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Deputados democratas pedem posição de governo dos EUA contra Bolsonaro

Congressistas mencionam a disseminação de informações falsas, falas de Bolsonaro sobre oposição e minorias e sobre a ditadura militar, entre outras coisas

Congresso dos EUA: carta foi encabeçada pelo democrata Ro Khanna, que representa a região do Vale do Silício, na Califórnia (Getty Images/Getty Images)

Congresso dos EUA: carta foi encabeçada pelo democrata Ro Khanna, que representa a região do Vale do Silício, na Califórnia (Getty Images/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de outubro de 2018 às 11h14.

Washington e Genebra - Em carta enviada nesta sexta-feira, 26, ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, um grupo de 18 parlamentares americanos do Partido Democrata pede que o governo se posicione de forma clara contra o que consideram "posições inaceitáveis" do candidato brasileiro à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).

No texto, os congressistas mencionam a disseminação de informações falsas, as falas de Bolsonaro sobre oposição e minorias e sobre a ditadura militar, o recente vídeo do filho do candidato a respeito do Supremo Tribunal Federal, entre outras coisas.

Para os congressistas, as ações de Bolsonaro estão em conflito com "eleições livres e justas" - eles destacam discurso do candidato do PSL contra opositores do PT. "Estamos profundamente preocupados com as ameaças crescentes à democracia, direitos humanos e o Estado de Direito no Brasil. O extremista de ultra-direita, Jair Bolsonaro, é o principal candidato na eleição presidencial e tem se beneficiado de uma campanha eleitoral marcada por violência política e um dilúvio de notícias falsas e desinformação", escrevem os parlamentares, para abrir a carta.

Os deputados afirmam que Bolsonaro "regularmente" elogia a ditadura militar, foi acusado de discurso de ódio contra minorias e que ele diz que não irá reconhecer o resultado das eleições se perder. "Pedimos que você deixe claro ao governo do Brasil que os Estados Unidos da América consideram essas posições inaceitáveis e que haverá graves consequências se Bolsonaro seguir adiante com as suas ameaças feitas na campanha", escrevem.

Os congressistas citam casos de violência política no País nas últimas semanas. "Mais de uma centena de casos de violência política foram reportados", afirmam. Eles apontam que o próprio Bolsonaro foi vítima de uma violência política, mencionando a facada que o candidato sofreu durante o período de campanha, e dizem condenar o ato.

"É arrepiante imaginar o que pode acontecer com comunidades que veem o crescimento da discriminação e ataques durante um potencial futuro governo Bolsonaro", escrevem os congressistas, em referência a negros, indígenas e à comunidade LGBT.

Os parlamentares que assinam a carta a Pompeo fazem parte bancada progressista do Congresso. Em julho, 29 parlamentares da bancada fizeram um documento no qual criticavam a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A carta a respeito de Bolsonaro foi encabeçada pelo democrata Ro Khanna, que representa a região do Vale do Silício, na Califórnia.

Diferente do que aconteceu no documento sobre Lula, a carta a respeito de Bolsonaro não tem a assinatura do senador Bernie Sanders, que foi pré-candidato à Presidência dos EUA em 2016, e um dos signatários da manifestação de julho. Apesar disso, Sanders fez discurso crítico a Bolsonaro em evento em Washington, no início do mês.

"Senhor secretário, como o senhor sabe, o Brasil emergiu de anos de uma ditadura brutal apenas no final dos anos 80", escrevem os congressistas, afirmando que "não é inconcebível que o Brasil retorne aos dias escuros de autoritarismo do seu passado recente".

"Dada a repercussão regional desse tipo de projeto, isso não é uma ameaça que nosso país pode levar levianamente. É sua incumbência, e de outros porta-vozes do governo, condenar toda violência política no Brasil e tomar uma posição forte frente a esse retrocesso, deixando lado que a cooperação com o Brasil depende da defesa dos direitos humanos básicos e valores democráticos por seus líderes", afirmam.

Os parlamentares citam ainda que o Facebook criou uma "sala de guerra" para analisar as informações falsas mas classificam a ação como "muito pouco". A carta menciona que Bolsonaro teria se beneficiado do disparo de mensagens em massa em "financiamento ilícito de campanha por agentes do setor privado".

Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo noticiou a compra por empresas de pacotes de disparos em larga escala de mensagens no Whastapp para disseminar material contra a campanha do PT. O caso foi levado pela campanha do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No mesmo dia, Bolsonaro disse não ter controle da atuação das empresas. Ao TSE, os advogados do candidato pedem o arquivamento da ação.

Republicanos também já enviaram carta a Pompeo

Esta não é a primeira carta que o secretário de Estado recebe, nos últimos dias, sobre eleição brasileira. No dia 19, o Departamento de Estado do governo Donald Trump foi provocado pelo deputado republicano Dana Rohrabacher, que citou o ataque à faca a Bolsonaro para pedir que os Estados Unidos fizessem "o que fosse possível" para assegurar eleições livres e justas no Brasil.

Questionado sobre a carta do republicano, um porta-voz do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado se limitou a dizer, nesta quarta-feira, que "os EUA condenam toda violência. Nós pedimos a todos os cidadãos que exerçam sua cidadania pacificamente. Apoiamos as eleições livres e justas e acreditamos que todas as sociedades democráticas têm o direito de conduzir suas eleições sem interferência externa", afirmou a fonte. "Estamos confiantes no processo democrático brasileiro e pretendemos continuar nossa parceria com o candidato que o povo brasileiro eleger como seu novo presidente", completou.

O governo americano tem tentado se manter distante da disputa eleitoral brasileira e a Casa Branca tem evitado comentários públicos sobre os candidatos. Na carta, Rohrabacher dizia ter recebido informações sobre a tentativa de países como Venezuela, Irã e do grupo Hezbollah de interferir nas eleições brasileiras. Ele demonstrava preocupação com a facada recebida por Bolsonaro.

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