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Desalojados por Itaipu, índios sofrem novo despejo no Paraguai

Pertencentes ao povo avá guarani, eles foram desalojados em setembro de 2016 por policiais em um "desdobramento de força absolutamente desproporcional"

Indígenas: principal reivindicação agora é recuperar as terras ancestrais (Lunae Parracho/Reuters)

Indígenas: principal reivindicação agora é recuperar as terras ancestrais (Lunae Parracho/Reuters)

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EFE

Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 10h46.

Assunção - Integrantes da comunidade indígena de Sauce, que em 1974 foram tirados de onde estavam para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, sofrem há quatro meses com um novo despejo.

Pertencentes ao povo avá guarani, eles foram desalojados em setembro de 2016 por policiais, agentes do Grupo Especial de Operações e funcionários do Instituto Paraguaio do Indígena (INDI), em um "desdobramento de força absolutamente desproporcional", de acordo com a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai.

"Foi muito violento. O próprio INDI, que deveria zelar pelos nossos direitos, fazia parte dos que desalojavam. Queimaram nossa escola e nosso templo, colocaram produto químico para destruir nossas casas, se apropriaram das nossas motos e roubaram nossos animais", contou à Agência Efe a professora da comunidade de Sauce Amanda Martínez, que está em Assunção, ao lado de outros membros da comunidade em busca de assessoria legal para a situação atual.

De acordo com o grupo, o empresário do ramo da soja Germán Hutz, sogro da irmã do vice-presidente do Paraguai, Juan Afara, e proprietário de fazendas no entorno de Sauce, seria o mentor do despejo, feito por meio de ordem judicial, mas nunca notificada aos nativos.

Segundo eles, o terreno onde a comunidade fica faz parte de suas terras ancestrais e, portanto, não pode haver despejo sem consulta prévia, livre e informada, conforme as leis paraguaias e os convênios internacionais, que também protegem o indígena do uso da força.

"As leis reconhecem que estamos aqui desde antes da existência do Paraguai como país, desde antes da existência de qualquer título de propriedade. Temos estudos antropológicos que provam que sempre vivemos na região, que lá temos nossos cemitérios, nossas vidas, nossa história", defendeu Cristóbal Martínez, líder da comunidade.

Hoje, a comunidade vive refugiada em uma floresta perto de Itaipu, onde não pode caçar, pescar ou colher. Além desta precariedade, eles recebem constantes pressões para deixar a área.

Cristóbal recordou como os engenheiros de Itaipu planejaram o rumo da hidrelétrica diretamente para as casas deles e contabilizaram 1.300 pessoas que tinham que ser removidas do lugar, porque o nível do Rio Paraná subiria por conta da construção da represa, e área podia ser inundada.

Os indígenas foram levados em caminhões para Yukyry, um lugar que não tinha água, mata, e para onde foram transferidos sem qualquer tipo de indenização.

"Todas as noites eles enchiam um caminhão e nos levavam. Alguns desciam pelo caminho. Depois do despejo, morreu muita gente. Adoeceram de leishmaniose (doença parasitária associada à desnutrição e deslocamentos populacionais), e alguns morreram também de tristeza", relatou o líder indígena, cuja família foi a última a sair de Sauce.

A comunidade foi se dispersando e migrando para vários lugares em busca de melhores condições de vida. Em 2015, decidiram retornar às terras ancestrais, onde ficaram até setembro do ano passado, quando foram surpreendidos com outro despejo "muito mais violento" do que o de 1974.

Apesar de o Estado paraguaio ter reconhecido em 2013 sua "dívida histórica com as comunidades indígenas avá guarani afetadas pela construção da hidrelétrica Itaipu", e ter declarado "procedentes as reivindicações por danos e prejuízos", os indígenas de Sauce nunca receberam qualquer reparação.

A principal reivindicação agora é recuperar as terras ancestrais para poder viver e transmitir às futuras gerações sua cultura que, conforme dizem, vai se perdendo a cada despejo.

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