 2020 capaz de evitar o aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), muito prejudicial para os consumidores.
Desde então, o projeto cresceu e passou a incluir propostas dos dois lados para estimular o apático crescimento econômico italiano com uma atenção especial aos desfavorecidos e ao meio ambiente, assim como com medidas de austeridade no Parlamento.
A grande discussão agora fica por conta da divisão de ministérios.
O PD retirou o veto à permanência de Giuseppe Conte como primeiro-ministro, mas sem uma declaração oficial. O M5S pressionou na terça-feira para obter um "ok formal" à manutenção de Conte, que tem uma grande popularidade no país.
Contra todos os prognósticos, o presidente americano Donald Trump expressou apoio a Conte, que chamou de "homem de muito talento" e que "representou a Itália com força no G7".
Com sua forte bancada parlamentar (foi o movimento que recebeu mais votos, 32%, nas legislativas de 2018), o M5S quer um destaque nos ministérios.
Em contrapartida à aprovação do nome de Conte, segundo a imprensa, o PD teria solicitado ministério importantes, como Economia e Relações Exteriores.
Outro problema é o destino do atual vice-primeiro-ministro e líder do M5S, Luigi Di Maio, que ficou enfraquecido na crise.
O M5S desmentiu que Di Maio pediu para assumir o ministério do Interior, atualmente nas mãos de Matteo Salvini.
O PD quer um de seus dirigentes como vice-premier, por considerar que Conte, próximo ao M5S, como primeiro-ministro precisa estar acompanhado de um número dois do Partido Democrata.
Sem um acordo de "maioria sólida" para uma nova coalizão, o presidente Mattarella convocaria novas eleições legislativas para 10 de novembro.