Governo Trump: tempo é de desafio para o presidente americano (Eric Thayer/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de janeiro de 2019 às 22h22.
Os democratas assumirão na quinta-feira (3) o controle da Câmara dos Representantes com a promessa de desafiar o presidente, Donald Trump, em várias frentes, como as políticas migratórias, a saúde e o clima.
A nova Legislatura traz mudanças notáveis. Nunca houve tantas mulheres na Câmara Baixa americana, nem tantos parlamentares procedentes de minorias, e a ala à esquerda do Partido Democrata ganhou maior peso.
A composição da Câmara antecipa intensas lutas com Trump e o Senado, onde permanece a maioria republicana. A primeira prova desta nova convivência consistirá em encontrar um acordo para por fim à paralisação do governo federal ("shutdown").
Os democratas pretendem fazer um primeiro desafio a Donald Trump, aprovando imediatamente na Câmara medidas orçamentárias temporárias para desbloquear as administrações paralisadas desde 22 de dezembro.
O objetivo dos representantes é se apresentar como o partido "sensato" diante dos "caprichos" de Trump. O problema é que essas leis não incluem os 5 bilhões de dólares de financiamento para o muro que o presidente quer construir na fronteira com o México para lutar contra a imigração clandestina. E Trump afirma que, sem esse dinheiro, não vai promulgar nenhuma medida.
Esta primeira iniciativa democrata poderia, no entanto, fracassar rapidamente. Mas pode ser que as negociações com Trump deem lugar a um compromisso mais amplo que permita aos dois lados salvar as aparências como, por exemplo, a concessão de recursos para o muro em troca de um estatuto para os "Dreamers", os cidadãos estrangeiros que chegaram menores de idade aos Estados Unidos.
Uma espinhosa reforma migratória leva anos dividindo a política nos Estados Unidos, onde vivem cerca de 11 milhões de pessoas em situação irregular e em cuja fronteira sul afloram as tensões.
Com seu novo controle da Câmara, os democratas dirigirão comissões parlamentares com grandes poderes, entre eles o de iniciar investigações, ordenar o comparecimento de testemunhas e a apresentação de documentos.
Trump, que já se vê assediado pela investigação do procurador especial Robert Mueller, será provavelmente objeto de várias indagações sobre as suspeitas de conluio entre Moscou e sua equipe na campanha eleitoral de 2016, que ameaçam afetar seus dois últimos anos de mandato.
Os democratas também têm previsto exigir do presidente republicano que apresente por fim suas declarações de renda.
A divisão do Congresso, a presença de jovens parlamentares progressistas e anti-Trump e um clima político explosivos anteveem batalhas legislativas muito acaloradas.
Na Câmara, os democratas querem abordar em seguida a espinhosa questão da saúde, em um país sem cobertura universal. Já tinham transformado os ataques dos republicanos contra o sistema emblemático impulsionado por Barack Obama, "Obamacare", em uma questão central das eleições legislativas de novembro.
Em outra demonstração dos desacordos que mantêm com os republicanos, os democratas prometeram uma comissão especial para abordar a "crise climática".
Diante da ofensiva democrata, Trump poderá contar com sua ampla maioria no Senado, que facilitará a nomeação de seus candidatos em cargos-chave como os magistrados da poderosa Suprema Corte.
Além de todas essas ameaças para o presidente, o domínio democrata da Câmara de Representantes aumenta a possibilidade de um processo de destituição (ou "impeachment").
A influente líder dos democratas na Câmara, Nancy Pelosi, descartou essa ideia até o momento e assegurou que quer aguardar as conclusões das investigações sobre o esquema russo. Mas não está claro se os parlamentares recém-eleitos em um campo anti-Trump e que se apresentam como a "resistência" terão tanta paciência.
Por enquanto, qualquer tentativa de destituir o 45° presidente dos Estados Unidos tem poucas chances de sair adiante. Embora os democratas possam votar sua denúncia na Câmara, o Senado é o encarregado de julgar o presidente, e são necessários os votos de dois terços de seus membros para destituir o chefe de Estado.